Também conhecida como 'síndrome do cadáver ambulante', ela pode levar à autoinanição e complicações médicas causadas pela depressão e ansiedade causadas pelos delírios sobre a morte

A morte sempre gerou dúvidas na humanidade, mas, seguindo a máxima de Descartes, ao pensar, existe uma comprovação da própria existência. No entanto, pessoas com a síndrome de Cotard, distúrbio neuropsiquiátrico raro, se convencem que estão mortas. A condição, também chamada de "síndrome do cadáver ambulante" gera delírios no paciente em que ele pode chegar a acreditar ser um cadáver feito de órgãos apodrecidos ou um espírito imortal.

O primeiro relato na literatura científica sobre o distúrbio é datado de 1880, feito pelo neurologista francês Jules Cotard. Uma mulher de 43 anos afirmava não ter órgãos em seu corpo ou alma. Além disso, não se alimentava porque acreditava ser eterna.

Em outro caso registrado, publicado como Relatos de Casos Psiquiátricos no portal de revistas científicas Hindawi, um homem com 49 anos declarou estar morto e decidiu doar todos os seus pertences, depois de parar de cuidar de si mesmo. Após ser internado, disse que seu estômago não funcionava, seu fígado estava decomposto, seu cérebro estava paralisado e seu rosto não tinha sangue. Ao fim da explicação, os médicos relatam que o homem ficou imóvel durante certo tempo até concluir dizendo que ouviu vozes o contando que ele era o diabo.

Como o distúrbio funciona?

Os sintomas ligados à condição são "melancolia ansiosa, idéias de danação ou rejeição, insensibilidade à dor e delírios niilistas em relação ao próprio corpo ou existência", de acordo um estudo publicado na revista Psychiatrist. Um dos principais riscos da síndrome é o quadro de auto-inanição, no qual a pessoa para de se alimentar, manter a higiene e uma rotina, por não acreditar que esteja viva.

Ainda que as pesquisas sobre Cotard sejam escassas, de acordo com os cientistas, existem três formas dela se manifestar psicologicamente. São elas:

"A primeira forma extraída de seu estudo descreve uma depressão psicótica com melancolia proeminente, mas poucos delírios niilistas. Cotard tipo 1 é a segunda forma, identificando um componente delirante mais proeminente sobre a depressão. Cotard tipo 2 é a terceira forma, identificando a presença de um misto de ansiedade, depressão e alucinações auditivas", descreve o artigo.

Atualmente, existem alguns tratamentos eficazes para a síndrome, incluindo uma série de medicamentos, como antipsicóticos, antidepressivos e formas de terapia. Algumas análises científicas revisadas dos estudos sobre Cotard indicam que ela pode ser, na verdade, um efeito subjacente de outros transtornos e distúrbios psíquicos.


Fonte: O GLOBO