Ajudante do ex-presidente Bolsonaro tem salário de R$ 26 mil, mas movimentou R$ 3,2 milhões em somente seis meses

Na próxima semana, a CPMI dos Atos Golpistas analisa o relatório do Coaf, que mostrou movimentação atípica nas contas de Mauro Cid, ajudante do ex-presidente Jair Bolsonaro. Até agora, o grande mérito da comissão foi evitar a absurda tentativa bolsonarista de colocar os ataques golpistas do 8 de janeiro na conta do novo governo. Mas ela pode avançar com o que se descobriu.

O tenente coronel Mauro Cid tem se escondido atrás do silêncio e da farda para não dar explicações dos seus atos. Mas agora precisará explicar à Receita Federal como ele, que tem um salário de R$ 26 mil, movimentou em seis meses R$ 3,2 milhões, entre entradas e saídas. Nesse período, recebeu R$ 1,8 milhão e saíram R$ 1,4 mil. Nessa época, ele fez uma remessa para uma conta nos Estados Unidos de R$ 367 mil.

Cid deve explicações também sobre porque pressionou e mobilizou o aparelho do estado, um avião da FAB, e tentou fazer com que a Receita Federal contornasse proibições de leis e normas para levar joias de valor milionário para o próprio presidente e sua família. Ainda há a fraude das vacinas, documentos e diálogos que mostram a participação dele em conversas contra a democracia e indícios de que pagava as contas de Michelle Bolsonaro. Sobre tudo isso ele mantém silêncio e na CPI não quis revelar nem a sua idade.

Mas diante das autoridades tributárias, poderá ficar em silêncio? Não. Esse é um dinheiro volumoso demais em relação ao salário que tem. Precisa haver uma declaração de Imposto de Renda compatível com esse dinheiro.

Ele pode dizer que foi herança, que foi um patrimônio acumulado ao longo do tempo, mas o fato é que entraram R$ 1,8 mil em sua conta em seis meses. Esse dinheiro veio de onde?

Entre as transações feitas, o Coaf encontrou movimentações com o sargento Luis Marcos dos Reis, que era subordinado de Cid na Presidência e também é investigado pela Polícia Federal, e outras envolvendo um "caixeiro viajante", um "ourives" — profissional especializado em trabalhar com ouro e outros metais preciosos — e um tio da sua mulher.

Há ainda outro assunto que surgiu em relação ao ex-presidente Bolsonaro, que fez uma vaquinha para receber doações com o objetivo de pagar multas processuais. Foram arrecadados R$ 17 milhões, que entraram diretamente na conta dele, mas sem o recolhimento de qualquer imposto de doação.

O fato é que Bolsonaro e Mauro Cid estão também encrencados junto à Receita Federal.

Na semana que vem, a CPMI começa a se debruçar em relação aos dados do Coaf, e há possibilidade de que avance, porque até agora patinou. Quando depôs, Cid não respondeu nem a sua idade, e foi inclusive acusado de ter abusado do seu direito ao silêncio.


Fonte: O GLOBO