Republicano deu entrada em documentos para concorrer à nomeação do partido para o pleito do ano que vem, postulante mais recente em campo que inclui seu antigo chefe
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Mike Pence entrou oficialmente nesta segunda-feira na disputa pela nomeação do Partido Republicano para as eleições presidenciais do ano que vem. Ele concorrerá com seu antigo chefe, o ex-presidente Donald Trump, e uma série de outros correligionários, como o governador da Flórida, Ron DeSantis.
Pence, que neste momento parece ter poucas chances de sucesso — acumula apenas 3,8% das intenções de voto dos republicanos, contra 53,2% de Trump, segundo o agregador RealClearPolitics —, apresentou nesta manhã os documentos necessários para a Comissão Federal Eleitoral. Ele deve dar o pontapé inicial na candidatura na quarta-feira, com um vídeo e um discurso no estado de Iowa.
Pence foi um aliado ferrenho de Trump desde a metade final da disputa de 2016, antes mesmo de ser confirmado como seu vice, e manteve-se leal durante praticamente o mandato inteiro. Apoiou a conduta anticiência do governo de que fazia parte durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, e não apresentou objeções aos questionamentos do chefe sobre a lisura do sistema eleitoral.
O rompimento, contudo, veio em 6 de janeiro de 2021. O vice, que nos EUA acumula a função de presidente do Senado, presidia a sessão conjunta no Capitólio que foi interrompida quando turbas incitadas pelo então presidente invadiram a sede do Congresso americano.
Pence se recusou a ceder às pressões trumpistas para interromper a sessão que confirmaria a vitória do democrata Joe Biden no Colégio Eleitoral, a etapa derradeira antes da posse 14 dias depois. Argumentava, com razão, que não tinha autoridade constitucional para fazê-lo diante de suas funções cerimoniais.
Após se recusar a embarcar nos impulsos golpistas de Trump, foi alvo das turbas, que gritaram palavras de ordem como "enforquem Mike Pence". Desde então, busca se distanciar do ex-chefe, afirmando que o apoio aos extremistas que invadiram o Capitólio pôs em risco sua vida, de seus parentes e de outros colegas que estavam no prédio naquele momento.
Pence, ainda assim, recusa-se a se distanciar por completo das acusações sem embasamento de Trump de que houve ampla fraude eleitoral em 2020. Em um artigo publicado dois meses após a invasão do Capitólio, não adotou a retórica estridente do ex-companheiro de chapa, mas citou "irregularidades eleitorais significativas", algo nunca provado.
Desde então, também tem sido contido em suas críticas ao antigo chefe: sobre o 6 de janeiro, por exemplo, disse que os dois podem nunca concordar sobre o que aconteceu no Capitólio. Uma das poucas críticas explícitas ao antigo presidente ocorreu quando pediu que Trump se desculpasse por jantar com o rapper Kanye West (que agora atende por Ye) — que, dias antes, havia feito uma série de comentários anissemitas e racistas — e Nick Fuentes, um conhecido supremacista branco.
Além de Trump e DeSantis, Pence junta-se a uma corrida republicana que inclui o senador Tim Scott, da Carolina do Sul; a ex-embaixadora na ONU Nikki Haley; o radialista conservador Larry Elder; Asa Hutchinson, ex-governador de Arkansas; e o empresário Vivek Ramswamy. O governador da Dakota do Norte, Doug Burgum, também deve ingressar na disputa na quarta, segundo a imprensa americana. Na terça, quem deve formalizar seus planos é o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie.
A pluralidade de nomes preocupa críticos de Trump, que temem que a divisão pulverize o voto antitrumpista dentro do partido, dando a nomeação nas mãos do ex-presidente. Até o momento, parecem ter motivo para o sinal amarelo: de acordo com o RealClearPolitics, Trump tem uma média de 53,2% das intenções de voto dos republicanos, seguido por DeSantis com 22,4%. Na frente de Pence aparece também Haley, com 4,4%.
O temor foi citado pelo governador de New Hampshire, Chris Sununu, como uma das razões para não concorrer. Ele anunciou a decisão em um artigo de opinião publicado no jornal Washington Post nesta segunda, afirmando que "há muita coisa em jogo para uma disputa lotada entregar a nomeação a um candidato que consegue apenas 35% do voto, e eu vou ajudar a garantir que isso não aconteça".
Os concorrentes apostam que ainda é cedo e recorrem a disputas passadas para argumentar que tudo ainda está em aberto: em 2016, por exemplo, a candidatura de Trump foi vista como uma piada, antes de abocanhar não só a nomeação republicana, mas também a Presidência. Em 2008, o então senador John McCain saiu de trás nas pesquisas para conseguir a candidatura de seu partido. Eventualmente, contudo, perdeu a Casa Branca para o democrata Barack Obama.
Pence deve centralizar sua campanha no importante estado de Iowa, onde haverá a primeira primária republicana para o pleito, possivelmente no início do ano que vem. A esperança é de que suas posições linha-dura em assuntos como aborto e posse de armas tenham apelo entre os eleitores evangélicos — seus conselheiros veem o estado como solo fértil para o conservadorismo dominante nos EUA antes de Trump, apostando que ainda há resquícios suficientes para recuperá-lo, além de vontade de fazê-lo.
— Nós temos de resistir às políticas da personalidade, à atração do populismo sem a âncora de valores conservadores atemporais — disse ele recentemente em um evento em New Hampshire.
Fonte: O GLOBO
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