Visto como profissional tranquilo e bom ouvinte, treinador tem perfil diferente do seu antecessor, Luís Castro

O 2 a 2 do Botafogo contra o Santos foi o primeiro grande teste de Bruno Lage no comando do alvinegro. Há uma semana no comando da equipe, já que começou a dar treinos ao elenco no CT Lonier na última segunda-feira (17), o português teve dois empates com características e significados diferentes no clube. Dentro disso, demonstrou ser um profissional de perfil diferente do seu antecessor, Luís Castro, embora os dois sejam semelhantes na forma com que valorizam os atletas que comandam.

No vestiário, Bruno Lage é bastante ativo e costuma incentivar seus jogadores. Após a partida contra o Santos, o português deu muitas demonstrações de apoio ao grupo e valorizou o ponto conquistado contra o Santos. A conversa não chegou a ser uma comemoração, pois o time e o próprio treinador sabiam que a vitória era possível, ainda mais pelos lances com Carlos Alberto e Philipe Sampaio no fim. Mesmo assim, foi destacado pelo treinador o poder de reação da equipe e a forma como os atletas continuaram buscando o resultado, mesmo com o 2 a 0 adverso e poucos minutos para o fim.

Sem Eduardo e Víctor Cuesta, Lage optou por modificar um pouco a dinâmica do time, principalmente no ataque. Se o resultado de 2 a 0 a favor dos paulistas no início — muito por erros individuais, é verdade — mostrou que a estratégia não deu certo no todo, o empate heroico em 2 a 2 após as alterações e a quase virada no fim foram uma resposta positiva para a coragem do português e o espírito aguerrido do time.

Retrato disso é que, após a partida, Bruno Lage prezou pelo ponto justamente por conta da garra que a equipe demonstrou e também porque suas mexidas deram certo. Não à toa o treinador comemorou tanto o primeiro gol alvinegro. A jogada representou tudo que o técnico valorizou na coletiva.

— Preparamos a entrada do Carlos Alberto pela direita para abrir o jogo. Queríamos ter um homem mais pelos lados e fizemos um gol no contra-ataque. Depois a equipe voltou a ter reação. Foi uma jogada fantástica, com um trabalho muito bom dos dois pontas de lança. A equipe acreditou sempre e poderia ter virado o jogo. 

Resume-se a isso. É mais um ponto na caminhada do Botafogo — enfatizou Lage, que também falou sobre a jogada em outra resposta: — O Janderson era fazer as corridas nele porque tem chegada forte. A equipe fez isso com perfeição, além de baixar o Tchê para ligar e procurar furar a linha defensiva. As vezes a ideia é boa e não resulta, e hoje resultou. Reforço, o nosso primeiro gol foi muito bem trabalhado na área pelos dois pontas de lança e um meio com maturidade para andar de frente para outros pontas encostarem.

As reações de Bruno Lage ao longo da partida também foram tema de debate nas redes sociais. Isto é porque alguns torcedores alvinegros se incomodaram com a tranquilidade do treinador após o gol de empate marcado por Adryelson. No entanto, nos bastidores, pessoas que estão no dia a dia do clube, entre jogadores e funcionários, viram a situação com normalidade. Afinal, é assim que Lage se comporta no dia a dia e nos jogos, desde a época de Benfica (veja exemplo abaixo).
Perfil tranquilo e de bom ouvinte

Durante a última semana, Bruno Lage mostrou ter um perfil completamente diferente do seu antecessor português, Luís Castro. Querido pelo grupo de jogadores, Castro era visto como mais centralizador. Como foi contratado logo no início do projeto da SAF como um parceiro de John Textor, o técnico dava as rédeas no centro de treinamento e tinha voz importante no departamento de futebol do clube.

Lage, por sua vez, chega num Botafogo muito mais estruturado, seja nos setores do departamento de futebol, no centro de treinamento ou no Nilton Santos. Dessa forma, desde que pousou no Rio de Janeiro, se colocou muito mais na posição de entender o funcionamento do clube do que tomar decisões. 

Nessa questão, Lúcio Flávio foi figura importantíssima. Além disso, o treinador e sua comissão técnica tiveram conversas com pessoas da diretoria e do setor de análise de desempenho, que, aliás, foi elogiado pelo português.

— Essa é a minha forma de trabalhar, além de uma relação muito forte com o Departamento de Análise do clube, que também é muito bom, fiquei muito surpreendido com as informações quando cheguei. Uma primeira palavra, porque é minha primeira semana. Estrutura é muito importante, fizeram nos sentir em casa, deram um estudo e todo liberdade para mudar coisas no CT. Nos sentimos confortáveis — enfatizou.

Como o próprio Bruno Lage revelou durante a coletiva, o treinador segue morando em um hotel na Barra da Tijuca desde que chegou ao clube. Sendo assim, pouco saiu para conhecer a cidade. Mesmo assim, também tentou se inteirar de como funciona o Rio de Janeiro, as questões de segurança etc. Mas o foco real de Lage, visto como um profissional tranquilo e ótimo ouvinte, foi em, de fato, entender o mais rápido possível, como funcionam os processos de trabalho do clube, e conhecer de maneira profunda seu elenco de jogadores.


Fonte: O GLOBO