Mais de 100 pessoas ficaram feridas durante a ação no território ocupado, que buscava prender dois procurados por Israel

Ao menos 11 palestinos morreram e mais de 100 ficaram feridos nesta quarta-feira durante uma operação das forças de segurança israelense no território ocupado da Cisjordânia. O incidente é o mais recente de uma espiral de violência na região, que piorou após o governo mais à direita da História de Israel tomar posse há dois meses.

De acordo com o jornal israelense Haaretz, as forças israelenses cercaram um prédio na cidade de Nablus onde dois palestinos foragidos, Hussam Aslim e Mohammed Abu Baker, se escondiam. Ambos supostamente integravam o grupo armado Toca dos Leões e eram acusados de envolvimento em ataques contra assentamentos israelenses e na morte e um soldado israelense em outubro.

O edifício, segundo o jornal, foi demolido com a dupla dentro, e seus corpos foram posteriormente identificados. Houve uma intensa troca de tiros subsequente, que, segundo o Ministério de Saúde palestino, deixou 102 feridos além dos 10 mortos.

Algumas das vítimas eram paramilitares, mas outros aparentavam ser civis: vídeos de câmeras de segurança na cena do confronto mostram ao menos duas pessoas desarmadas sendo mortas. Questionados, os militares israelenses afirmaram que avaliam as imagens.

Entre as vítimas estão Adnan Ba'ara, de 72 anos, e Mohammad Khaled Anbussi, de 25 anos. De acordo com a Cruz Vermelha, dezenas de pessoas receberam tratamento na cena do enfrentamento após inalarem gás lacrimogêneo.

Nas redes sociais, circula uma gravação de Aslim afirmando que "estamos em risco, mas não nos renderemos, não entregaremos nossas armas, morrerei como mártir". No vídeo, ele insta também outros integrantes do Toca dos Leões a seguirem com a luta armada.

O Hamas, movimento islâmico que controla a Faixa de Gaza, disse por meio do porta-voz de sua ala militar que "as forças de resistência (...) monitoram os crimes do inimigo e sua paciência está se esgotando". Neste ano, mais de 50 palestinos já foram mortos na Cisjordânia.

O Exército israelense realiza operações quase diárias no território palestino, principalmente no Norte, onde ficam Nablus e Jenin, redutos dos grupos armados palestinos. O início de 2023, contudo, é o mais letal na região em 15 anos, piora que coincidiu com o retorno do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao poder em dezembro após um interregno de um ano e meio. Netanyahu agora lidera a coalizão mais à direita e antiárabe da História israelense.

A deterioração das condições levanta temores de uma Terceira Intifada, nome pelo qual ficaram conhecidos os dois levantes palestinos, de 1987 a 1993 e de 2000 a 2005. As ondas de violência incluíram atentados com bombas e facas em Israel e resultaram na morte de mais de 5 mil palestinos e 1,4 mil israelenses.

Na semana passada, um menino palestino de 14 anos foi morto e outras duas pessoas ficaram feridas após disparos de forças israelenses em Jenin, que faziam uma operação para prender outro foragido. Desde o início do ano ao menos 11 israelenses foram mortos por palestinos, incluindo sete em um ataque a tiros no dia 27 de janeiro em Jerusalém Oriental.

Rreivindicada pelos palestinos como a capital do Estado que pleiteiam para si, Jerusalém Oriental foi ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando os israelenses tomaram também a Cisjordânia, as Colinas de Golã, a Faixa de Gaza e a Península do Sinai.

O Sinai foi devolvido ao Egito nos acordos de Camp David, de 1978, enquanto Gaza foi desocupada durante o governo de Ariel Sharon, em 2005. Já as Colinas de Golã foram anexadas por Israel em 1981.

Em resposta ao ataque de janeiro, o pior do tipo desde 2008, o governo de Netanyahu legalizou nove assentamentos na Cisjordânia, considerados ilegais pelo direito internacional. Os lançamentos de foguetes israelenses contra Gaza e a resposta com foguetes lançados do enclave também têm se tornado mais comuns.


Fonte: O GLOBO