No momento em que PP e Republicanos, do Centrão, negociam o comando de ministérios, André Figueiredo critica o Planalto por colocar em segundo plano partidos aliados, como o seu PDT

Alçado ao cargo de líder do maior bloco da Câmara — o do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que reúne União Brasil, PP, PSDB, Cidadania, PSB, Avante, Solidariedade, Patriota e PDT —, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) ainda vê dificuldades para o governo consolidar sua base. Segundo o parlamentar, no momento, não há como garantir maioria folgada, mesmo com a reforma ministerial que se avizinha.

No momento em que PP e Republicanos, do Centrão, negociam o comando de ministérios, Figueiredo critica o Palácio do Planalto por colocar em segundo plano partidos aliados, como a sua sigla. Em fevereiro, ele assumiu interinamente a presidência do PDT após a licença de Carlos Lupi para assumir o Ministério da Previdência.

O senhor lidera o maior bloco da Câmara, com 174 deputados. Como vê a reforma ministerial, que deve contemplar o PP e o Republicanos?

É imprescindível para a governabilidade. O país de hoje é muito diferente do primeiro mandato do Lula. Ele sempre foi muito responsável, sabe que é necessário muito diálogo, sem aderir a uma pauta conservadora. Ele sabe que precisa manter diálogo com esses partidos. É oportuno que tenham ministérios.

Com pastas para Republicanos e PP, o Congresso se verá representado na Esplanada?

Falando pelo bloco que lidero, acho extremamente salutar que Esporte e Desenvolvimento Social fiquem com esses partidos. André Fufuca e Silvio Costa Filho são respeitados e poderíamos, sim, dialogar com eles. 

Mas as pastas que serão deixadas com cada um dependem do Lula. Se ele vai redirecionar o Bolsa Família, se não vai, não sei. Mas seriam bons nomes e nós no Congresso adoraríamos dialogar com eles.

O seu antecessor na liderança do bloco, Felipe Carreras, disse haver uma dificuldade de interlocução com o governo. Esses ministérios acabariam, de uma vez, com esta questão?

Não posso dizer que há uma facilidade consolidada, até o momento, neste diálogo. Há um esforço maior do governo e, às vezes, a demora no diálogo complica votações. Basta ver o que ocorreu na Reforma Tributária, aprovada no limite do prazo. Esperamos, sim, que isto seja resolvido no segundo semestre. 

Mas, não posso dizer que isto será resolvido apenas com uma reforma ministerial. No PDT mesmo, existem muitas reclamações. Temos um ministério, mas acabamos tendo pouco poder de execução. Perdemos o DataPrev, por exemplo. Além disso, há mais esforços em dialogar com os partidos de centro do que com a base. 

Nós temos também as nossas insatisfações. O governo tem sido bastante pragmático na questão numérica. Somos 18 deputados com coerência com os nossos princípios. Ninguém vai nos impor posicionamentos na nossa bancada e temos, sim, insatisfações.

A despeito de uma ala do seu partido defender a independência, o senhor se compromete a trabalhar para garantir a governabilidade?

Claro. Temos o próprio Ciro Gomes se manifestando favoravelmente à governabilidade. Ele tem uma posição da qual discordo. Mas não abriremos mão dos nossos princípios. Esperamos ter uma pauta voltada para a recuperação das pensionistas neste segundo semestre, por exemplo. Essa é uma prioridade do ministro Carlos Lupi. Precisamos reduzir as filas da Previdência e queremos uma mitigação dos danos previdenciários em todos os setores.

PDT e PSB foram criticados por aderirem ao superbloco de Lira . Como avalia a convivência com legendas como o PP e o União ? O PDT está no lugar certo?

Não haveria ambiente melhor, eu digo com convicção. A decisão em aceitar participar do superbloco foi extremamente acertada, até para a governabilidade do presidente Lula. União e PP nos procuraram, já cedendo a presidência do bloco e dispostos a fazer um acordo por sucessão. O bloco não vincula as legendas em todas as votações. Eventualmente, podemos discordar. Aprovamos o novo arcabouço e a Reforma Tributária.

O senhor preside interinamente o PDT e é do Ceará, estado de Ciro Gomes. Ele se mostra contrário a uma aliança local com o PT. Qual é a sua opinião?

Na questão estadual, me licenciei do diretório para que o Cid Gomes assuma. O PDT quer, sim, a prefeitura de Fortaleza. Temos dez deputados estaduais, de um total de 13, com apoio ao governador Elmano de Freitas (PT). 

Então, somos independentes e liberamos a bancada. Mas as atitudes demonstradas pelo PT, parecem que não querem o PDT em sua base. Me mantenho em acordo com Ciro. Fortaleza precisa de atenção do governo do estado. O PT precisa olhar com mais atenção para isso, estivemos do mesmo lado deles na trincheira nos últimos anos. 

Precisam nos respeitar, já que no ano que vem teremos eleições. Essa discussão agora pertence ao Cid. Hoje, acho que se o PT não apoiar o José Sarto para a prefeitura de Fortaleza no ano que vem, não temos motivos para estarmos com eles hoje.

Como a Câmara e seu bloco se comportarão para chegar ao texto final do PL das Fake News?

Temos discutido a importância de aprovar este projeto. Nas palavras de Lira, precisaremos de um grande esforço para chegarmos ao consenso.

Será possível entregar qual percentual de votos?

Dependerá do momento. É difícil estimar num bloco tão heterogêneo. Eu espero que ao menos 50% nos acompanhe. Mas o PL só será pautado se tivermos votos suficientes.


Fonte: O GLOBO