Casal real seguirá direto para a Alemanha na próxima sexta-feira
A França e o Reino Unido decidiram nesta sexta-feira adiar a visita do rei Charles III, inicialmente prevista para domingo, devido aos violentos protestos contra a impopular reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron. Segundo um porta-voz do Executivo britânico, a decisão foi tomada a pedido de Macron, depois que 457 pessoas foram presas e 441 policiais ficaram feridos na quinta-feira.
— Propusemos que no início do verão [inverno no Brasil], consoante as nossas respectivas agendas, possamos marcar conjuntamente uma nova visita de Estado [do rei Charles III], explicou Macron a partir de Bruxelas, onde participa de uma cúpula com seus colegas da União Europeia (UE).
O monarca britânico, de 74 anos, e a rainha consorte Camilla, de 75, "aguardam com grande interesse a oportunidade de visitar a França assim que as datas forem encontradas", disse o Palácio de Buckingham, nesta sexta-feira, dois dias antes da partida prevista para Paris, que deveria ser a primeira visita de Estado do casal real desde que Charles III ascendeu ao trono, em setembro.
"A decisão foi tomada com o acordo de todas as partes, depois de o presidente francês ter pedido ao governo britânico o adiamento da visita", marcada para 26 e 28 de março, disse em Londres um porta-voz do primeiro-ministro, Rishi Sunak, que na véspera afirmou "não ter conhecimento de qualquer mudança de planos".
Silencioso até agora sobre o assunto, nos últimos dias Buckingham vinha acompanhando de perto a turbulenta situação na França, onde toneladas de lixo se acumulam nas ruas e um sindicato de ferroviários afirmava que a viagem do monarca britânico, cuidadosamente preparada durante meses, estava "na sua mira".
Segundo a imprensa britânica, a logística da viagem vinha sendo revisada há dias e se estudavam medidas para reduzir as interações do casal real com o público francês.
Na segunda-feira estava programado para o monarca participar de uma homenagem no Arco do Triunfo e de um jantar no Palácio de Versalhes, antes de viajar para Bordeaux na terça-feira. Contudo, a convocação de novos protestos contra a reforma da Previdência pelos sindicatos obrigou Londres e Paris a adiar a visita, ainda mais quando as últimas manifestações deixaram imagens de violência e distúrbios em todo o país.
A tensão atingiu um novo patamar na quinta-feira, com um incêndio no acesso à Câmara Municipal de Bordeaux (sudoeste), "cenas de caos" em Rennes (oeste), canhões de água em Lille (norte) e Toulouse (sul), e motins nas ruas de Paris, entre outros.
Carlos e Camila viajariam de Paris para Berlim no dia 29. Apesar da mudança de última hora, eles manterão a visita de Estado à Alemanha, marcada até 31 de março.
Sindicatos pedem ‘pausa’
Macron enfrenta forte oposição desde janeiro ao seu plano de adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e antecipar para 2027 a exigência de contribuir por 43 anos, em vez de 42, para receber uma pensão completa.
Depois de semanas de manifestações pacíficas a pedido dos sindicatos desde janeiro, os protestos se intensificaram em 16 de março, quando o presidente anunciou a decisão de aprovar sua reforma por decreto, temendo perder a votação no Parlamento.
Desde então, centenas de pessoas, em sua maioria jovens, caminharam pelas ruas de Paris e outras cidades à noite, queimando latas de lixo e pedaços de madeira em seu caminho, entrando em confrontos com a polícia em diversos momentos.
Uma entrevista de Macron na quarta-feira, na qual ele disse que "assumiu" a "impopularidade" de sua reforma e acusou a oposição, os sindicatos e os manifestantes radicais "sediciosos", acabou esquentando os ânimos.
Um total de 457 pessoas foram presas e 441 policiais ficaram feridos na quinta-feira, disse o ministro do Interior, Gérald Darmanin, que denunciou a "radicalização" de alguns manifestantes e acusou a "extrema esquerda".
Para evitar um "drama" e sair da crise social, Laurent Berger, o líder do CFDT, o principal sindicato da França, propôs nesta sexta-feira na rádio RTL a Macron "um tempo de escuta, diálogo e pausa na reforma previdenciária".
Berger pediu "seis meses para examinar como colocar as coisas de volta nos trilhos" no trabalho e nas pensões, citando, por exemplo, o emprego de trabalhadores mais velhos, "esgotamento no trabalho" ou "adaptações no final da carreira".
Macron sob pressão
O presidente francês até agora tem sido inflexível a qualquer mudança. Ele defende que a reforma, que pretende aplicar "até ao final do ano" após a eventual aprovação final do Conselho Constitucional, visa evitar um défice futuro no fundo de pensões.
Mas o presidente está sob pressão. Segundo analistas, Macron considera que será possível aplicar o restante de seu programa de reformas até 2027, e 70% dos franceses consideram o governo responsável pela violência, de acordo com uma pesquisa realizada na quinta-feira pela Odoxa.
À espera de uma solução para o conflito social, a oposição e os sindicatos mantêm o pulso. Nesta sexta-feira e no fim de semana haverá novamente cancelamento de trens e voos, enquanto continua a greve nas refinarias e na coleta de lixo em Paris.
Fonte: O GLOBO
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