Embora texto esteja em nome da bancada, líder na Câmara diz que não sabe quem o formulou; e deputados afirmam que iniciativa foi do ex-governador
Porto Velho, RO - Uma carta de apoio à indicação do ex-governador de São Paulo Marcio França (PSB) ao Ministério das Cidades gerou mal-estar entre os integrantes do partido. Embora o documento esteja em nome da bancada do PSB e o texto fale em "apoio integral", parlamentares do partido ouvidos pelo GLOBO disseram que não há consenso em torno dos nomes que a sigla deve oferecer para compor o futuro governo. O PSB já tem o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin.
O documento diz: os "integrantes da bancada do PSB, da legislatura atual (2019-2022), assim como os membros da próxima legislatura (2023-2026), viemos por meio deste declarar apoio integral, ratificando a decisão da executiva nacional do partido, à nomeação do governador e integrante do grupo Cidades na transição, Márcio Luiz França, para integrar o novo governo do presidente Lula, que se inicia em 01/01/2023, à frente do Ministério das Cidades", finaliza.
Ao fim, são listados os nomes dos deputados do PSB. A versão a que O GLOBO teve acesso contém sete assinaturas. Ao lado da rubrica do deputado Milton Coelho (PSB-PE) lê-se "assinatura retirada".
O líder do partido na Câmara, Bira do Pindaré (MA), a quem cabe responder pela bancada de deputados, não soube informar quem elaborou o texto em favor do ex-governador. Pindaré ponderou que a carta não é movimento "excludente" de uma ou outra liderança do partido e afirmou que é o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pode falar sobre ministros:
— A decisão final será do presidente Lula.
O documento em questão é datado de 23 de novembro. Naquele mesmo dia, Marcio França se reuniu com parlamentares da legenda para um almoço na Fundação João Mangabeira, instituição vinculada ao PSB, em Brasília. Deputados da sigla afirmam, na condição de anonimato, que a carta foi articulada pelo próprio França após esse encontro. Junto com o senador eleito pelo Maranhão Flavio Dino, França é um dos nomes favoritos para assumir ministério no futuro governo.
Membros do PSB lembram, no entanto, que não houve reunião da executiva nacional após o segundo turno da eleição e que o assunto não foi discutido formalmente pela sigla. Também não há encontro marcado. O presidente da legenda, Carlos Siqueira, está em férias fora do Brasil.
Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, França afirmou que a decisão foi uma indicação do núcleo da Executiva do partido. O grupo é formado por Siqueira, o prefeito de Recife João Campos, o governador do Espírito Santo Renato Casagrande, o ex-deputado Beto Albuquerque, o ex-governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg e Márcio França. A redação do texto, segundo a assessoria de França, foi feita por um assessor técnico do PSB. Já Executiva da legenda, também via assessoria, negou ser a autora do texto.
O GLOBO apurou que, diante do constrangimento gerado pelo episódio, aliados de França avaliam elaborar um outro texto para amainar insatisfações. Possivelmente, a nova versão será apresentada num jantar com a bancada eleita do PSB, marcado para hoje à noite.
O PSB vive uma disputa interna por espaço na Esplanada de Lula. O senador eleito pelo Maranhão, Flavio Dino, é considerado nome certo para ocupar o Ministério da Justiça. Outro quadro do partido, o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), é especulado para a pasta do Turismo.
Na avaliação de integrantes da legenda Marcio França trava uma concorrência velada com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), para assumir uma cadeira do primeiro escalão de Lula. França é próximo de Alckmin e foi um dos nomes que ajudou a aproximá-lo de Lula, em 2021. Também coube a ele abrir mão da disputa do governo de São Paulo em nome de Fernando Haddad (PT). França disputou o Senado e não se elegeu.
O nome de França vinha sendo lembrado para os ministérios da Indústria e Comércio e Ciência e Tecnologia. Nos bastidores, porém, ele vem se movimentando para ser o titular da pasta das Cidades, que tem mais capilaridade e visibilidade. O posto também é disputado pelo deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP). Assim como Boulos, o ex-governador integra o grupo de trabalho da transição voltada ao Ministério das Cidades.
Dentro dessa equação, pesa o fato de que o PSB perdeu mais da metade da bancada em 2022. A legenda de Alckmin elegeu 14 deputados, menos da metade dos 32 eleitos em 2018. Petistas questionam, reservadamente, se cabe a um partido aliado com 14 deputados ter três ou quatro ministério, levando em conta que já tem o cargo de vice-presidência.
Fonte: O GLOBO
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