Novo relatório aponta que 7 a cada 10 pessoas estão protegidas por ao menos uma ação contra o cigarro, e que dois países se juntaram ao Brasil e à Turquia como líderes no combate ao tabaco
Um novo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nesta segunda-feira, sobre combate ao tabagismo mostra que 5,6 bilhões de pessoas no mundo, 71% da população global, estão cobertas por ao menos uma das seis políticas de saúde consideradas pelo órgão capazes de reduzir o impacto do cigarro (chamadas de MPOWER). O total é cinco vezes maior que o observado em 2007.
O documento mostra ainda que, desde que a OMS passou a introduzir o MPOWER a nível global, em 2008, a prevalência de fumantes caiu de 22,8% da população mundial para 17%. Se esse declínio não tivesse acontecido, a organização estima que haveria hoje 300 milhões de fumantes a mais do que o registrado nos países.
O relatório, apoiado pela organização Bloomberg Philanthropies, destaca ainda as melhores nações na implementação das medidas MPOWER. Até então, apenas Brasil e Turquia haviam alcançado o estágio mais alto, colocando em prática todas as seis ações. Agora, Ilhas Maurício e Holanda também fazem parte do grupo de países que melhor enfrentam o tabagismo.
“Esses dados mostram que, lenta mas seguramente, mais e mais pessoas estão sendo protegidas contra os danos do tabaco pelas políticas de melhores práticas baseadas em evidências da OMS. Parabenizo Ilhas Maurício por se tornar o primeiro país da África e a Holanda por se tornar o primeiro na União Européia a implementar o pacote completo de políticas de controle do tabaco da OMS”, diz o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em comunicado.
Oito países estão a apenas uma política de distância de se juntar aos quatro líderes no controle do tabaco: Etiópia, Irã, Irlanda, Jordânia, Madagascar, México, Nova Zelândia e Espanha.
A nova edição do relatório também destaca que quase 40% das nações pelo mundo baniram o cigarro de espaços públicos fechados, o que, segundo a organização, garante o ar puro para as pessoas respirarem, motiva os fumantes a largarem a prática e evita que novos indivíduos criem o hábito nocivo.
No geral, as seis medidas do MPOWER são:
- Monitorar o uso do tabaco e as políticas de prevenção
- Proteger as pessoas da fumaça do tabaco
- Oferecer ajuda para parar de fumar
- Alertar sobre os perigos do tabaco
- Aplicar proibições de publicidade, promoção e patrocínio de tabaco
- Aumentar impostos sobre o tabaco
Apesar dos avanços, o relatório aponta que 44 países não implementaram nenhuma das medidas do MPOWER. Além disso, 53 sequer têm proibições completas sobre o fumo em unidades de saúde. E somente cerca de metade das nações do mundo baniram o ato em locais de trabalho e restaurantes.
“A OMS exorta todos os países a implementarem todas as medidas MPOWER no nível das melhores práticas para combater a epidemia de tabaco, que mata 8,7 milhões de pessoas em todo o mundo, e rebater as indústrias de tabaco e nicotina, que fazem lobby contra essas medidas de saúde pública”, defende Ruediger Krech, diretor de Promoção da Saúde da OMS.
Embaixador Global da OMS para Doenças e Lesões Não Transmissíveis e fundador da Bloomberg Philanthropies, que apoia o relatório sobre tabaco, Michael Bloomberg lembra que o tabagismo é a principal causa de mortes que podem ser evitadas no mundo.
O impacto não é apenas em quem pratica o hábito, mas também nos que estão ao redor. Aproximadamente 1,3 milhão de pessoas morrem ano a ano devido ao fumo passivo pelo risco elevado para doenças cardíacas, derrames, doenças respiratórias, diabetes tipo 2 e câncer, diz a OMS.
“Embora as taxas de tabagismo tenham diminuído, o tabaco ainda é a principal causa de morte evitável no mundo – em grande parte devido a campanhas de marketing implacáveis da indústria do tabaco. Como mostra este relatório, nosso trabalho está fazendo uma grande diferença, mas ainda há muito mais a ser feito. Ao ajudar mais países a implementar políticas inteligentes, apoiadas pela opinião pública e pela ciência, seremos capazes de melhorar a saúde pública e salvar milhões de vidas”, afirma.
No Brasil, embora campanhas de marketing sejam proibidas para produtos fumígenos, outros métodos são utilizados pelas empresas para criarem uma percepção positiva sobre o cigarro. É o que mostra uma pesquisa recente do Instituto para o Controle Global do Tabaco (IGTC), com sede na Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, em parceria com a Fiocruz e a Universidade de Nevada, também nos EUA.
Em um experimento com quatro mil brasileiros, que foram expostos a vídeos envolvendo uma empresa fictícia de tabaco, os responsáveis observaram que mensagens de responsabilidade social corporativa da indústria fizeram com que a visão sobre seus produtos, os cigarros, melhorassem.
Os vídeos mostravam ações da empresa de apoio às famílias agrícolas e à justiça social. Em um sumário executivo, os pesquisadores concluem que “ assim como a propaganda de produtos de tabaco --- as mensagens de RSC (responsabilidade social corporativa) afetam as percepções dos espectadores sobre os cigarros e podem apoiar as estratégias de marketing”.
Cigarros eletrônicos trazem riscos
O relatório também aborda o avanço dos cigarros eletrônicos pelo mundo. Também conhecidos como vapes e pods, os dispositivos eletrônicos para fumar têm a venda proibida no Brasil desde 2009 pela Anvisa, embora sejam facilmente encontrados em tabacarias e bancas de jornal.
Segundo a pesquisa Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, Covitel 2023, aproximadamente 1 a cada 4 jovens de 18 a 24 anos no Brasil (23,9%) já utilizou alguma vez um cigarro eletrônico. Considerando todas as faixas etárias, essa taxa de experimentação foi de 8%.
"O progresso até agora está sendo prejudicado pela agressiva indústria do tabaco na promoção de cigarros eletrônicos como uma forma mais segura alternativa aos cigarros. Jovens, incluindo aqueles que nunca antes haviam fumado, são um alvo particular. Na verdade, os cigarros eletrônicos são prejudiciais tanto para pessoas que os usam como para aqueles ao redor deles, especialmente quando usados dentro de casa. Seu uso também prejudica as atuais leis antifumo", diz o diretor da OMS no relatório.
O documento cita ainda que diversas leis que proíbem o cigarro em locais fechados públicos foram formuladas antes da introdução dos modelos eletrônicos. No Brasil, a Anvisa reforçou em uma nota técnica neste ano que as mesmas regras referentes aos cigarros convencionais são aplicadas aos eletrônicos. Por isso, os vapes também não podem ser utilizados em ambientes coletivos fechados, sejam eles privados ou públicos.
Um estudo, publicado neste mês na revista científica Drug and Alcohol Dependence, mostrou que a concentração de toxinas nocivas à saúde aumenta em 22 vezes no ambiente fechado após o uso, levando a riscos também para aqueles presentes que não utilizaram os aparelhos, os fumantes passivos.
Fonte: O GLOBO
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