Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE-BA) vai ingressar com uma representação junto aos ministérios públicos federal e estadual contra Sandro Fantinel

A Polícia Civil de Caxias do Sul instaurou um inquérito na manhã desta quarta-feira para apurar crime de racismo nas falas do vereador Sandro Fantinel (Patriota), que em discurso no plenário da Câmara Municipal da cidade disse que os baianos "vivem na praia, tocando tambor" e sugeriu que agricultores e empresas agrícolas contratem trabalhadores argentinos, e não mais "aquela gente lá de cima".

O inquérito foi instaurado na 1ª Delegacia de Polícia da cidade. O delegado responsável, Rafael Keller, disse que a investigação ainda está no início. Ainda pela manhã, ele pediu à Câmara Municipal acesso à íntegra das declarações. Segundo ele, a princípio, apura-se crime de racismo.

— (Crime de racismo) foi o registro inicial, mas pode mudar até o final do inquérito ou até ser incluído outro crime — afirmou o delegado ao GLOBO.

A Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE-BA) vai ingressar com uma representação junto aos ministérios públicos federal e estadual contra Fantine. De acordo com a gestão do governador Jerônimo Rodrigues, o órgão também pretende dar entrada em uma ação indenizatória de reparação por dano moral. A procuradoria foi acionada pelo governador da Bahia no mesmo dia da fala do parlamentar. Pelas redes sociais, Jerônimo repudiou as falas:

"É desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana. Determinei, portanto, a adoção de medidas cabíveis para que o vereador seja responsabilizado pela sua fala", disse Jerônimo no Twitter. "Enquanto eu for governador da Bahia, irei combater firmemente qualquer tentativa de explorar ou escravizar nosso povo", completou.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, chamou de "discurso xenófobo e nojento" as declarações do vereador contra o nordeste e disse que ele não representa o povo do Rio Grande do Sul.

"Vamos buscar autoridades do querido estado da Bahia para que nos visitem e acompanhem as atitudes que já estamos empreendendo e para nos aliarmos em outras ações conjuntas de nossos estados para banir o preconceito", escreveu em sua conta no Twitter.

'Fala um pouquinho infeliz'

Durante discurso no plenário da Câmara, o parlamentar disse que os baianos "vivem na praia, tocando tambor" e, por isso, "era normal que se fosse ter esse tipo de problema", em referência aos funcionários de vinícolas resgatados no Rio Grande do Sul em condições análogas à escravidão.

— Em nenhum lugar do estado, na agricultura, teve um problema com argentino ou com um grupo de argentinos. Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente — discursou.

Antes, o vereador recomendou que os empresários do setor agrícola contratassem argentinos, que, segundo ele, são "limpos" e "corretos":

— Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos. Porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam.

Em fala ao GLOBO na terça-feira à noite, o vereador de Caxias do Sul disse que foi "mal interpretado" e que deu as declarações "no calor da discussão".

— Fiz uma fala que foi um pouquinho infeliz. No calor da fala a gente diz coisas que depois se arrepende — afirmou o vereador. — Depois, no pequeno expediente, eu disse que eu jamais tenho alguma coisa contra os baianos, inclusive tenho amigos e primos que moram no nordeste, na parte mais norte do país. 

Não tenho absolutamente nada contra o povo baiano, citei (os baianos) porque estavam envolvidos no processo que está ocorrendo em Bento Gonçalves — afirmou o vereador, acrescentando que adora "as praias de lá", da Bahia, e que o "povo de lá é muito querido".

O parlamentar negou que tenha chamado os baianos de sujos, mas que estava se referindo à falta de limpeza em um alojamento que visitou em sua cidade.


Fonte: O GLOBO