Rogério Ceron prevê marco ainda no governo Lula. Ele avalia que recuperação do "selo de bom pagador" é viável, mas governo terá que manter o rumo da política econômica
Ainda que o governo Lula tenha comemorado a melhora de perspectiva da nota brasileira pela agência Standard & Poor's (S&P), de neutra para positiva, a equipe econômica espera recuperar o grau de investimento até 2026, último ano do governo Lula. Segundo o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, esse cenário é "tecnicamente viável" e "possível", mas será preciso que o governo mantenha o rumo da política econômica.
— Tecnicamente é factível recuperar o grau de investimento até 2026, se nós tomarmos as medidas na direção correta e continuarmos nesse caminho que estamos percorrendo. Essa mudança de perspectiva agora mostra que estamos no caminho correto e é sim possível recuperar o grau de investimento — disse ao GLOBO o secretário do Tesouro.
Em abril de 2008, o Brasil ganhou o grau de investimento pela primeira vez em sua História, conferido pela própria S&P. A decisão foi seguida pelas outras duas grandes agências: Fitch, no mês seguinte, e Moody’s, em setembro de 2009.
Esse “selo” foi retirado entre 2015 e 2016 por essas agências, diante da deterioração do cenário fiscal brasileiro.
— Em seis meses, conseguimos o primeiro passo, que é fundamental, e no fim do ano terá o outro passo, e assim sucessivamente. Até chegar a reconquistar o grau de investimento — disse Ceron.
A melhora da projeção da nota brasileira pela S&P não acontecia desde 2019. A empresa reafirmou o rating de crédito soberano em "BB-" — nota que o país tem desde 2020 - e que está três degraus abaixo do "grau de investimento", o chamado "selo de bom pagador".
A decisão da agência indica que há um cenário mais otimista para o país no médio prazo, podendo elevar a nota de crédito. Quando a nota sobe, o governo e as empresas do país podem atrair mais investimentos estrangeiros, por exemplo.
O que fez a perspectiva melhorar?
A agência afirma que há uma maior certeza de que a política monetária (os juros do Banco Central) e a política fiscal (as contas públicas) irão beneficiar as estimativas de crescimento da economia do Brasil neste ano. O órgão também fala que o arcabouço fiscal que está em discussão no Congresso mais o crescimento do PIB devem levar para um endividamento menor do que esperado anteriormente.
Outro ponto destacado pela agência de classificação de risco é a estrutura institucional brasileira, com formulação de políticas estáveis, baseadas em amplos freios e contrapesos entre os poderes executivo, legislativo e judiciário.
O que pode melhorar a nota
A agência afirma que poderá subir a nota de crédito do Brasil nos próximos dois anos se as instituições governamentais forem capazes de implementar políticas econômicas “pragmáticas” que contenham vulnerabilidades nas finanças públicas do país e preparem o cenário para um melhor crescimento do PIB.
“A chave para isso seria a aprovação de reformas adicionais – entre elas uma reforma tributária atualmente em debate”.
O que pode dar errado
No entanto, a S&P alerta que poderá revisar a perspectiva para estável nos próximos caso exista uma estrutura de política “inadequada”, que resulte em crescimento econômico limitado, levando a uma maior deterioração fiscal e a um custo da dívida maior do que o esperado.
Fonte: O GLOBO
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