Cotada para o campeonato, escola de Nilópolis vai contestar independência do Brasil na Avenida
Uma das escolas favoritas ao título do carnaval carioca, a Beija-Flor de Nilópolis vai levar para a Marquês de Sapucaí uma crítica aos militares na segunda-feira de carnaval.
“Desfila o chumbo da autocracia/ A demagogia em setembro a marchar”, diz o samba que será cantado na Avenida pelo intérprete Neguinho da Beija-Flor e pela funkeira Ludmilla.
O enredo da Beija-Flor, atual vice-campeã do carnaval carioca, é “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da independência”, que questiona o valor do 7 de Setembro e propõe passar a história do país a limpo de 1822 pra cá.
O ponto de maior confronto será o quarto carro alegórico, intitulado “O chumbo da autocracia”, em referência à parte da letra do samba que trata dos militares.
Em formato de tanque estilizado nas cores de prata e chumbo envelhecido, o carro trará duas grandes torres de vigilância e três dragões militarizados, que segundo o carnavalesco Alexandre Louzada, representam a opressão e o cerceamento de liberdades.
Em cima, desfilarão componentes fantasiados de “general autocrata”, “soldados mandados”, “vigilante do poder” e “vigias”.
“A ditadura civil-militar (1964-1985) é a face mais genuína deste estado de coisas. Suprimindo direitos e garantias individuais, reprimindo as dissidências e exercendo um brutal monitoramento dos cidadãos, configurou-se como um período de terrorismo de Estado”, diz trecho do material explicativo preparado pela escola e distribuído aos julgadores que analisarão cada detalhe do desfile.
O documento acrescenta: “Um regime de restrição da autonomia e de privação da liberdade. Eis o chumbo da autocracia desfilando nas ruas de Setembro a sua demagogia, um espetáculo bélico e mórbido. Os militares marcham e apresentam suas armas, vangloriando a si mesmos como heróis, enquanto o povo brasileiro assiste, lembrando que sempre esteve na mira destes canhões.”
O tom duro do discurso pode impressionar, mas nem sempre foi assim.
Na década de 1970, quando ainda tentava se firmar entre as escolas da elite do mundo do samba, a Beija-Flor se notabilizou justamente pelos enredos ufanistas de exaltação ao regime militar.
Em 1973, foi vice-campeã do Grupo de Acesso com o enredo “Educação para o desenvolvimento”, que homenageava o Mobral, programa de alfabetização do regime Médici.
Nos anos seguintes, os enredos foram "Brasil ano 2000" e “O grande decênio”, em celebração aos 10 anos do golpe militar, o mesmo que a escola condena agora na Avenida.
“O carnaval era uma forma de se vender uma imagem do regime militar. Médici foi o presidente que mais trabalhou a imagem do passado”, avalia o pesquisador de carnaval e professor de artes visuais Carlos Carvalho.
A postura rendeu à agremiação a alcunha de “Unidos da Arena”, em referência à legenda que dava sustentação política ao regime militar.
Louzada, porém, afirma que não há oportunismo político nessa drástica mudança de visão. “Tudo tem uma fase. É uma nova Beija-Flor, que se renova a cada ciclo que ela vive”, afirmou o carnavalesco.
De fato, não é a primeira vez que a escola do bicheiro Anísio Abraão David muda de posição sobre temas políticos.
Em 2003, no primeiro ano de Lula no poder, a escola de Nilópolis falou de fome e trouxe uma escultura enorme do petista na última alegoria – foi campeã.
Em 2018, quando o ex-presidente havia entrado em desgraça e o então juiz federal Sergio Moro vivia o auge da carreira, a mesma Beija-Flor trouxe um desfile com forte discurso anticorrupção para a Avenida.
Em um dos momentos que mais ficou marcado, uma alegoria que reproduzia a sede da Petrobras se transformava em uma favela para mostrar o impacto dos desvios bilionários na vida real da população mais carente.
