Coordenador do Conselho Indigenista Missionário afirma que a posição do ex-governador surpreendeu os indígenas, que aguardam há anos pelos estudos de regularização de terras no estado
As cerca de 20 famílias indígenas que ocuparam no início deste mês a Fazenda Inho, em Rio Brilhante (MS), causaram um abalo na relação do PT com os movimentos sociais. O ex-governador e hoje deputado estadual Zeca do PT criticou a ação na fazenda, pertencente a José Raul das Neves Júnior, dirigente petista no município, em discurso na Assembleia Legislativa, no dia 9.
— Não contem comigo essa gente que, sem nenhuma razão, ocupa e invade propriedades produtivas, gerando insegurança jurídica e correndo riscos de consequência que a gente não tem dimensão do que possa acontecer — criticou o deputado, que chamou a ocupação indígena de “uma barbaridade”.
Coordenador do Conselho Indigenista Missionário no Mato Grosso do Sul, Matias Rempel afirma que a posição de Zeca do PT surpreendeu os indígenas, que aguardam há anos pelos estudos de regularização de terras no estado.
— Os indígenas estão magoados. Foi um golpe para eles e não condiz com a defesa dos povos indígenas e as promessas do PT Nacional. Há uma espécie de esquizofrenia no PT no Mato Grosso do Sul, ligada ao agronegócio — diz.
O proprietário da fazenda recorreu à Justiça para obter a reintegração de posse.
— São mais de 150 fazendas ocupadas por indígenas no estado. A questão é muito maior — ressalvou.
Os indígenas prometem permanecer na fazenda até receber ajuda do governo federal para um estudo destinado a demarcar o território indígena. Um dos líderes do movimento, o indígena Ava Poty Rendy afirma que as famílias são perseguidas no local há quase duas décadas.
— Falam que a gente é invasor, nossa vida está muito arriscada e perseguida por causa da terra. Perdemos todo nosso território e quando a gente fala em recuperar, parece que somos nós os criminosos, que fazemos coisas muito graves — diz o líder indígena.
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, esteve sábado no Mato Grosso do Sul, visitou a comunidade indígena e se reuniu com o governador Eduardo Riedel (PSDB). Uma solução discutida foi a a compra de terras com verba do Ministério do Planejamento e Orçamento.
Em 2010, os indígenas foram expulsos da área e passaram a viver às margens da BR-163. Retornaram em maio de 2011 e foram para uma área de mata, sem água potável nem energia elétrica. Em fevereiro de 2022, voltaram a ocupar parte da fazenda, mas foram retirados no mesmo dia pela Polícia Militar. Três indígenas foram feridos por balas de borracha.
Rempel diz que os indígenas decidiram voltar a ocupar a fazenda porque descobriram uma movimentação para incluir a área, de cerca de 400 hectares, num programa de assentamento rural. O programa seria destinado a empreendedores rurais que possam contratar financiamento para compra de terras.
Fonte: O GLOBO
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