Analistas dizem que visita representa apoio aberto ao Kremlin na Guerra na Ucrânia; EUA e Europa temem que Pequim envie armas para os russos
Porto Velho, RO - O presidente da China, Xi Jinping chegou em Moscou nesta segunda-feira, 20, para uma visita de três dias à Rússia, a primeira desde que o presidente russo Vladimir Putin invadiu a Ucrânia. Os dois líderes terão uma série de encontros que representam um impulso político da China para o isolado presidente russo, e a confirmação de uma aliança dos dois países para formar uma ‘ordem multipolar’.
O líder chinês, que serviços de inteligência ocidentais apontam como o grande parceiro militar do presidente russo, se encontrará com Putin, com quem dará uma entrevista à imprensa estatal russa. Ambos vão participar de um almoço na sequência.
Na terça-feira, 21, os dois líderes vão debater uma “parceria estratégica”, de acordo com o governo russo. Pequim afirma que a viagem é o primeiro passo na tentativa da China de liderar uma nova rodada de negociação de paz entre Rússia e Ucrânia.
Em um artigo publicado na edição desta segunda de um jornal estatal russo, Xi Jinping disse que sua proposta de paz servirá para “neutralizar as consequências do conflito e promover um acordo político”. Mas ele disse saber que não é uma tarefa fácil. “Problemas complexos não têm soluções simples”, afirmou.
O presidente da China, Xi Jinping, acompanhado do ministro Dmitri Chernishenko, chega ao aeroporto de Moscou para uma visita de três dias a Vladimir Putin Foto: Anatoliy Zhdanov / Kommersant Photo / AFP
Já Putin, que chamou Xi Jinping de “velho amigo”, disse que a visita do líder chinês confirma a parceria “especial” entre Rússia e China.
Xi e Putin declararam que tinham uma “amizade sem limites” antes da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, mas a China vem tentando se retratar como neutra desde o começo da guerra.
Pequim pediu um cessar-fogo no mês passado, mas Washington disse que os termos da proposta chinesa ratificariam os ganhos territoriais do Kremlin no campo de batalha.
Antes da reunião, o Ministério das Relações Exteriores da China pediu ao TPI que “respeite a imunidade jurisdicional” de um chefe de Estado e “evite a politização e padrões duplos”.
‘Amizade sem limites’
A China vê a Rússia como uma fonte de petróleo e gás para sua economia faminta por energia e como um parceiro na oposição ao que ambos veem como o domínio americano nos assuntos globais.
A reunião dá a Putin e Xi a chance de mostrar que são “parceiros poderosos” em um momento de relações tensas com Washington, disse Joseph Torigian, especialista em relações sino-russas da American University em Washington.
Imagem de arquivo mostra o presidente da China, Xi Jinping, se encontrando com o líder russo, Vladimir Putin, em uma reunião no Kremlin em junho de 2019 Foto: Alexander Zemlianichenko/AP
“A China pode sinalizar que poderia fazer ainda mais para ajudar a Rússia e que, se as relações com os Estados Unidos continuarem se deteriorando, eles poderiam fazer muito mais para capacitar a Rússia e ajudar a Rússia em sua guerra contra a Ucrânia”, disse Torigian.
As relações de Pequim com Washington, a Europa e seus vizinhos são tensas por disputas sobre tecnologia, segurança, direitos humanos e o tratamento do Partido Comunista a Hong Kong e as minorias muçulmanas.
Alguns comentaristas traçam um paralelo entre as reivindicações da Rússia sobre o território ucraniano e as reivindicações de Pequim sobre Taiwan. O Partido Comunista diz que a ilha autogovernada, que se separou da China em 1949 após uma guerra civil, faz parte do território da China e deve se unir ao continente, pela força, se necessário. O governo de Xi tem intensificado os esforços para intimidar a ilha, enviando caças às proximidades e disparando mísseis no mar.
A China intensificou as compras de petróleo e gás russos, ajudando a aumentar a receita do Kremlin diante das sanções ocidentais. Mas evitou qualquer sinal visível de apoio que cruzasse as linhas vermelhas estabelecidas por Washington e pelos governos europeus em relação a sanções financeiras e ao fornecimento de ajuda militar.
Soldados ucranianos disparam artilharia contra forças russas concentradas em Bakhmut: guerra de atrito ameaça se prolongar Foto: Daniel Berehulak/The New York Times
Putin ainda não comentou a ordem de prisão, mas o Kremlin rejeitou a medida como “ultrajante e inaceitável”.
Em uma demonstração de desafio, Putin visitou a Crimeia e a cidade portuária ucraniana ocupada de Mariupol para marcar o nono aniversário da tomada da península pela Rússia. Os noticiários russos o mostraram conversando com residentes de Mariupol e visitando uma escola de arte e um centro infantil em Sevastopol, na Crimeia.
O TPI deve “manter uma postura objetiva e imparcial, respeitar a imunidade jurisdicional de que goza o chefe de Estado” e “evitar a politização e a duplicidade de critérios”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.
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China diz querer ‘promover a paz’
“A China manterá sua posição objetiva e justa sobre a crise ucraniana e desempenhará um papel construtivo na promoção de negociações de paz”, disse Wang.
Xi disse em um artigo publicado na segunda-feira no jornal russo Russian Gazette que a China “promoveu ativamente negociações de paz”, mas não anunciou nenhuma iniciativa.
“Minha próxima visita à Rússia será uma jornada de amizade, cooperação e paz”, escreveu Xi, segundo texto divulgado pela agência oficial de notícias Xinhua.
“Uma maneira razoável de resolver a crise” pode ser encontrada se “todas as partes adotarem a visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável”, escreveu Xi.
A viagem segue o anúncio surpresa de um degelo diplomático entre o Irã e a Arábia Saudita após uma reunião em Pequim, um golpe de propaganda do governo de Xi.
Xi quer ser visto como um estadista global que está “desempenhando um papel construtivo” ao falar sobre a paz, mas é improvável que pressione Putin para acabar com a guerra, disse Torigian. Ele disse que Pequim se preocupa com possíveis perdas no campo de batalha da Rússia, mas não quer ser vista como “permitindo a agressão da Rússia”.
“Eles não gastarão capital político” para pressionar Moscou a fazer a paz, “especialmente se acharem que isso não lhes trará nada”, disse ele.
Fonte: Estadão
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