Caso de agosto do ano passado trouxe nome do empresário à tona e desencadeou série de denúncias de outras mulheres

A Justiça de São Paulo inicia às 13h30 desta quinta-feira, por videoconferência, o julgamento do processo a respeito da agressão do empresário Thiago Brennand à modelo Alliny Helena Gomes, ocorrida em agosto do ano passado em uma academia de luxo de São Paulo. Brennand é acusado de ter praticado crimes de lesão corporal por misoginia e corrupção de menores. As penas somadas podem chegar a oito anos de prisão, sem considerar eventuais agravantes ou atenuantes.

A modelo deve ser a primeira a prestar depoimento na audiência desta tarde ao juiz Henrique Vergueiro Loureiro. Réu em nove ações penais por crimes contra mulheres, Brennand já começou a ser julgado em dois processos, ambos por estupro e que tramitam na Vara Criminal de Porto Feliz (SP), cidade do interior onde o empresário tem uma fazenda. Em nenhum caso foi proferida sentença até agora. A audiência desta quinta-feira será a primeira realizada pela 6ª Vara Criminal da Barra Funda, na capital paulista.

Brennand foi denunciado pela agressão a Helena Gomes em 4 de setembro do ano passado. O empresário havia deixado o país com destino a Dubai no dia anterior. Ele permaneceu no Oriente Médio até abril, quando foi preso nos Emirados Árabes e deportado de volta ao Brasil, onde está preso preventivamente em um centro de detenção de Pinheiros, na capital paulista.

De acordo com o Ministério Público, Brennand havia conhecido Helena na mesma academia onde meses depois viria a agredir a modelo — o momento da agressão foi filmado pelas câmeras de monitoramento do local. 

O empresário passou a ofender a mulher depois que ela recusou um convite para sair. Em mensagem enviada na madrugada de 24 de maio do ano passado, Brennand chamou a modelo de “alpinistazinha social” e disse que, por isso, a “tratou como lixo”. Alguns minutos depois, a modelo o bloqueou no WhatsApp.

O GLOBO teve acesso a mensagens anexadas ao processo, que corre sob sigilo judicial. Em uma delas, dias após a agressão, Brennand escreveu: “Mulher não tem direito de agredir homem. Se me grita (sic) , toma cuspida. Se devolver, pego pelos cabelos e cuspo dez vezes. Se me bater, apanha!”.

O teor dessa mensagem é semelhante ao de um áudio enviado pelo empresário a um ex-namorado de Helena. Na ocasião, Brennand se vangloriou pela agressão:

— Manda ela gritar comigo de novo, essa Helena. Pra mim ela tá humilhada como eu nunca vi. Ainda tentou cuspir de novo, eu puxei pelo cabelo para mostrar como que faz. Coitada. Ainda esculachei ela na saída, na frente de todo mundo — disse o empresário.

Na denúncia oferecida à Justiça, o MP-SP disse que as “agressões praticadas pelo denunciado foram motivadas pelo menosprezo de Thiago à condição de mulher da vítima, pois não se conformou com a recusa da ofendida em sair e se relacionar com ele, propulsionando todo seu comportamento agressivo”.

Já a defesa de Brennand — que hoje é feita pelos escritórios dos advogados Roberto Podval, Alexandre Queiróz e Gustavo Rocha — disse que o empresário pediu “calmamente” para que a modelo se exercitasse em um espaço da academia em que não atrapalhasse a passagem, e que a mulher “começou a perder o controle e a gritar e insultar” o empresário. Segundo Gustavo da Rocha, pessoas que presenciaram a discussão, “em seus íntimos”, ficaram “impressionadas com o preparo” de Brennand ao reagir aos supostos insultos.

Além de responder por lesão corporal nesse caso, o empresário também é acusado de cometer crime de corrupção de menores por ter induzido o filho, de 17 anos, a “praticar atos infracionais de injúria e ameaça”, segundo o MP-SP. O adolescente estava acompanhando o pai no momento da agressão à modelo na academia. Dois dias depois, em 5 de agosto, o jovem enviou uma mensagem à mulher na qual a chama de “maloqueira” e “fodida na vida”.

A promotoria afirmou à Justiça que o adolescente agiu “estimulado pela truculência do exemplo que lhe foi dado por seu pai, prejudicando severamente a formação de sua personalidade”. Já a defesa do empresário apresentou uma foto do filho beijando o pai e declarou: “inquestionável que a chama motivadora da reação do garoto foi o amor e não a corrupção”.


Fonte: O GLOBO