Estudo aponta que cerca de 3,5 bilhões de pessoas foram afetadas em todo o mundo por temperaturas recordes
Quase metade da população mundial foi exposta a temperaturas recordes de calor na última década, revelou um estudo do Carbon Brief, um centro de estudos internacional especializado em mudanças climáticas baseado no Reino Unido.
A análise ressalta o impacto crescente das alterações no clima em escala global e aponta para uma preocupante tendência de aumento na frequência e intensidade de eventos extremos — que recentemente se refletiram nas secas históricas que atingiram a Europa em abril e assolam o Chifre da África desde 2020 — e que pode ser acentuada com o fenômeno El Niño, cujo início foi declarado quinta-feira.
Ao todo, 39,8% da população global vivem em áreas que registraram recordes de calor no período analisado, que compreende os anos de 2013 a 2022. Traduzindo em números, isso representa cerca de 3,5 bilhões de pessoas afetadas em todo o mundo, segundo o estudo — que utilizou uma combinação de dados de distribuição espacial da população global da Universidade Columbia, nos EUA, com um modelo de reanálise meteorológica do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF).
— Nossa análise principal foi identificar quais partes do planeta tiveram as temperaturas mais quentes já registradas em cada ano e, em seguida, sobrepor isso à densidade populacional — explicou ao GLOBO Zeke Hausfather, um dos autores do estudo.
20 mil mortes na Europa
Ainda de acordo com a pesquisa, somente em 2022, cerca de 380 milhões de pessoas experimentaram as temperaturas mais altas já registradas na região onde vivem — o que o transformou no quinto ano mais quente da História, desde que o modelo moderno de registro foi adotado em 1880.
Ao todo, 39,8% da população global vivem em áreas que registraram recordes de calor no período analisado, que compreende os anos de 2013 a 2022. Traduzindo em números, isso representa cerca de 3,5 bilhões de pessoas afetadas em todo o mundo, segundo o estudo — que utilizou uma combinação de dados de distribuição espacial da população global da Universidade Columbia, nos EUA, com um modelo de reanálise meteorológica do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF).
— Nossa análise principal foi identificar quais partes do planeta tiveram as temperaturas mais quentes já registradas em cada ano e, em seguida, sobrepor isso à densidade populacional — explicou ao GLOBO Zeke Hausfather, um dos autores do estudo.
20 mil mortes na Europa
Ainda de acordo com a pesquisa, somente em 2022, cerca de 380 milhões de pessoas experimentaram as temperaturas mais altas já registradas na região onde vivem — o que o transformou no quinto ano mais quente da História, desde que o modelo moderno de registro foi adotado em 1880.
A onda de calor foi particularmente expressiva no verão do Hemisfério Norte, sobretudo na Europa, resultando em mais de 20 mil mortes e sendo também o ano mais seco registrado no continente desde a Idade Média, segundo relatório do Serviço Copernicus de Mudanças Climáticas, ligado à União Europeia (UE).
Além da Europa, partes da África e Ásia foram especialmente atingidas por eventos climáticos extremos nos últimos dez anos, aponta o estudo, apresentando uma tendência mais acentuada de temperaturas recordes.
Além da Europa, partes da África e Ásia foram especialmente atingidas por eventos climáticos extremos nos últimos dez anos, aponta o estudo, apresentando uma tendência mais acentuada de temperaturas recordes.
Cidades como Paris, na França, Lagos, na Nigéria, e Xangai, na China, estão entre as mais afetadas nessas regiões. Na América Latina, o estudo destaca a cidade de São Paulo como uma das mais impactadas no período.
No Oriente Médio, o destaque foi para a Cidade do Kuwait, com uma população de mais de 3 milhões, onde os termômetros atingiram 53,2°C em junho de 2021, uma das temperaturas mais altas já registradas em uma área densamente povoada. Também foi em Mitribah, estação meteorológica no noroeste do país, onde se registrou a temperatura mais quente documentada na Ásia: 53,9°C em julho de 2016 — o ano mais quente de toda a História.
Fora do período do estudo, o ano de 2023 caminha a largos passos para quebras de novos recordes. Em pouco mais de seis meses, já houve eventos climáticos extremos na Ásia — afetando Índia, Laos, Bangladesh e Tailândia em abril — seca recorde na Europa — atingindo especialmente a Espanha e a França — além de incêndios florestais de grandes proporções no Canadá, com mais de 3,8 milhões de hectares já destruídos e um impacto além-fronteira nos EUA.
E isso sem o efeito do El Niño, que, juntamente com a alta emissão de gases-estufa na atmosfera, poderá ajudar a exacerbar esse cenário, tornando o período de 2023 a 2027 o mais quente já registrado, prevê a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Novos picos com El Niño
O fenômeno oceânico e atmosférico, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas na região equatorial do Pacífico, começou há poucos dias, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), com auge entre dezembro e fevereiro de 2024.
Segundo Hausfather, as mudanças climáticas resultantes podem aumentar significantemente o número de áreas afetadas por eventos extremos em todo o mundo.
— No que diz respeito à questão de quando atingiremos os 50% de áreas afetadas no globo, não ficaria surpreso se isso acontecesse no final de 2024, devido ao crescente evento El Niño no Pacífico tropical e à expectativa geral de calor recorde em 2024 — diz.
Conhecido por causar “anomalias climáticas” ao redor do mundo, o fenômeno ocorre com uma periodicidade de dois a sete anos, com duração média de nove a 12 meses, e é oposto do La Niña — que ocorreu em 2018 e 2019, levando a uma queda acentuada nas temperaturas globais.
