Índice recuou 0,95% no mês. Queda mais acentuada que o esperado é explicada pela redução no preço das commodities, explica especialista
O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) teve queda de 0,95% em abril e registrou a primeira deflação em 12 meses desde 2018, com redução de 2,17%. No ano, a diminuição foi de 0,75%. O indicador serve de base para o cálculo de reajuste do aluguel residencial e foi divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) nesta quinta.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), avalia que o indicador sofreu com o efeito de queda no preço das commodities, motivado pelas previsões de safras boas no Brasil e em outros produtores, como Europa e Estados Unidos.
Neste último caso, ainda que a previsão não seja tão positiva como no Brasil, o clima vem favorecendo com boas taxas de chuva, em uma época em que os grãos estão “enchendo”, retendo água.
— Há expectativa de ofertas muito boas, mas os juros muito altos em várias economias do mundo desestimulam a demanda. Vai ser um período de alta oferta e baixa demanda, o que sustenta uma expectativa de preços mais baixos por um período longo.
Além das commodities agrícolas, minérios também estão presentes na apuração do IGP-M. Como o consumo de bens duráveis é muito sustentado por crédito, essa demanda também diminui em contexto de juros altos, o que ajuda a explicar uma queda tão acima das expectativas.
Pouco efeito do câmbio
Soja (-9,34%), milho (-4,33%) e minério de ferro (-4,41%) tiveram quedas significativas, diminuindo de forma significativa o custo para segmentos de varejo.
Braz explica que o indicador não foi tão impactado pela queda no dólar, registrada recentemente. Para sustentar preços baixos, o volume de negócios deveria ter sido maior, com o dólar em menos de R$ 5 por mais tempo.
— A mudança no câmbio deve ser permanente e mais duradoura para impactar no índice — concluiu.
Já o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) está em trajetória de desaceleração e variou positivamente 0,46% em abril, mas ainda sofrendo impacto do reajuste de preços administrados, como gasolina (2,39%, antes 6,52% na edição anterior), energia (1,31%) e medicamentos (2,02%).
A maior contribuição para a desaceleração foi do grupo Transportes, que passou de 2,22% em março para 0,85% em abril. Também apresentaram decréscimo Habitação (0,84% para 0,62%) e Comunicação (0,46% para 0,21%). Nestes grupos, chamam atenção: aluguel residencial (2,73% para 1,31%) e tarifa de telefone móvel (1,18% para 0,55%).
Em contrapartida, os grupos Educação, Leitura e Recreação (-1,50% para -0,96%), Alimentação (0,14% para 0,36%), Vestuário (0,20% para 0,31%), Despesas Diversas (0,13% para 0,18%) e Saúde e Cuidados Pessoais (1,00% para 1,01%) apresentaram avanço em suas taxas de variação.
Já o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) diminuiu 1,45% em abril, depois de cair 0,12% em março. A principal contribuição para o resultado foi dos alimentos processados, que passou de -0,96% para 0,65%.
IGP-M para aluguel foi escolha do mercado
Embora cause estranhamento, o uso do IGP-M, que tem em sua cesta de cálculo commodities, para o reajuste do aluguel carrega uma explicação histórica, segundo Braz. O IGP-M foi desenvolvido em 1989, antes do Plano Real.
Naquela época, o IGP-M e o IPCA tinham taxas em 12 meses praticamente iguais, mas o IGP-M tinha como vantagem a data de divulgação, que era no último dia útil do mês. Ter um índice que reportasse a inflação do mês e que fosse publicado na véspera do mês seguinte era muito conveniente ao mercado.
Mais tarde, ficou claro que o IGP-M tinha componentes que não conversavam com aluguéis, mas ele já estava bem disseminado.
— Nada impede que ele seja trocado. Nem o IPCA foi pensado para o mercado imobiliário, mas para o inquilino, que paga escola e alimentação, por exemplo. Só que o imóvel é um ativo e precisa se ver o lugar do proprietário, que espera ganhar com o investimento. No meio dessa discussão, a FGV já desenvolveu o IVAR, que consegue monitorar o aluguel em imóveis já alugados. Hoje temos uma oferta grande de indicadores a disposição.
Fonte: O GLOBO
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