Temperatura projetada para o mês será cerca de 1,5ºC acima da média do planeta antes da Revolução Industrial, acendendo um alerta para as metas do Acordo de Paris
Depois da onda de calor no verão do Hemisfério Norte provocar uma série de fenômenos extremos no mês passado, as previsões de que o pior ainda estaria por vir se confirmaram nesta quinta-feira. De acordo com um estudo do cientista climático Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, julho de 2023 é o mês mais quente já registrado na História do planeta.
Segundo a análise divulgada nesta quinta, a média global de temperatura projetada para o mês pode ser de 1,3ºC a 1,7ºC mais quente do que era o planeta antes do período pré-Revolução Industrial. Os dados também apontam que este julho ainda marcará 0,2ºC a mais do que o de 2019, dono do recorde anterior.
— Com base em dados preliminares, incluindo a previsão de temperaturas até o final do mês, é praticamente certo que julho de 2023 será o julho mais quente por uma ampla margem — afirma Haustein. — Talvez tenhamos que voltar milhares, se não dezenas de milhares de anos, para encontrar condições igualmente quentes em nosso planeta.
De acordo com o documento, esta não é a primeira vez que um mês supera a marca de 1,5°C acima da média pré-industrial. O mesmo fenômeno já ocorreu em 2016 e 2020, mas nunca havia acontecido durante a temporada de verão do Hemisfério Norte, quando o planeta está no ápice do calor.
A informação revelada nesta quinta acende um alerta para os países signatários do Acordo de Paris, cuja meta é limitar permanentemente o aquecimento global a 1,5ºC acima do período pré-industrial — o que, ao que tudo indica, será facilmente superado neste mês.
De acordo com o próprio estudo, os dados não significam que o limite estabelecido no acordo já tenha sido ultrapassado, já que o tratado considera a variação em um longo espaço de tempo. No entanto, é um forte indicativo de que o mundo está em vias de não conseguir cumpri-lo, sobretudo pelas medidas — vistas pelos cientistas como insuficientes — para reduzir as emissões de gases na atmosfera.
Ao menos 15 países quebraram recordes locais de temperatura em julho. No Vale da Morte, nos Estados Unidos, foi registrada a noite mais quente do mundo, com termômetros chegando a 48,9°C de madrugada. A região, que detém o recorde global com a marca de 56,6ºC em 1913, também viu o calor ultrapassar os 53ºC neste mês. Em Phoenix, no estado americano do Arizona, a cidade passou 21 dias consecutivos com termômetros marcando mais de 43,3ºC.
Recordes também foram batidos na China, Argélia e Itália, fora as temperaturas registradas nos oceanos, que seguem aumentando sem parar. Além do calor extremo, o aquecimento global também impulsionou uma série de enchentes fatais na Coreia do Sul, Japão, China, Índia, Paquistão e EUA neste mês. Por outro lado, as geleiras da Antártica atingiram o nível mais baixo do ano.
— O recorde ocorre no momento em que o El Niño acaba de ser declarado no Pacífico tropical. Embora contribua para o calor, a razão fundamental para que estejamos vendo esses recordes é a liberação contínua de grandes quantidades de gases de efeito estufa pelos seres humanos — explica o autor do estudo. — Como os efeitos do El Niño só se manifestam totalmente na segunda metade do ano, junho e agora julho provavelmente será seguido por mais meses de calor recorde até pelo menos o início de 2024.
Para Zeke Hausfather, pesquisador da ONG americana Berkeley Earth, as altas temperaturas observadas impulsionam as chances de 2023 vir a ser o ano mais quente desde o início dos registros de calor no mundo, por volta de 1800.
— Nossas emissões passadas de CO2 se acumularam na atmosfera e, mesmo sem nenhum aquecimento adicional, este século será mais quente do que qualquer período semelhante nos últimos 120 mil anos — ressalta Hausfather.
— Os efeitos do evento El Nino que está ocorrendo este ano serão sentidos ainda mais fortemente nas temperaturas da superfície global em 2024, portanto, se o mundo estabelecer um novo recorde em 2023, é provável que ele seja rapidamente superado. A única maneira de impedir que a Terra continue a se aquecer e que os eventos extremos associados à mudança climática se tornem mais graves é reduzir as emissões globais de CO2 a zero.
Fonte: O GLOBO
Fonte: O GLOBO
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