Olga Conceição Cruz tinha 98 anos e dedicou a vida ao culto às divindades congo-angola em casa de candomblé centenária

Adeptos do candomblé de todo o Brasil se despediram da matriarca de um dos terreiros mais antigos do país. Morreu, aos 98 anos, Olga Conceição Cruz, conhecida como Mãe Olga do Bate Folha ou Nengua Ganguacesse, que era sua dijina — nome iniciático utilizado pelos adeptos do candomblé de origem bantu (congo-angola). A matriarca do centenário Terreiro Bate Folha deixa o legado de quem levantou, por mais de 70 anos, a bandeira do candomblé. Ela foi sepultada nesta quarta-feira, no cemitério Jardim da Saudade, em Brotas. A causa da morte não foi divulgada.

Nengua Ganguacesse tinha 74 anos de iniciação na religião que conheceu aos 4. Na época, o Terreiro Bate Folha ainda era comandado por Manoel Bernardino da Paixão, Tat’etu Ampumandezu, fundador da comunidade. No entanto, ela foi iniciada anos depois, aos 24, quando Sr. Bernardino, como era conhecido, já havia falecido e deixado a direção da casa para Antônio José da Silva, Tat’etu Bandanguame, que ficou responsável pelo processo de feitura da menina.

Consagrada à divindade Kukuetu, mãe das águas salgadas — similar ao orixá Yemanjá, dos cultos de tradição yorubá —, Mãe Olga ocupou, após anos de vivência e dedicação ao terreiro, o lugar de “Nengua” ou “Mam’etu” (mãe de santo), título que a tornou conhecida por todo o Brasil. Para os filhos e descendentes da sacerdotisa, fica a história de sabedoria ancestral e o legado de defesa das religiões de matriz africana.

Terreiro Bate Folha

Fundado em 1916 por Tat’etu Ampumandezu, o Manso Banduquenqué — Terreiro Bate Folha —, é uma das casas de candomblé mais antigas do Brasil. Com área extensa de Mata Atlântica, atua na preservação das tradições bantu (congo-angola) na região da Mata Escura, em Salvador.

Com inúmeros descendentes, a casa tem ramificações por todo o país, como o Terreiro Kupapa Unsaba, conhecido como Bate Folha RJ, fundado na Zona Norte do Rio em 1947 por Tat’etu Lessengue — João Correia de Melo, primeiro filho de santo iniciado por Tat’etu Ampumandezu em Salvador — e atualmente comandado pela matriarca Floripes Correia da Silva Gomes, Mam’etu Mabeji.


Fonte: O GLOBO