Também foi campeã, o que prova que pelo menos os jurados se convenceram das constantes mudanças de discurso. Talvez o apelido mais apropriado para a Beija-Flor, hoje, fosse “Unidos do Centrão”.
O enredo da Beija-Flor, atual vice-campeã do carnaval carioca, é “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da independência”, que questiona o valor do 7 de Setembro e propõe passar a história do país a limpo de 1822 pra cá.
O ponto de maior confronto será o quarto carro alegórico, intitulado “O chumbo da autocracia”, em referência à parte da letra do samba que trata dos militares.
Em formato de tanque estilizado nas cores de prata e chumbo envelhecido, o carro trará duas grandes torres de vigilância e três dragões militarizados, que segundo o carnavalesco Alexandre Louzada, representam a opressão e o cerceamento de liberdades.
Em cima, desfilarão componentes fantasiados de “general autocrata”, “soldados mandados”, “vigilante do poder” e “vigias”.
“A ditadura civil-militar (1964-1985) é a face mais genuína deste estado de coisas. Suprimindo direitos e garantias individuais, reprimindo as dissidências e exercendo um brutal monitoramento dos cidadãos, configurou-se como um período de terrorismo de Estado”, diz trecho do material explicativo preparado pela escola e distribuído aos julgadores que analisarão cada detalhe do desfile.
O documento acrescenta: “Um regime de restrição da autonomia e de privação da liberdade. Eis o chumbo da autocracia desfilando nas ruas de Setembro a sua demagogia, um espetáculo bélico e mórbido. Os militares marcham e apresentam suas armas, vangloriando a si mesmos como heróis, enquanto o povo brasileiro assiste, lembrando que sempre esteve na mira destes canhões.”
O tom duro do discurso pode impressionar, mas nem sempre foi assim.
Na década de 1970, quando ainda tentava se firmar entre as escolas da elite do mundo do samba, a Beija-Flor se notabilizou justamente pelos enredos ufanistas de exaltação ao regime militar.
Em 1973, foi vice-campeã do Grupo de Acesso com o enredo “Educação para o desenvolvimento”, que homenageava o Mobral, programa de alfabetização do regime Médici.
Nos anos seguintes, os enredos foram "Brasil ano 2000" e “O grande decênio”, em celebração aos 10 anos do golpe militar, o mesmo que a escola condena agora na Avenida.
“O carnaval era uma forma de se vender uma imagem do regime militar. Médici foi o presidente que mais trabalhou a imagem do passado”, avalia o pesquisador de carnaval e professor de artes visuais Carlos Carvalho.
A postura rendeu à agremiação a alcunha de “Unidos da Arena”, em referência à legenda que dava sustentação política ao regime militar.
Louzada, porém, afirma que não há oportunismo político nessa drástica mudança de visão. “Tudo tem uma fase. É uma nova Beija-Flor, que se renova a cada ciclo que ela vive”, afirmou o carnavalesco.
De fato, não é a primeira vez que a escola do bicheiro Anísio Abraão David muda de posição sobre temas políticos.
Em 2003, no primeiro ano de Lula no poder, a escola de Nilópolis falou de fome e trouxe uma escultura enorme do petista na última alegoria – foi campeã.
Em 2018, quando o ex-presidente havia entrado em desgraça e o então juiz federal Sergio Moro vivia o auge da carreira, a mesma Beija-Flor trouxe um desfile com forte discurso anticorrupção para a Avenida.
Em um dos momentos que mais ficou marcado, uma alegoria que reproduzia a sede da Petrobras se transformava em uma favela para mostrar o impacto dos desvios bilionários na vida real da população mais carente.
Também foi campeã, o que prova que pelo menos os jurados se convenceram das constantes mudanças de discurso. Talvez o apelido mais apropriado para a Beija-Flor, hoje, fosse “Unidos do Centrão”.
Fonte: O GLOBO
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