Apesar do sonho, da aprovação e dos projetos, ainda não há prazos para que o bairro se torne realidade, nem valores exatos a serem investidos
Mais que uma criação da comunidade em busca de autoproteção — como as existentes em Nova York e São Francisco (EUA) — o bairro chinês pode ser uma importante arma do soft power do gigante asiático.
De acordo com Thomas Law, presidente do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) — que encampa o projeto junto à prefeitura e a órgãos competentes — a ideia é incluir uma Chinatown “à brasileira” em um projeto mais amplo de desenvolvimento urbano e paisagístico nas imediações do Mercado Municipal e da Rua 25 de Março, aproximando o que seria o novo ponto turístico ao circuito popular de compras da capital paulista.
— Quando você pega modelos internacionais [percebe essa integração]. Em Londres, a Chinatown está muito próxima da Tralfagar Square, onde ficam os monumentos históricos. No Porto, o novo mercado Bulhão está perto da Rua Santa Catarina, que é onde fica o comércio pujante da cidade. São Paulo não é diferente, e pode ser maior ainda que esses polos — afirmou Law em entrevista ao GLOBO.
Apesar do sonho, da aprovação e dos projetos, ainda não há prazos para que o bairro se torne realidade, nem valores exatos a serem investidos. Law espera começar a tirar a Chinatown do papel no ano que vem, quando se celebram 50 anos da retomada das relações entre os dois países. Mas há burocracia a ser vencida e falta de clareza sobre as linhas de financiamento.
Em uma viagem recente à China, com a comitiva de empresários convidados pelo governo federal que precedeu a ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim e Xangai, Law disse ter fechado cooperação com cidades chinesas ao projeto, além de apresentá-lo a empresas — que, nas palavras dele, teriam se interessado em “estudar” a proposta.
— Uma Chinatown em São Paulo com certeza fortalece as relações culturais e comerciais entre Brasil e China, que já são grandes parceiros econômicos — disse.
Novas configurações
De acordo com o professor de Relações Internacionais Leonardo Trevisan, da ESPM-SP, as primeiras Chinatowns do Ocidente surgiram como uma forma de organização e proteção de imigrantes chineses, muitas vezes submetidos a condições de trabalho que seriam consideradas hoje análogas à escravidão.
— O reflexo dessas condições de trabalho e discriminação levou os chineses a uma atitude diferente de outros imigrantes, de pouco entrosamento direto com a sociedade. Eles ficaram fechados em torno deles mesmos, em uma posição de autoproteção, principalmente para o exercício do comércio — disse Trevisan.
Com o crescimento econômico da China a partir da década de 1990, no entanto, as novas Chinatowns ganharam uma nova conotação geopolítica, de acordo com o professor.
De acordo com Thomas Law, presidente do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) — que encampa o projeto junto à prefeitura e a órgãos competentes — a ideia é incluir uma Chinatown “à brasileira” em um projeto mais amplo de desenvolvimento urbano e paisagístico nas imediações do Mercado Municipal e da Rua 25 de Março, aproximando o que seria o novo ponto turístico ao circuito popular de compras da capital paulista.
— Quando você pega modelos internacionais [percebe essa integração]. Em Londres, a Chinatown está muito próxima da Tralfagar Square, onde ficam os monumentos históricos. No Porto, o novo mercado Bulhão está perto da Rua Santa Catarina, que é onde fica o comércio pujante da cidade. São Paulo não é diferente, e pode ser maior ainda que esses polos — afirmou Law em entrevista ao GLOBO.
Apesar do sonho, da aprovação e dos projetos, ainda não há prazos para que o bairro se torne realidade, nem valores exatos a serem investidos. Law espera começar a tirar a Chinatown do papel no ano que vem, quando se celebram 50 anos da retomada das relações entre os dois países. Mas há burocracia a ser vencida e falta de clareza sobre as linhas de financiamento.
Em uma viagem recente à China, com a comitiva de empresários convidados pelo governo federal que precedeu a ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim e Xangai, Law disse ter fechado cooperação com cidades chinesas ao projeto, além de apresentá-lo a empresas — que, nas palavras dele, teriam se interessado em “estudar” a proposta.
— Uma Chinatown em São Paulo com certeza fortalece as relações culturais e comerciais entre Brasil e China, que já são grandes parceiros econômicos — disse.
