Companhia aérea americana assumiu instalações usadas originalmente pela Varig e operadas pela TAP, entre 2005 e 2022; 450 funcionários já trabalham no local

A companhia aérea americana United Airlines inaugurou neste mês seu centro de manutenção de aeronaves no Aeroporto Internacional do Galeão. Os investimentos na modernização e adaptação do hangar, inaugurado pela Varig em 1976 e operado pela portuguesa TAP de 2005 a 2022, somaram R$ 100 milhões, informou a RIOgaleão, concessionária que opera o aeroporto.

Segundo a empresa, a expectativa é que o centro de manutenção gere em torno de 1 mil empregos, acima dos 600 que chegou a empregar mais recentemente, no auge da operação da TAP. Atualmente, são 450 funcionários, informou a United ao GLOBO.

De acordo com Leandro Dantas, diretor Comercial da RIOgaleão, novos investimentos estão para ser anunciados no “desenvolvimento imobiliário”, como é chamada a cessão de áreas do entorno do terminal para outras atividades econômicas, como shopping centers, hotéis, instituições de ensino, manutenção de aeronaves, galpões logísticos e aviação executiva.

'Aerotrópole'

No total, o Galeão tem 1,7 milhão de metros quadrados, dos quais 800 mil podem ser destinados a essas atividades. Segundo Dantas, embora a cessão desses espaços responda por cerca de 5% do faturamento total da concessionária, esse conjunto de serviços é estratégico e responde por boa parte dos impactos positivos de um terminal aéreo na economia local.

– O projeto de “aerotrópole” é importante para qualquer aeroporto. Os aeroportos internacionais que têm áreas disponíveis têm a maior capacidade de realização disso, porque têm atividades diferentes – afirmou Dantas

Hub de manutenção

A RIOgaleão divide os negócios de desenvolvimento imobiliário em quatro segmentos. Um deles é o hub de manutenção de aeronaves. Ao lado do hangar assumido pela United Airlines já está uma oficina da GE Celma, da multinacional americana, especializada na manutenção de motores.

Segundo Dantas, o centro da United Airlines, que ocupa uma área total de 60 mil metros quadrados, funciona como âncora desse hub.

A unidade tem capacidade de atender, ao mesmo tempo, três jatos de grande porte, informou a United Airlines. “Nosso novo hangar no Rio e a equipe de técnicos da United permitem que a companhia realize serviços completos de manutenção em aeronaves widebody (de fuselagem larga)”, disse a empresa, em nota.

A chinesa Drayton, especializada na manutenção de trens de pouso, também se instalará no hub, informou Dantas. O investimento será de R$ 6 milhões, numa área de 7 mil metros quadrados, com a contratação de 300 funcionários e início de operação até o fim do ano.

Outras duas empresas de componentes, especializadas na manutenção de equipamentos eletrônicos, bússolas e assentos, estão em negociação com a RIOgaleão, para fazer investimentos do mesmo porte.

A concessionária negocia ainda a instalação de um centro equivalente ao da United. Uma unidade nova exigiria investimento de R$ 500 milhões, disse Dantas, mas será possível investir em torno de R$ 350 milhões – boa parte do aporte se dá na preparação do solo, para suportar o peso dos aviões, na década de 1980, quando a Varig planejava uma oficina ainda maior. Uma concorrência privada deverá ser lançada no primeiro trimestre de 2024.

Galpões de armazenagem

Um segundo segmento do desenvolvimento imobiliário é a armazenagem. O Galeão tem 400 mil metros quadrados para isso. O foco é a logística de cargas, que chegam de avião ou que aguardam distribuição final.

Em agosto, será inaugurado um armazém de 30 mil metros quadrados, da Hire Capital, empresa de investimentos imobiliários. Um galpão de 20 mil metros quadrados, operado pela própria RIOgaleão, será reinaugurado em junho de 2024 – está em obras de recuperação após um incêndio.

Varejo e educação

O terceiro segmento é o varejo. São negócios voltados para a população do entorno ou para atender passageiros, mas fora do terminal – é o caso dos hotéis. O Galeão já tem um hotel dentro do terminal de passageiros e uma unidade da marca Linx no entorno. Segundo Dantas, a ideia é ter mais uma unidade, de bandeira internacional, no entorno.

Também fazem parte desse segmento o shopping Aldeia Bay Mall, que será inaugurado totalmente em outubro, com foco em restaurantes. Ao lado, já existe um campus da Universidade Estácio de Sá, que atende 3 mil alunos presencialmente.

Segundo o diretor da RIOgaleão, em outro terreno próximo, será instalado mais um negócio de educação, voltada para ensino fundamental e técnico. A inauguração está prevista para 2025. O plano de negócios inclui ainda a possibilidade de atrair uma unidade hospitalar.

O quarto e último segmento do desenvolvimento imobiliário são as instalações de aviação executiva, para jatinhos particulares ou de táxi aéreo. O Galeão já tem uma unidade da Líder e a AeroRio. São dois hangares de 10 mil metros quadrados cada. Conforme Dantas, a concessionária negocia com mais duas empresas para instalar um terceiro hangar.

'Classe mundial'

De acordo com Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria, especializada em infraestrutura, aeroportos de “classe mundial”, como o Galeão, se sustentem num processo de “mútuo reforço”, em que o movimento de passageiros e cargas impulsiona as atividades de desenvolvimento imobiliário e vice-versa.

– A economia do Rio, à medida que cresce e ganha complexidade, atrai mais passageiros. E, inversamente, a medida que o aeroporto se torna um polo não só logístico, mas de indústria e serviços, atrai mais gente – afirmou Frischtak.

Concessionária quer continuar, com contrato revisto

Controlada pela Changi, de Cingapura, a RIOgaleão opera o terminal internacional do Rio desde 2014. Por causa da frustração da demanda inicialmente estimada, a empresa decidiu devolver a concessão à União, em fevereiro de 2022. Um ano depois, em fevereiro passado, voltou atrás e informou ao governo federal que quer continuar à frente da operação, desde que haja reequilíbrio no contrato.

Conforme Dantas, a RIOgaleão mantém o interesse de continuar na operação, mas aguarda uma manifestação do Tribunal de Contas da União (TCU). “Em caso favorável à possibilidade de cancelamento do processo de relicitação (que ocorreria no caso da devolução), reafirmamos o nosso interesse em buscar uma solução conjunta com o Governo Federal que permita ao RIOgaleão manter a operação aeroportuária”, diz uma nota enviada pela concessionária.


Fonte: O GLOBO