Tirzepatida, semaglutida e liraglutida são as substâncias mais recentes utilizadas para o emagrecimento; confira status no Brasil, eficácia, preço e características de cada uma
Há cerca de oito anos, o uso de intervenções farmacológicas para a perda de peso passou por uma verdadeira revolução quando os primeiros estudos confirmaram que uma classe de medicamentos chamada de análogos de GLP-1, da qual pertence o Ozempic, consegue levar a um emagrecimento inédito – com uma eficácia que chega perto da cirurgia bariátrica.
Desde então, as canetas injetáveis, originalmente concebidas para o tratamento de diabetes tipo 2, passaram a ser reposicionadas em doses maiores para pacientes com obesidade, ou com sobrepeso junto a comorbidades relacionadas ao número que aparece na balança.
— Antes a obesidade não era vista como uma doença, então não tínhamos tantas opções de medicamentos. Só que agora, além de reconhecida, em todo o mundo nós vemos uma piora do cenário, um crescimento de casos que só tende a aumentar. Então tem um olhar maior — explica o médico endocrinologista Fabiano Serfaty, doutor pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Abaixo, confira quais são as "canetas emagrecedoras" disponíveis hoje, quais estão em análise e em desenvolvimento, os valores e as eficácias*, e entenda como esses fármacos atuam no organismo.
Saxenda
- Nome comercial: Saxenda
- Substância: Liraglutida
- Tipo: Análogo de GLP-1
- Farmacêutica: Novo Nordisk
- Situação: Disponível nas farmácias, não no SUS. Aprovado a partir de 12 anos
- Objetivo: Destinado para tratamento de obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso
- Dosagem: Disponível em e 0,6 mg, 1,2 mg, 1,8 mg, 2,4 mg ou 3 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por dia
- Eficácia: Segundo o estudo SCALE, a perda de peso foi de 6% na dosagem de 3 mg por dia após 56 semanas
- Valor: Preço máximo do de 3 mg varia entre R$ 1.552,0 e R$ 1.750,10, a depender da alíquota do ICMS em cada estado
Ozempic
- Nome comercial: Ozempic
- Substância: Semaglutida
- Tipo: Análogo de GLP-1
- Farmacêutica: Novo Nordisk
- Situação: Disponível nas farmácias, não no SUS. Aprovado para maiores de 18 anos
- Objetivo: Destinado para diabetes tipo 2. Uso para perda de peso enquanto o Wegovy não chega no Brasil é considerado off-label (finalidade diferente daquela da bula)
- Dosagem: Disponível em 0,25 mg, 0,5 mg e 1 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por semana
- Eficácia: Os estudos para perda de peso foram feitos apenas com a dosagem de 2,4 mg. Nessa dose, a perda de peso foi de até 17% após 68 semanas, segundo estudo na Lancet
- Valor: Preço máximo do de 1g varia entre R$ 994,03 e R$ 1.289,75, a depender da alíquota do ICMS em cada estado
- Nome comercial: Wegovy
- Substância: Semaglutida
- Tipo: Análogo de GLP-1
- Farmacêutica: Novo Nordisk
- Situação: Aprovado pela Anvisa para maiores de 18 anos, previsão para chegar ao país em 2024. Nos EUA, liberado a partir de 12 anos
- Objetivo: Destinado para tratamento de obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso
- Dosagem: Disponível em 0,25 mg, 0,5 mg, 1 mg, 1,7 mg e 2,4 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por semana
- Eficácia: A perda de peso foi de até 17% após 68 semanas, segundo estudo na Lancet
- Valor: Preço máximo do de 2,4g varia entre R$ 2.203,68 e R$ 2.484,85, a depender da alíquota do ICMS em cada estado
- Nome comercial: Rybelsus
- Substância: Semaglutida
- Tipo: Análogo de GLP-1
- Farmacêutica: Novo Nordisk
- Situação: Disponível nas farmácias, não no SUS. Aprovado para maiores de 18 anos
- Objetivo: Destinado para diabetes tipo 2. Uso para perda de peso é considerado off-label (finalidade diferente daquela da bula)
- Dosagem: Disponível em 3 mg, 7 mg e 14 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Único agonista por via oral, comprimidos diários
- Eficácia: O estudo para perda de peso foi feito apenas com a dosagem de 50 mg por dia. Nessa dose, a perda foi de até 15,1% após 68 semanas, segundo estudo na Lancet
