Ocupação cresce puxada pelo emprego sem carteira assinada. País tem 8,6 milhões de pessoas em busca de uma oportunidade no mercado de trabalho

A taxa de desemprego recuou de 8,8% em março para 8% no segundo trimestre deste ano, totalizando 8,6 milhões de pessoas em busca de uma oportunidade no mercado de trabalho no país. Houve um aumento no número de empregados sem carteira, trabalhadores domésticos e pessoal no setor público (com ou sem carteira). É o que apontam os dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE, referentes a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Este é o menor resultado para o período desde 2014, quando ficou em 6,9%.
O resultado veio melhor do que o esperado. A mediana das projeções dos analistas apontava para uma taxa em 8,2% no período.

No trimestre encerrado em março de 2023, que serve de base de comparação, o desemprego ficou em 8,8%.

A expansão do emprego veio principalmente das atividades relacionadas à administração pública, saúde e educação. Também houve avanço vinculado ao setor de serviços, como os de embelezamento e serviços recreativos. Segundo o IBGE, todas essas atividades concentram mão de obra temporária e é comum que haja uma dispensa no primeiro trimestre e uma posterior retomada do contingente nos trimestres seguintes.

Emprego sem carteira puxa aumento na ocupação

A população ocupada cresceu 1,1% na comparação trimestral e 0,7% na anual, chegando a um total de 98,9 milhões de trabalhadores. O vínculo que puxou o aumento da ocupação veio de um dos segmentos da informalidade: o emprego sem carteira assinada. Houve o ingresso de 303 mil pessoas nessa condição no trimestre, totalizando 13,1 milhões.

O número de trabalhadores domésticos cresceu 2,6%, totalizando 5,8 milhões de trabalhadores, no confronto com o trimestre anterior. Esses movimentos fizeram a taxa de informalidade registrar ligeira alta de 39,2% no segundo trimestre, ante uma taxa de 39% no primeiro trimestre, e de 40,0% no mesmo período de 2022.

Por outro lado, na categoria de trabalhadores por conta própria, o contingente ficou estável em 25,2 milhões de pessoas. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve uma uma redução de 491 mil pessoas. O emprego com carteira assinada também ficou estável no período, totalizando 36,8 milhões de pessoas, mas com mais 991 mil pessoas em relação ao mesmo trimestre do ano passado.

O número de empregados no setor público (com ou sem carteira assinada), por sua vez, cresceu 3,8% frente ao trimestre anterior. Houve um acréscimo de 450 mil pessoas no período.

Desalento e subutilização caem. Rendimento fica estável

O total de pessoas subutilizadas - que inclui aqueles que trabalhavam menos horas do que gostariam e as pessoas que não buscaram emprego, mas estavam disponíveis para trabalhar - recuou 5,7% no trimestre, ficando em 20,4 milhões. O número de pessoas desalentadas - que reúne os que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego por acharem que não encontrariam - também diminuiu: houve queda de 5,1% no trimestre, totalizando 3,7 milhões.

Já o rendimento do trabalhador, já descontado a inflação, ficou estável frente ao trrimestre anterior (R$ 2.921). A massa de rendimento também ficou estável contra o trimestre anterior em R$ 284,1 bilhões, mas subiu 7,2% na comparação anual.

Caged X Pnad

Na quinta-feira foram divulgados os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de junho, que também tratam sobre o emprego. Mas estes são diferentes dos dados da Pnad, do IBGE.

Os dados do Caged são atualizados pelo Ministério do Trabalho e consideram somente os trabalhadores com carteira assinada. Os dados vêm dos registros que as empresas enviam ao ministério, que é responsável por controlar as admissões e demissões dos trabalhadores sob o regime da CLT. Já na Pnad contínua, pesquisa do IBGE, são investigados todos os tipos de ocupação, formais e informais, além de empresários e funcionários públicos.

Perspectivas

O desempenho do mercado de trabalho tende a ser moderado ao longo dos próximos meses, segundo economistas, em linha com o processo de desaceleração da atividade. Mas bons resultados na economia podem ajudar a sustentar a queda da taxa.

O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) do FGV IBRE subiu 2,2 pontos em junho, para 76,8 pontos, maior nível desde outubro de 2022 (79,8 pontos). O resultado compensa as quedas dos últimos dois meses, mas não se afasta do patamar de 75 pontos que o índice vem oscilando desde a virada para 2023.

“Esse resultado sugere que ainda existe cautela sobre o retorno a uma trajetória mais favorável do mercado de trabalho nos próximos meses, mas pode ser um primeiro sinal positivo. Para os próximos meses, boas notícias do ambiente macroeconômico serão fator fundamental para geração de empregos”, avaliou Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE


Fonte: O GLOBO