Desde 2009, número de cavernas descobertas no Brasil dobrou em função dos licenciamentos ambientais obrigatórios para projetos de mineração
Há pouco mais de uma década, os dados oficiais apontavam a existência de 12 mil cavernas no Brasil. Nos últimos anos, a partir do rigor de licenciamentos ambientais e obrigações de pesquisas em terrenos para a instalação de empreendimentos de impacto, como projetos de mineração, o número de cavernas descobertas dobrou. E grande parte desse patrimônio ainda pouco conhecido fica na Amazônia, que abriga, na Floresta Nacional de Carajás (PA), a maior concentração de cavidades em rochas ferríferas do mundo.
Essa é uma das regiões que atraiu a terceira expedição do projeto Luzes na Escuridão. Na semana passada, o grupo de 25 pessoas entre especialistas no tema e fotógrafos do Brasil e de mais cinco países finalizou o percurso de 21 dias por cavernas de cinco cidades do Pará e do Amazonas. O resultado será um livro a ser publicado no ano que vem, com patrocínio da Vale e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav).
— Por volta de 2008, 2009, só conhecíamos 12 mil cavernas no Brasil. Mas o número pulou para 24 mil. Em mais ou menos 10 anos fizemos mais que nos últimos 60 anos, quando começa a espeleologia (estudo das cavernas) no Brasil. Mas ainda há uma massa gigantesca de novas a serem descobertas, principalmente na Amazônia - explica Allan Calux, um dos coordenadores do projeto Luzes na Escuridão. — A Amazônia não é apenas biodiversa, ela também é geodiversa, e nosso plano foi chamar a atenção para esse patrimônio que precisa ser estudado e divulgado.
Além do trabalho de arte, com o livro, o Luzes na Escuridão faz um trabalho de cunho conservacionista, com ações de monitoramento espeleológico, pesquisas científicas e projetos técnicos. Somente o Parque Nacional (Pana) dos Campos Ferruginosos, criado em junho de 2017 e mantido pelo ICMBio com o apoio da Vale na Floresta dos Carajás, possui 377 cavernas. Elas são, em sua maioria, do tipo ferrífera, que se formam em ambiente ferruginoso, ou seja, de ferro.
Suas características chamaram bastante atenção dos pesquisadores estrangeiros, diz Calux.
— Eles não conheciam as cavernas ferríferas, e ficaram espantados com as diferenças em relação às outras, mais comuns no resto do mundo, como as carbonáticas (de carbono de cálcio), que parecem de mármore. As ferríferas são mais escuras, com texturas e cores distintas. E são muito mais velhas, o que dificulta as conclusões sobre seu processo de formação — afirma o coordenador, que defende abertura das cavernas do Pana dos Campos Ferruginosos para visitação. — Somos a favor do uso desses ambientes naturais. Quando conhecemos, você cuida melhor.
Importância para o meio ambiente e até para a agricultura
Na Amazônia, há ainda outros tipos de caverna, como de calcário e arenito, marcando sua diversidade. Além da curiosidade e da beleza envolvidas, as cavernas têm papel importante para o equilíbrio da natureza. Primeiro porque abrigam quantidade gigante de morcegos, animais que se alimentam de pragas agrícolas. Portanto, a perda de habitat dos morcegos traria um impacto para a agricultura e produção de alimentos. Além disso, muitos microorganismos que habitam esses ambientes têm potencial para uso farmacológico.
Essa é a terceira edição do Luzes na Escuridão. As duas primeiras renderam um livro sobre as cavernas de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia, e o segundo se dedicou à região do Pantanal, entre o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul. Além do próximo livro, haverá uma exposição virtual com as melhores fotos e a publicação de vídeos de bastidores.
Fonte: O GLOBO
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