Após derrubada de liminar na Justiça, prefeitura retomou operações de remoção de barracas que abrigam sem-teto
Ao anunciar a retomada das remoções das barracas nas calçadas e praças de São Paulo, na segunda-feira, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) defendeu que a população em situação de rua deve utilizar os serviços oferecidos pelo poder público e disse que há vagas ociosas nos abrigos.
O convencimento, porém, está longe de ser simples: muitos sem-teto citam a obrigatoriedade de cumprir regras, a falta de espaço para carrocinhas e animais de estimação, instalações precárias e lotadas e até falta de segurança como justificativas para a resistência de ir aos albergues públicos.
São Paulo soma hoje mais de 32 mil pessoas nas ruas, segundo Censo da prefeitura, ou mais de 48 mil, segundo levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (Polos-UFMG). As barracas nas praças e calçadas se multiplicaram principalmente durante a pandemia, na esteira da crise econômica que afetou muitas famílias.
Hoje, a rede socioassistencial da prefeitura tem cerca de 20 mil vagas, ainda insuficientes para atender a toda a demanda na cidade. Mas, como Nunes admitiu na segunda-feira, sobram muitas vagas, por falta de usuários.
— Não vai faltar acolhimento para as pessoas que desejam ser acolhidas pela prefeitura de São Paulo. As pessoas falam "são 20 mil vagas, e são 31 mil pessoas (nas ruas)". Mas hoje temos vagas ociosas. Não faltará vaga a partir do momento que façamos o convencimento para que as pessoas utilizem os serviços de acolhimento — disse o prefeito.
O desafio está nessa abordagem, cujo sucesso, por sua vez, depende de uma série de melhorias nos serviços de albergues.
— Nos albergues há horários de entrada e saída, uma série de regras. Famílias acabam separadas, não se aceitam visitas. E vários não aceitam cachorros. Alguns têm canil, mas o animal fica preso enquanto a pessoa dorme.
São Paulo soma hoje mais de 32 mil pessoas nas ruas, segundo Censo da prefeitura, ou mais de 48 mil, segundo levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (Polos-UFMG). As barracas nas praças e calçadas se multiplicaram principalmente durante a pandemia, na esteira da crise econômica que afetou muitas famílias.
Hoje, a rede socioassistencial da prefeitura tem cerca de 20 mil vagas, ainda insuficientes para atender a toda a demanda na cidade. Mas, como Nunes admitiu na segunda-feira, sobram muitas vagas, por falta de usuários.
— Não vai faltar acolhimento para as pessoas que desejam ser acolhidas pela prefeitura de São Paulo. As pessoas falam "são 20 mil vagas, e são 31 mil pessoas (nas ruas)". Mas hoje temos vagas ociosas. Não faltará vaga a partir do momento que façamos o convencimento para que as pessoas utilizem os serviços de acolhimento — disse o prefeito.
O desafio está nessa abordagem, cujo sucesso, por sua vez, depende de uma série de melhorias nos serviços de albergues.
— Nos albergues há horários de entrada e saída, uma série de regras. Famílias acabam separadas, não se aceitam visitas. E vários não aceitam cachorros. Alguns têm canil, mas o animal fica preso enquanto a pessoa dorme.
É difícil que as pessoas em situação de rua aceitem isso. O cachorro muitas vezes é a única companhia, é com quem dividem comida, quem as protege. Sem contar que boa parte dos abrigos e albergues não têm lugar para deixar as carrocinhas que utilizam para trabalhar — enumera Bianca Tavolari, professora do Insper e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
No final de março, um homem de 45 anos morreu ao cair de uma escada num albergue em Água Rasa, na Zona Leste paulistana. O abrigo seria desativado na semana anterior, e os moradores seriam transferidos, mas uma obra nos banheiros do novo local atrasou a mudança.
'Muita gente junta'
Baiano de Eunápolis, município próximo a Porto Seguro, Deividson Sousa dos Santos, de 30 anos, já passou por esse albergue.
