Empresários do setor apontam que o consumo fraco é o principal entrave hoje da economia, à frente da carga tributária e dos juros altos

O setor industrial brasileiro elegeu, no segundo trimestre deste ano, como principais problemas enfrentados a demanda interna insuficiente, a elevada carga tributária e as taxas de juros. A falta ou alto custo de trabalhador qualificado e a competição desleal também fazem parte da lista e estão na quarta e na quinta posições, respectivamente.

Esses dados fazem parte da Sondagem Industrial, divulgada periodicamente pela CNI. Foram entrevistados 1.599 empresários de 1º a 11 de julho.

A fraca demanda ficou em primeiro lugar entre os principais problemas citados pelos empresários industriais, com 37% do total e com um aumento de 3,7 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre. Na segunda posição, 33,7% mencionaram a elevada carta tributária. O percentual teve uma pequena queda de 0,9 ponto percentual.

Em terceiro lugar, as taxas de juros elevadas foram citadas por 31,3% dos entrevistados, com uma alta de 2,5 p.p. A falta ou o alto custo de mão-de-obra qualificada foi o quarto problema mais mencionado no segundo trimestre e alcançou o maior percentual já registrado até agora, de 15,6%, enquanto 15,5% apontaram a competição desleal.

Além desses dados, a Sondagem Industrial avalia se houve melhora ou piora em indicadores como produção, preços das matérias-primas, emprego industrial e estoques. Em uma escala de zero a 100, acima de 50 pontos é uma alta e abaixo uma queda.

De acordo com a economista Paula Verlangeiro, os problemas apontados pelos empresários explicam o fato de a indústria ter tido um desempenho pior em junho de 2023, na comparação com o mês anterior. No mês passado, o emprego industrial caiu pelo nono mês consecutivo e a produção recuou 5,3 pontos.

Ao sair de 51,6 pontos em maio para 46,3 pontos em junho, a produção cruzou a linha que separa a queda da alta na produção.

Já o índice de evolução do número de empregados foi de 48,4 em maio para 48,6 pontos em junho de 2023, o que corresponde a um ligeiro aumento de 0,2 ponto frente a maio.

— A queda do emprego foi mais branda e menos disseminada para o mês do que nos anos anteriores. No caso da produção, foi diferente. O recuo foi mais intenso do que o esperado para o mês de junho. A queda desses indicadores vem em linha com a perda do ritmo de crescimento, devido à política monetária — afirmou Verlangeiro.

Preços em queda e ociosidade elevada

O indicador de evolução do preço de matérias-primas sofreu uma queda de 6,4 pontos, passando para 49,5 pontos. Essa é a primeira vez que esse indicador ficou abaixo da linha divisória dos 50 pontos na série histórica, o que indica preços em queda.

A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) ficou estável na passagem de maio para junho, mantendo-se em 69%. O percentual foi de 71% e, em 2022, de 70%. É o menor percentual para o mês nos últimos três anos.

Ainda segundo a CNI, as perspectivas quando aos próximos seis meses são positivas. As expectativas subiram e ficaram acima de 50 pontos, o que sinaliza maior otimismo dos empresários. O índice foi de 55,6 pontos, um aumento de 1 pp ante o período anterior.


Fonte: O GLOBO