Em entrevista ao GLOBO, o secretário municipal de Saúde São Paulo, Luiz Carlos Zamarco diz que cidade ainda não tem testes específicos para identificar o entorpecente
O desafio para traçar um plano estratégico para impedir o espraiamento do uso desse tipo de entorpecente é grande. As identificações de registros suspeitos ocorrem em toda a parte na cidade e a Zona Leste é líder em registros, com 55,1% dos casos neste ano. A Zona Norte teve 17%, a região Sudeste foi a 15%, a Sul a 9,2%, o centro (onde fica a cracolândia), 3,3%, e a Zona Oeste, 0,4%. As contagens correspondem às coordenadorias regionais de saúde, determinadas pela prefeitura.
De acordo com Zamarco, o que explicaria o avanço desse tipo de droga na periferia de maneira mais intensa do que no centro, onde há cenas explicitas de uso de entorpecentes, seria um recorte de renda e perfil de uso.
— A Zona Leste, onde há mais registros, tem uma concentração maior de pessoas na faixa etária do uso desse tipo de droga (jovens adultos). Há também uma população com baixo poder aquisitivo, e esse tipo de droga tem baixo custo — afirma o secretário.
Como são registrados os casos
Os registros de casos suspeitos são feitos por meio da análise dos sintomas. Isso porque não existe ainda um rastreio laboratorial que identifique qual derivação dessa "família" foi usada por aquela pessoa em específico. Zamarco explica que negocia um convênio com a Universidade de Campinas (Unicamp), com intermédio do Ministério da Justiça, para que haja um laudo mais determinante de cada caso.
Neste momento, o diagnóstico de uso suspeito ocorre por meio de análise médica junto ao paciente, por meio de relatos e sintomas visíveis. Daí a importância de realizar treinamento com a equipe de saúde paulistana para reconhecer os aspectos característicos da intoxicação por esse tipo de substância.
— Muitas vezes esse paciente chega na emergência convulsionando. Ele não consegue, por vezes, se comunicar. Às vezes é possível saber qual droga ele usou no momento da anamnese (diálogo entre o médico e paciente), mas alguns chegam tão graves que não é possível nem ouvir deles qual tipo de substância usou — diz Zamarco. — É pior que o crack, o paciente chega muito debilitado. Por vezes com taquicardia, o que leva a um desfecho fatal.
O tratamento é feito a partir também dos sintomas. Ao chegar na unidade de saúde, é indicado que o dependente fique abstinente e, é possível que essa pessoa receba ansiolíticos, para lidar com a "fissura" causada pela ausência da droga. Cada paciente, contudo, é avaliado individualmente.
Efeitos dos canabinoides sintéticos
Os efeitos no corpo desse tipo de droga ainda são uma incógnita para muitos especialistas, porém, entre as descrições, pode-se dizer que elas causam uma dependência grande e de forma rápida. Em seu método de ação, atinge diversas regiões do corpo, tem potencial para aumentar a depressão e pode aumentar a frequência cardíaca. O usuário ainda pode ser acometido por acessos de raiva, agressividade, paranoia, alucinações, ansiedade e convulsões.
Em casos mais graves, o paciente pode ter insuficiência renal, arritmias cardíacas, levando a uma parada cardiorrespiratória e morte.
A Drug Enforcement Administration (DEA) — órgão de federal de segurança do Departamento de Justiça dos Estados Unidos encarregado da repressão e controle de narcóticos — alertou que a droga também pode ser encontrada em cigarros eletrônicos. O país vive uma epidemia de drogas sintéticas desde 2018, segundo a ONU.
A primeira ocorrência da droga no Brasil é de 2017, mas foi em 2022 que começou a se espalhar na região da cracolândia e virou uma verdadeira febre. No ano passado, as apreensões do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime (GAECO) cresceram 600% em comparação a 2021.
Fonte: O GLOBO
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