— Tinha confusão, não dava para saber quem era quem. Era muita gente junta — lembra.
Santos chegou há cinco anos em São Paulo. Veio, como muitos, em busca de trabalho que não fosse a roça - o avô, lembra, bem tinha dito "para estudar para não acabar no cabo da enxada". Depois de 12 anos como vaqueiro em uma fazenda, se mudou para a casa da irmã na selva de pedra paulistana. Mas se desentendeu com o cunhado e decidiu buscar os albergues para não acabar na rua.
No último ano, já passou por três abrigos diferentes. Há um mês e meio, chegou ao Cidade Refúgio II, na Mooca, Zona Leste de São Paulo. O abrigo foi inaugurado recentemente, com 100 vagas, em um novo modelo adotado pela prefeitura para tentar reduzir a lotação e melhorar o serviço - e desativar abrigos que chegam a juntar 500 pessoas.
O maior desafio, diz o secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Carlos Bezerra Jr., tem sido encontrar disponibilidade de novos terrenos em uma cidade como São Paulo. Ele também cita a aporofobia, ou ódio aos pobres, de vizinhos que não querem albergues ao lado de onde moram.
— Aqui cada um tem sua cama, com seu nome, trocam os lençóis, eu conheço as pessoas — diz Deividson, no novo abrigo.
Frequentador da Igreja Universal, ele estuda para pregar em presídios. Já tentou convencer alguns conhecidos em barracas a irem para os albergues, sem sucesso:
— Sabe como é, né? Na rua não tem horário, nem controle de droga ou cachaça. Mas espero que um dia aceitem vir. Eu só quero meu canto, poder trabalhar e mandar dinheiro para meus filhos que ficaram lá na Bahia.
Fonte: O GLOBO
No final de março, um homem de 45 anos morreu ao cair de uma escada num albergue em Água Rasa, na Zona Leste paulistana. O abrigo seria desativado na semana anterior, e os moradores seriam transferidos, mas uma obra nos banheiros do novo local atrasou a mudança.
'Muita gente junta'
Baiano de Eunápolis, município próximo a Porto Seguro, Deividson Sousa dos Santos, de 30 anos, já passou por esse albergue.
— Tinha confusão, não dava para saber quem era quem. Era muita gente junta — lembra.
Santos chegou há cinco anos em São Paulo. Veio, como muitos, em busca de trabalho que não fosse a roça - o avô, lembra, bem tinha dito "para estudar para não acabar no cabo da enxada". Depois de 12 anos como vaqueiro em uma fazenda, se mudou para a casa da irmã na selva de pedra paulistana. Mas se desentendeu com o cunhado e decidiu buscar os albergues para não acabar na rua.
No último ano, já passou por três abrigos diferentes. Há um mês e meio, chegou ao Cidade Refúgio II, na Mooca, Zona Leste de São Paulo. O abrigo foi inaugurado recentemente, com 100 vagas, em um novo modelo adotado pela prefeitura para tentar reduzir a lotação e melhorar o serviço - e desativar abrigos que chegam a juntar 500 pessoas.
O maior desafio, diz o secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Carlos Bezerra Jr., tem sido encontrar disponibilidade de novos terrenos em uma cidade como São Paulo. Ele também cita a aporofobia, ou ódio aos pobres, de vizinhos que não querem albergues ao lado de onde moram.
— Aqui cada um tem sua cama, com seu nome, trocam os lençóis, eu conheço as pessoas — diz Deividson, no novo abrigo.
Frequentador da Igreja Universal, ele estuda para pregar em presídios. Já tentou convencer alguns conhecidos em barracas a irem para os albergues, sem sucesso:
— Sabe como é, né? Na rua não tem horário, nem controle de droga ou cachaça. Mas espero que um dia aceitem vir. Eu só quero meu canto, poder trabalhar e mandar dinheiro para meus filhos que ficaram lá na Bahia.
Fonte: O GLOBO
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