Com viagem marcada para a Bélgica no domingo, Lula terá visitado 14 países em pouco mais de seis meses, em busca de alavancar a imagem do Brasil no cenário internacional

Dez viagens, 14 países. Com viagem marcada para a Bélgica neste fim de semana, este será o balanço de pouco mais de seis meses de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem priorizado as agendas no exterior como uma prova de que "o Brasil voltou", em suas próprias palavras, ao cenário internacional, após quatro anos de afastamento durante o governo de seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A décima viagem do presidente será para Bruxelas, para participar da reunião entre a Celac (Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e a União Europeia (UE). O encontro, que acontecerá nos dias 17 e 18 deste mês, reunirá 60 líderes das duas regiões.

Na cúpula, serão discutidos assuntos como tensões geopolíticas, aumento da fome e da pobreza, desafios ambientais e reforma do sistema financeiro internacional. Durante sua estadia em Bruxelas, Lula deve se encontrar com a presidente da UE, Ursula von der Leyen, para discutir o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE. O desfecho desse acordo, negociado ao longo de duas décadas, tem sido prioridade na política externa brasileira.

Para julho e agosto, o presidente também tem viagens previstas para São Tomé e Príncipe, para participar da cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e África do Sul, para encontro do Brics.

Relembre as viagens internacionais de Lula desde o início do terceiro mandato:

Julho: Colômbia e Argentina


Antes de sua próxima viagem à Europa, a quarta do ano, o presidente Lula visitou a Colômbia, no último dia 8, onde se encontrou com o presidente Gustavo Petro no fórum científico sobre a Amazônia, realizado na cidade de Letícia, na fronteira entre os dois países. Durante o evento, Lula enfatizou a importância da cooperação entre os países da região para preservar a floresta amazônica e desenvolver políticas sustentáveis ​​para os moradores que dependem da biodiversidade.

No mesmo mês, o presidente participou da Cúpula do Mercosul, na Argentina, entre os dias 3 e 4, marcando o início da Presidência rotativa do Brasil no bloco — e a segunda viagem do presidente ao país vizinho neste ano. Um dos pontos de divergência no encontro em Puerto Iguazú foi a postura de Lula em relação à Venezuela de Nicolás Maduro.

Junho: Vaticano e França

Descrita como um "encontro de velhos conhecidos", a ida do presidente ao Vaticano, em 21 de junho, onde se encontrou com o Papa Francisco, rendeu uma "boa conversa sobre a paz no mundo", como afirmou Lula no Twitter na ocasião. Mas apesar do intuito de Lula de debater uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia, o assunto não foi explicitamente discutido. Em vez disso, os principais temas centraram-se na busca pela paz, preservação ambiental e redução da fome e pobreza globalmente.

Na mesma viagem, Lula também se reuniu com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e com a primeira-ministra Giorgia Meloni, em Roma.

Nos dias seguintes, Lula participou de uma série de compromissos na França, durante a Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris. O acordo UE-Mercosul foi uma das pautas centrais durante a agenda na França, e Lula chegou a dizer que as exigências do bloco europeu eram uma "ameaça". O assunto sobre a guerra na Ucrânia também foi discutido em um almoço entre Lula e o presidente francês, Emmanuel Macron, mas os dois líderes não conseguiram convergir e mantiveram suas próprias convicções em relação ao conflito.

Maio: Japão e Reino Unido

Em maio, o presidente Lula foi convidado pelo premier japonês, Fumio Kishida, a participar da Cúpula do G7, que ocorreu em Hiroshima entre os dias 19 e 21 daquele mês. Lula foi como representante de algumas nações importantes do do chamado "Sul Global", juntamente com os líderes da Austrália, Comores, Ilhas Cook, Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Vietnã. O Brasil participou das cúpulas do G7 de 2004 a 2009, durante os dois mandatos de Lula, sendo a deste ano a primeira participação do país na reunião desde então.

No início do mesmo mês, Lula viajou a Londres, no Reino Unido, como convidado da coroação do Rei Charles III. Antes da celebração, o petista também se reuniu com o premier britânico, Rishi Sunak. A reunião rendeu uma promessa de doação de RS$ 500 milhões ao Fundo Amazônia por parte do governo britânico.

Abril: China, Emirados Árabes, Portugal e Espanha

A agenda de abril de Lula começou com uma viagem à China, que havia sido originalmente programa para ocorrer em março, mas foi postergada devido a uma leve pneumonia. Em Pequim e Xangai, o presidente assinou 15 acordos e deu declarações vistas como antagônicas a Washington em um momento de forte rivalidade sino-americanas, afirmando que os americanos e europeus incentivam a guerra na Ucrânia.

Na volta, durante uma passagem por Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, o petista equiparou as responsabilidades de Moscou e Kiev na invasão russa da Ucrânia. Ambas declarações geraram maciças críticas de Washington e seus aliados, com a União Europeia (UE).

O assunto ainda dominou parte da viagem de Lula à Europa no fim do mês, quando o petista foi à Península Ibérica buscando estancar a crise causada por suas declarações e restaurar o afastamento dos anos anteriores. Em cinco dias em Portugal, Lula se encontrou com autoridades locais e assinou 13 acordos referentes a temas como validação do grau escolar e habilitação, facilitando a vida de milhares de brasileiros que moram em terras lusitanas.

Em dois dias na Espanha, Lula foi recebido pelo primeiro-ministro Pedro Sánchez, que em julho assumirá a Presidência do Conselho da União Europeia, e pelo rei Felipe VI.

Fevereiro: Estados Unidos

O encontro entre o petista e o presidente dos EUA, Joe Biden, ocorreu em fevereiro, em viagem a Washington. Temas como clima, igualdade racial e social e fortalecimento da democracia foram discutidos na reunião bilateral, que também teve a guerra na Ucrânia como pauta.

O conflito foi novamente um ponto de divergência nas conversas, com Biden esperando um posicionamento mais assertivo de Lula em relação à questão. O presidente brasileiro, por sua vez, defendeu seu ponto sobre a criação de uma governança global para promover conversas que culminassem no fim do conflito.

A agenda em Washington também incluiu encontros com o senador independente Bernie Sanders e com parlamentares americanos.

Janeiro: Argentina e Uruguai

Lula deu o pontapé inicial em sua agenda internacional em janeiro, com uma passagem pela Argentina, onde se encontrou com o presidente Alberto Fernández e participou da cúpula da Celac — ignorada pelo seu antecessor, que retirou o Brasil da aliança em 2019 —, antes de fazer uma escala em Montevidéu, no Uruguai, na volta.

O encontro com Fernández marcou uma nova fase da relação entre os dois países, abalada durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que procurava se manter distante do mandatário vizinho por falta de alinhamento ideológico.


Fonte: O GLOBO