Novas configurações
De acordo com o professor de Relações Internacionais Leonardo Trevisan, da ESPM-SP, as primeiras Chinatowns do Ocidente surgiram como uma forma de organização e proteção de imigrantes chineses, muitas vezes submetidos a condições de trabalho que seriam consideradas hoje análogas à escravidão.
— O reflexo dessas condições de trabalho e discriminação levou os chineses a uma atitude diferente de outros imigrantes, de pouco entrosamento direto com a sociedade. Eles ficaram fechados em torno deles mesmos, em uma posição de autoproteção, principalmente para o exercício do comércio — disse Trevisan.
Com o crescimento econômico da China a partir da década de 1990, no entanto, as novas Chinatowns ganharam uma nova conotação geopolítica, de acordo com o professor.
Mesmo que criadas muitas vezes em uma parceria da comunidade civil e governos locais, a transformação dos recantos chineses de áreas de restaurantes, casas de chá e negócios familiares abriu espaço para produtos cada vez mais tecnológicos e diversificados, exercendo um papel diplomático para Pequim. Sempre com os tradicionais pórticos.
— A formação desse novo modelo de Chinatown é uma presença típica de soft power. Se você ler o conceito, é exatamente isso: uma presença econômica e cultural absolutamente palatável, uma influência não forçada. Se nós fossemos falar uma linguagem de marqueteiros, ela induz a uma construção de marca da China, com todo poder e presença de quem tem o segundo PIB do mundo.
A proposta parece agradar a representantes do comércio popular na região. A Associação Paulista de Empreendedores do Circuito das Compras (APECC) afirmou haver um consenso sobre a necessidade de uma revitalização da região central e apontou possíveis benefícios da criação de uma Chinatown. “A proposta de uma Chinatown tem total sinergia com esta questão”, disse a entidade, em nota.
O comerciante Ademir Morais, de 70 anos, que tem seu negócio no centro de São Paulo há cerca de 50 anos, tomou conhecimento do projeto e disse ver uma possibilidade de melhora nas vendas:
—Conheço o projeto. Ele vem para somar com o objetivo de revitalização do centro da cidade e do circuito de compras. Já vi que outras cidades melhoraram o centro com ideias assim — opinou.
Ao contrário dos bairros chineses mais conhecidos no Ocidente, como os de São Francisco e Nova York, que começam a surgir no século XIX, as Chinatowns mais novas apresentam um novo perfil, sendo fomentadas por governos locais como oportunidades de atrair turismo e empresas.
Em Madri, a administração municipal instalou recentemente arcos chineses e uma estátua de urso panda no distrito de Usera, que concentra a maior parte da comunidade chinesa no país, no sul da cidade.
— A formação desse novo modelo de Chinatown é uma presença típica de soft power. Se você ler o conceito, é exatamente isso: uma presença econômica e cultural absolutamente palatável, uma influência não forçada. Se nós fossemos falar uma linguagem de marqueteiros, ela induz a uma construção de marca da China, com todo poder e presença de quem tem o segundo PIB do mundo.
A proposta parece agradar a representantes do comércio popular na região. A Associação Paulista de Empreendedores do Circuito das Compras (APECC) afirmou haver um consenso sobre a necessidade de uma revitalização da região central e apontou possíveis benefícios da criação de uma Chinatown. “A proposta de uma Chinatown tem total sinergia com esta questão”, disse a entidade, em nota.
O comerciante Ademir Morais, de 70 anos, que tem seu negócio no centro de São Paulo há cerca de 50 anos, tomou conhecimento do projeto e disse ver uma possibilidade de melhora nas vendas:
—Conheço o projeto. Ele vem para somar com o objetivo de revitalização do centro da cidade e do circuito de compras. Já vi que outras cidades melhoraram o centro com ideias assim — opinou.
Ao contrário dos bairros chineses mais conhecidos no Ocidente, como os de São Francisco e Nova York, que começam a surgir no século XIX, as Chinatowns mais novas apresentam um novo perfil, sendo fomentadas por governos locais como oportunidades de atrair turismo e empresas.
Em Madri, a administração municipal instalou recentemente arcos chineses e uma estátua de urso panda no distrito de Usera, que concentra a maior parte da comunidade chinesa no país, no sul da cidade.
A iniciativa foi apresentada como um passo inicial para reconhecer a região oficialmente como a Chinatown espanhola, integrando-a ao circuito turístico. Em páginas oficiais da capital, o distrito já é apresentado como tal.
