O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, confrontou os conselheiros da companhia na última reunião do colegiado, na quarta-feira (31), avisando que mandou abrir uma investigação interna para apurar a origem de vazamentos de informações sobre o que se passa nos bastidores da empresa. O CEO também ameaçou fazer uma representação à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado financeiro.

Sem citar nomes, Prates afirmou que vai tomar "medidas fortes" para descobrir quem tem passado informações à imprensa – como por exemplo a de que ele disse a alguns conselheiros estimar que a exploração de petróleo na margem equatorial brasileira 'vai sair', publicada pelo blog.

A informação foi apurada com conselheiros que ouviram a "previsão" do presidente da Petrobras e com outros membros do governo que tomaram conhecimento do episódio. Mas, no Twitter, Prates classificou a reportagem como fake news.

A assessoria de imprensa da companhia também confirmou que foi aberta investigação interna para apurar vazamentos. Não há ainda confirmação oficial sobre representação à CVM -- órgão que Prates chegou a ironizar em fevereiro, em uma palestra em Sergipe.

Na ocasião, depois de dizer que "a Petrobras tem uma máquina de proibir coisas", ele reclamou da regra da autarquia que estabelece um período de silêncio a executivos de companhias abertas sobre números e expectativas de negócios. "Vamos falar um pouquinho disso sim, sem comprometer demais", afirmou na ocasião. Se chegar multa da CVM eu mando o Amaro (o anfitrião) dividir comigo."

A notícia sobre a previsão de Prates aos conselheiros não foi, porém, a única publicação sobre a Petrobras a irritar o CEO da companhia nos últimos tempos.

Uma delas foi veiculada pelo Estadão e dizia que o ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, tinha convocado uma reunião de conselho sem avisar a ele, Prates. O executivo negou o episódio, mas, depois da publicação, a reunião foi cancelada.

A disputa entre Prates e Silveira por influência na Petrobras já provocou alguns ruídos internos. O ministro indicou pessoalmente quatro dos onze conselheiros da empresa. Prates concentrou as indicações de diretores.

De acordo com o relato de conselheiros que me confirmaram ter ouvido o discurso de Prates, o CEO da Petrobras adotou um "tom policialesco" na expressão de um, "ameaçador", na de outro, e "revoltado", na do terceiro, ao se dirigir aos representantes dos acionistas. "Vou descobrir quem está vazando", afirmou Prates.

A discussão aconteceu no mesmo encontro em que a cúpula da petroleira discutiu as linhas gerais do plano estratégico de negócios para o período entre 2024 e 2028, divulgado na manhã desta quinta.

Mas embora tenha havido divergências sobre os aspectos do plano entre os representantes dos acionistas minoritários e os do governo, não houve dificuldades em aprová-lo, porque o governo tem maioria e a discussão foi relativamente pacífica.

Mal-estar mesmo, só em dois momentos. Além da interpelação a respeito do vazamento de informações, Prates causou constrangimento generalizado pela ênfase com que defendeu suas nomeações para a área jurídica da companhia: seu assessor direto Cláudio Pinho e o recém-nomeado gerente jurídico, Marcelo Mello.

O primeiro foi investigado por participar de um suposto esquema de pagamento de propina para obter decisão favorável ao padre Robson de Oliveira, ex-reitor da Basílica de Trindade denunciado por um esquema lavagem de dinheiro e apropriação indébita que movimentou cerca de R$ 2 bilhões em dez anos.

Ele foi flagrado em áudios revelados pelo "Fantástico" conversando com o religioso sobre repassar R$ 1,5 milhão a magistrados de Goiás. A investigação, porém, foi interrompida pelo próprio Tribunal de Justiça do estado depois que um desembargador considerou que as provas usadas foram compartilhadas de maneira ilegal de outra apuração. O STJ arquivou o processo em definitivo no ano passado.

O segundo executivo que teve a nomeação questionada foi o advogado Marcelo Mello, sócio do ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró em uma offshore usada para camuflar a compra de um duplex no Rio de Janeiro.

A compra do imóvel para Cerveró no nome da offshore levou à condenação do ex-diretor da Petrobras a seis anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

A informação, porém, não consta do relatório de duas páginas produzido pela área de compliance da companhia, que afirma não haver impedimento à nomeação do executivo.

De acordo com o relato feito pelos conselheiros com quem conversei, o presidente da Petrobras passou 40 minutos defendendo os dois executivos, que ele afirma serem inocentes e condenados pela mídia sem investigação.

Afirmou, ainda, que conhece os dois há muito tempo e que são pessoas competentes e probas. Apesar das ponderações de alguns conselheiros a respeito do prejuízo para a imagem da empresa que as nomeações podem representar, Prates afirmou que não abriria mão deles porque não se pautaria por "colunistas do Leblon" – referindo-se nominalmente aos colunistas do GLOBO que acompanham a Petrobras mais de perto: além de mim, também Lauro Jardim e Miriam Leitão.


Fonte: O GLOBO