— Acabamos de ter os oito anos mais quentes já registrados, embora tenhamos tido um resfriamento de La Niña nos últimos três anos — disse recentemente o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. — Isso funcionou como um freio temporário ao aumento da temperatura global. O desenvolvimento de um El Niño provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará a chance de quebrar recordes.
Independentemente do El Niño, eventos de calor extremo têm se tornado cada vez mais frequentes e ocorrem em diferentes regiões, mas não há um “padrão” para a sua ocorrência, ressaltam os autores do estudo.
No Oriente Médio, o destaque foi para a Cidade do Kuwait, com uma população de mais de 3 milhões, onde os termômetros atingiram 53,2°C em junho de 2021, uma das temperaturas mais altas já registradas em uma área densamente povoada. Também foi em Mitribah, estação meteorológica no noroeste do país, onde se registrou a temperatura mais quente documentada na Ásia: 53,9°C em julho de 2016 — o ano mais quente de toda a História.
Fora do período do estudo, o ano de 2023 caminha a largos passos para quebras de novos recordes. Em pouco mais de seis meses, já houve eventos climáticos extremos na Ásia — afetando Índia, Laos, Bangladesh e Tailândia em abril — seca recorde na Europa — atingindo especialmente a Espanha e a França — além de incêndios florestais de grandes proporções no Canadá, com mais de 3,8 milhões de hectares já destruídos e um impacto além-fronteira nos EUA.
E isso sem o efeito do El Niño, que, juntamente com a alta emissão de gases-estufa na atmosfera, poderá ajudar a exacerbar esse cenário, tornando o período de 2023 a 2027 o mais quente já registrado, prevê a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Novos picos com El Niño
O fenômeno oceânico e atmosférico, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas na região equatorial do Pacífico, começou há poucos dias, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), com auge entre dezembro e fevereiro de 2024.
Segundo Hausfather, as mudanças climáticas resultantes podem aumentar significantemente o número de áreas afetadas por eventos extremos em todo o mundo.
— No que diz respeito à questão de quando atingiremos os 50% de áreas afetadas no globo, não ficaria surpreso se isso acontecesse no final de 2024, devido ao crescente evento El Niño no Pacífico tropical e à expectativa geral de calor recorde em 2024 — diz.
Conhecido por causar “anomalias climáticas” ao redor do mundo, o fenômeno ocorre com uma periodicidade de dois a sete anos, com duração média de nove a 12 meses, e é oposto do La Niña — que ocorreu em 2018 e 2019, levando a uma queda acentuada nas temperaturas globais.
— Acabamos de ter os oito anos mais quentes já registrados, embora tenhamos tido um resfriamento de La Niña nos últimos três anos — disse recentemente o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. — Isso funcionou como um freio temporário ao aumento da temperatura global. O desenvolvimento de um El Niño provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará a chance de quebrar recordes.
Independentemente do El Niño, eventos de calor extremo têm se tornado cada vez mais frequentes e ocorrem em diferentes regiões, mas não há um “padrão” para a sua ocorrência, ressaltam os autores do estudo.
E isso, afirmam, pode representar um desafio adicional nas tentativas de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, uma vez que países costumam se preparar com base nos eventos extremos mais significativos que já ocorreram em sua memória coletiva. Isso significaria que áreas que, por “sorte”, ainda não foram afetadas podem estar sob maior risco no futuro próximo.
Nações em risco
Uma pesquisa da revista científica Nature Communications, divulgada em abril, reforça tal tese. Segundo o estudo, o Afeganistão e a Papua Nova Guiné são nações particularmente em risco, graças às suas populações em constante crescimento e recursos limitados de saúde e energia, além de serem localizadas em regiões consideradas vulneráveis.
Ambos são países que pouco contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa, mas sofrem ainda mais com as consequências das mudanças climáticas causadas pelas nações mais industrializadas. A pauta sobre a compensação dos danos por países desenvolvidos a nações mais pobres foi foco na última COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, embora não tenha avançado como o esperado, e cujos detalhes ainda devem ser rematados na COP28, em Dubai, em novembro.
O professor do Instituto de Física da USP Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), afirmou ao GLOBO que tal disparidade ressalta a necessidade de apoio e solidariedade internacional aos países mais vulneráveis.
— A única solução possível é reduzir a emissão de CO2, e o Brasil tem papel fundamental, pois é o sexto país que mais emite. Para isso, é urgente que se reduza o desmatamento e que países desenvolvidos mudem sua matriz energética.
Fonte: O GLOBO
Nações em risco
Uma pesquisa da revista científica Nature Communications, divulgada em abril, reforça tal tese. Segundo o estudo, o Afeganistão e a Papua Nova Guiné são nações particularmente em risco, graças às suas populações em constante crescimento e recursos limitados de saúde e energia, além de serem localizadas em regiões consideradas vulneráveis.
Ambos são países que pouco contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa, mas sofrem ainda mais com as consequências das mudanças climáticas causadas pelas nações mais industrializadas. A pauta sobre a compensação dos danos por países desenvolvidos a nações mais pobres foi foco na última COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, embora não tenha avançado como o esperado, e cujos detalhes ainda devem ser rematados na COP28, em Dubai, em novembro.
O professor do Instituto de Física da USP Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), afirmou ao GLOBO que tal disparidade ressalta a necessidade de apoio e solidariedade internacional aos países mais vulneráveis.
— A única solução possível é reduzir a emissão de CO2, e o Brasil tem papel fundamental, pois é o sexto país que mais emite. Para isso, é urgente que se reduza o desmatamento e que países desenvolvidos mudem sua matriz energética.
Fonte: O GLOBO
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