Em Bogotá, conversas sobre a criação de uma Chinatown colombiana ganharam força em 2019, com uma proposta similar à de São Paulo, de integrar o atrativo a uma região de comércio popular.
‘Estilo Dubai’
Embora o projeto apresentado por Law e pelo Ibrachina preveja a construção de um instituto cultural, ginásios de esporte e áreas de lazer e bem-estar — a ideia inicial incluía apenas um boulevard na Rua Carlos de Souza Nazaré, mas está sendo revisada para apresentação a um concurso que reúna projetos na região do centro, que deve ser lançado em julho — o aspecto comercial está intimamente ligado ao “bairro chinês”. Ele seria o maior da região, superando o “Barrio chino” de Buenos Aires.
— A Chinatown que queremos montar, dentro de uma proposta moderna, é com uma visão mais de Dubai do que de EUA — disse Law.
A Dubai Chinatown foi apresentada em 2018 como “a maior Chinatown do Oriente Médio”. Inaugurada dentro do Dubai Mall neste ano, o espaço reúne “lojas de varejo e restaurantes de primeira linha”, de acordo com a descrição.
— A Chinatown Dubai é um distrito vibrante e movimentado que oferece uma mistura única de cultura, culinária e experiências de compras chinesas — diz Habiba Akhtar, blogger do canal thetrendylittlethings, sobre Dubai.
‘Acupuntura urbana’
Enquanto o projeto da Chinatown São Paulo não se materializa — um projeto sobre o tema na Câmara de Vereadores foi aprovado na CCJ e aguarda tramitação na Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente, enquanto a Secretaria de Urbanismo e Licenciamento informou que o Executivo espera a conclusão do concurso de ideias — a comunidade sino-brasileira atua paralelamente em trabalhos de zeladoria.
— Quando a gente pensa em trazer uma Chinatown para o Centro de São Paulo, está relacionado ao pensar de um desenvolvimento urbano, paisagístico e de melhora de uma condição hoje degradada — afirmou Law. — Com essas ações somadas, estamos pondo em prática o que chamamos de acupuntura urbana, que é transformar a cidade a partir de pontos específicos. O nosso projeto de Chinatown é um desses pontos.
Fonte: O GLOBO
Em Bogotá, conversas sobre a criação de uma Chinatown colombiana ganharam força em 2019, com uma proposta similar à de São Paulo, de integrar o atrativo a uma região de comércio popular.
‘Estilo Dubai’
Embora o projeto apresentado por Law e pelo Ibrachina preveja a construção de um instituto cultural, ginásios de esporte e áreas de lazer e bem-estar — a ideia inicial incluía apenas um boulevard na Rua Carlos de Souza Nazaré, mas está sendo revisada para apresentação a um concurso que reúna projetos na região do centro, que deve ser lançado em julho — o aspecto comercial está intimamente ligado ao “bairro chinês”. Ele seria o maior da região, superando o “Barrio chino” de Buenos Aires.
— A Chinatown que queremos montar, dentro de uma proposta moderna, é com uma visão mais de Dubai do que de EUA — disse Law.
A Dubai Chinatown foi apresentada em 2018 como “a maior Chinatown do Oriente Médio”. Inaugurada dentro do Dubai Mall neste ano, o espaço reúne “lojas de varejo e restaurantes de primeira linha”, de acordo com a descrição.
— A Chinatown Dubai é um distrito vibrante e movimentado que oferece uma mistura única de cultura, culinária e experiências de compras chinesas — diz Habiba Akhtar, blogger do canal thetrendylittlethings, sobre Dubai.
‘Acupuntura urbana’
Enquanto o projeto da Chinatown São Paulo não se materializa — um projeto sobre o tema na Câmara de Vereadores foi aprovado na CCJ e aguarda tramitação na Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente, enquanto a Secretaria de Urbanismo e Licenciamento informou que o Executivo espera a conclusão do concurso de ideias — a comunidade sino-brasileira atua paralelamente em trabalhos de zeladoria.
— Quando a gente pensa em trazer uma Chinatown para o Centro de São Paulo, está relacionado ao pensar de um desenvolvimento urbano, paisagístico e de melhora de uma condição hoje degradada — afirmou Law. — Com essas ações somadas, estamos pondo em prática o que chamamos de acupuntura urbana, que é transformar a cidade a partir de pontos específicos. O nosso projeto de Chinatown é um desses pontos.
Fonte: O GLOBO
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