- Valor: Preço máximo da cartela de 30 comprimidos com 14 mg cada varia entre R$ 1.225,53 e R$ 1.381,88, a depender da alíquota do ICMS em cada estado
- Nome comercial: Mounjaro
- Substância: Tirzepatida
- Tipo: Análogo de GLP-1 e GIP
- Farmacêutica: Eli Lilly
- Situação: Aprovado nos EUA para maiores de 18 anos, em análise pela Anvisa
- Objetivo: A análise na Anvisa é para diabetes tipo 2. Ao GLOBO, a farmacêutica disse que, se receber um sinal verde, avançará para incluir obesidade na bula
- Dosagem: Disponível em 2,5 mg, 5 mg, 7,5 mg, 10 mg, 12,5 mg e 15 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por semana
- Eficácia: Segundo os estudos SURMOUNT, a perda de peso após 72 semanas foi de 15%, na dose de 5 mg; 19,5%, na de 10 mg, e 20,9%, na de 15 mg. O acompanhamento com pessoas sem diabetes por até 84 semanas mostrou que esse percentual pode chegar a 26,6% nas dosagens maiores
- Valor: Ainda não foi definido, depende de aprovação da Anvisa
- Nome comercial: Sem nome ainda
- Substância: Retatrutida
- Tipo: Análogo de GLP-1, GIP e GCC
- Farmacêutica: Eli Lilly
- Situação: Ainda em estudo. Fase 2 de 3 dos testes clínicos publicada em junho
- Objetivo: Tratamento da obesidade
- Dosagem: Disponível em 1 mg, 4 mg, 8 mg e 12 mg. Injeção uma vez por semana
- Eficácia: Na fase 2, a perda de peso após 48 semanas foi de 8,7%, na dose de 1 mg; 17,1%, na de 4 mg; 22,8%, na de 8 mg, e de 24,2%, na de 12 mg
- Valor: Ainda não foi definido, depende de aprovação da Anvisa, que só pode ser feita após
- finalização dos estudos clínicos e pedido pela farmacêutica
As eficácias foram avaliadas em conjunto com mudanças de hábitos como alimentação e atividade física. Além disso, podem variar não devido ao potencial do medicamento, mas pelo tempo em que os pacientes foram acompanhados.
Por exemplo, embora a tirzepatida tenha alcançado o maior efeito, de até 26,6% de redução do peso, ele foi observado no período de 84 semanas, o mais longo entre todos os estudos.
Serfaty destaca também que essa perda de peso pode não se sustentar a longo prazo se não houver uma mudança de hábitos e um planejamento para quando o remédio for interrompido.
— O medicamento pode ajudar, mas precisa haver essa virada de chave no estilo de vida — afirma.
Como agem os medicamentos?
No caso da semaglutida e da liraglutida, eles simulam apenas o hormônio GLP-1 no corpo humano. Existem receptores dele em diversas partes do corpo: no pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina.
Por isso, inicialmente, os fármacos do tipo foram pensados para diabetes tipo 2. Além do Ozempic, destinado a esse público, existe o Victoza, que é a versão da liraglutida para pacientes diabéticos.
Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Esses mecanismos levam a pessoa a sentir menos fome e, consequentemente, reduzir as calorias ingeridas por dia.
— As moléculas possuem uma estrutura química muito parecida com o hormônio, mas com a vantagem de não precisarmos estar alimentados para que eles exerçam seus efeitos — diz Serfaty.
A tirzepatida é uma ainda nova geração, que tem o diferencial de ser um duplo agonista, simulando não só o hormônio GLP-1 como também um outro intestinal chamado GIP. Já a retatrutida é o mais recente, sendo um triplo agonista: além do GLP-1 e do GIP, simula também o GCC.
— Os agonistas duplos e triplo são o futuro, eles são a grande novidade. Por enquanto, o Mounjaro é o que está mais perto do nosso mercado brasileiro. Mas em um futuro muito breve todas essas moléculas estarão mais disponíveis — afirma o médico.
Quais são os riscos e efeitos colaterais?
Todos os medicamentos devem ser utilizados somente mediante indicação médica e têm efeitos colaterais. Na maior parte são leves, como náuseas, diarreia, baixo nível de açúcar no sangue (hipoglicemia), vômitos, tontura, indigestão, gastrite, refluxo, constipação e perda de apetite.
Segundo Serfaty, os mais observados são os enjoos e a constipação, que podem levar parte dos pacientes a abandonarem o tratamento.
Fonte: O GLOBO
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