Nas redes, ex-deputado não é mais citado por políticos como Eduardo Bolsonaro e Rodrigo Amorim. Em 2022, Silveira chegou a ter 70% mais menções em um dia do que teve ao longo do mês inteiro de abril

O Supremo Tribunal Federal (STF) julga nesta quinta-feira a legalidade do indulto presidencial concedido, no ano passado, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao ex-deputado federal Daniel Silveira. 

Condenado por ameaçar ministros da Suprema Corte e as instituições democráticas, Silveira está preso desde fevereiro deste ano, quando perdeu sua imunidade parlamentar. De lá para cá, viu seu prestígio despencar entre aliados de longa data. Se um dia o político teve relevância na base bolsonarista a ponto de ganhar um perdão de Bolsonaro, neste ano deixou de movimentar inclusive o debate digital.

Em abril de 2022, no dia do seu julgamento no plenário do STF, Daniel Silveira chegou a ser mencionado em 116 mil posts no Twitter, 93% deles foram criados por apoiadores bolsonaristas. Na ocasião, expoentes como Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Ricardo Salles (PL-SP) saíram em defesa do então deputado. 

Apenas o filho do ex-presidente fez seis publicações criticando o acontecimento e chegou a lamentar o impedimento de acompanhar a sessão de julgamento. O ex-ministro do Meio Ambiente classificou o caso como uma "covardia sem tamanho".

Já neste ano, quando foi preso no dia seguinte ao final de seu mandato, o número de menções a Silveira despencou. No total, foram 62 mil publicações (47% a menos que em 2022) e nenhuma de políticos aliados. Na data em que foi conduzido pela Polícia Federal (PF), o post de maior repercussão foi do jornalista da Globo News Octavio Guedes, que apenas repercutia a notícia.

A prisão de Silveira não foi nem sequer o tema de maior destaque no dia 2 de fevereiro: a morte da jornalista Gloria Maria mobilizou 82 mil menções. Os dados são de um levantamento da Arquimedes, feito a pedido do jornal O Globo.

Entre seus aliados de longa data, como Eduardo e Salles, imperou o silêncio. Até mesmo o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB-RJ), que ganhou repercussão nacional ao lado de Silveira ao quebrarem a placa da vereadora assassinada Marielle Franco em 2018, abandonou o amigo. No ano passado, enquanto candidatos do PTB, os dois chegaram a fazer campanha juntos.

Desde a prisão do ex-deputado, Amorim não fez nenhuma postagem de apoio e não respondeu o contato ao ser procurado. Seis dias após a prisão, Silveira também foi desfiliado do PTB.

Ainda de acordo com o levantamento da Arquimedes, ao longo do mês inteiro de abril, o ex-deputado foi mencionado em 36 mil publicações no Twitter, número 69% menor do que obteve em apenas um dia, no julgamento em 2022. Atualmente, Silveira está detido no Complexo de Gericinó, no Rio, em uma cela coletiva com outros cinco presos de nível superior — incluindo o ex-vereador Gabriel Monteiro . Um dos detentos que mais conversa é o também ex-deputado Roberto Jefferson.

'Justiça', mas para Torres

O desprestígio do bolsonarismo, no entanto, parece ser restrito a apenas Silveira. Nas redes sociais, políticos e base mobilizam um movimento pedindo a soltura do ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres. O ex-ministro de Bolsonaro está preso desde janeiro deste ano por suspeita de envolvimento nos ataques golpistas do dia 8. O prolongamento de sua detenção tem incomodado os aliados.

Apenas nesta semana, Eduardo Bolsonaro fez publicações questionando o motivo do cárcere e chegou a gravar um vídeo, "pedindo justiça" em nome de Torres.

— Algumas pessoas dizendo que ele emagreceu mais do que 12kg, todos já sabem que ele não oferece risco à República e não tem atrapalhado as investigações. Nada mais justo que ele seja posto em liberdade — diz o deputado federal na gravação, em movimento apoiado por outros parlamentares da base bolsonarista como Carla Zambelli (SP) e Cabo Gilberto (PB).

O julgamento do indulto concedido a Silveira está na pauta do STF desta quinta-feira. A data foi marcada pela presidente e relatora de seis ações que contestam a medida na Corte, a ministra Rosa Weber. Os processos que correm na Corte argumentam que Bolsonaro interferiu no jogo democrático e "resolveu portar-se como uma instância revisora de decisões judiciais".


Fonte: O GLOBO