Até a 2ª Guerra, grande parte dos nascidos na Grécia não sabia a data de seus aniversários, mas comemorava o onomástico

A história da capital da Grécia, Atenas, está ligada à disputa dos deuses Atena, da inteligência prática, da guerra estratégica e da astúcia; e Poseidon, senhor dos mares e das profundidades misteriosas. Para conquistar os eleitores do local onde surgiu a democracia, Poseidon fincou o seu tridente no chão de onde jorrou água. Que, por ele ser ligado aos mares, era salgada. Em resposta, Atena fez brotar uma oliveira com folhas douradas e carregada de frutos.

Os gregos consideravam a oliveira a mais nobre das árvores, por causa das azeitonas, base da produção do azeite usado na cozinha, como fortificante dos músculos dos atletas e para iluminar casas e templos. 

Naquela época, os vencedores nos esportes e nas batalhas recebiam uma coroa com folhas de louro, representante da suprema glória. Em uma votação apertada, Atena levou a melhor. Diz-se que Poseidon perdeu por um voto, de uma mulher, e deu um jeito de que as mulheres perdessem o direito a voto depois disso.

Para reverenciar a vencedora da disputa, a capital grega passou a chamar Atenas e no monte mais alto da cidade, que fica a 150 metros acima do nível do mar, foram erguidos templos em homenagem a ela. No Parthenon, o maior de todos, havia uma imensa estátua de Atena com vestes douradas. Em um prédio menor, próximo do grande templo, o Erecteion, há até hoje uma oliveira, árvore doada pela deusa. Conta-se que por muitos anos havia ali também um poço de água salgada, presente de Poseidon.

No Erecteion ficava outra estátua da deusa, em proporções humanas, esculpida em oliveira. Todos os anos, no dia do aniversário de Atena, 15 de agosto, uma procissão de fiéis levava um vestido novo para a estátua, feito por jovens virgens (como ela) em linho tingido com açafrão e, por isso, amarelo, sua cor favorita. 

No friso acima das colunas do Parthenon da acrópoles ateniense era possível ver cenas reproduzindo a preparação e a própria procissão com mulheres e homens trajando peças drapeadas e sandálias de couro. Partes desse friso ainda podem ser vistas no Museu da Acrópoles.

Dia 15 de agosto passado, comovida, tive a alegria de ouvir essa história ao lado das ruínas desses templos cuja construção foi iniciada em 447 antes de Cristo. Nesta mesma data, nos dias de hoje, em toda a Grécia, se comemora a assunção ou a dormição da Teótoco (que pode ser traduzida como “portadora de Deus”). 

A Maria da igreja ortodoxa grega também conhecida como Panagia (ou “toda sagrada”) é considerada a mãe de todos, símbolo de proteção e liberdade política e é reverenciada em grandes procissões. São mais de 20 mil festejos regionais por toda a Grécia, em especial nas cidades menores. Impossível não perceber as semelhanças na adoração das duas santas femininas.

Em toda a Grécia, além de missa na véspera e em 15 de agosto, no dia de Nossa Senhora comemora-se o aniversário de todas as mulheres chamadas Maria. A igreja ortodoxa grega tem um calendário, o “eortologio”, com os nomes dos santos de cada dia. É muito comum, mesmo nos dias de hoje, escolher o nome segundo esse calendário. 

as tradicionais casas gregas, há um altar ou “iconóstase” com imagens dos santos que levam os mesmos nomes dos habitantes daquele endereço, com uma vela a azeite sempre acesa. 

O hábito de festejar Marias no dia 15 de agosto é tão grande que mesmo as mulheres que chamam Maria mas não nasceram neste dia festejam o onomástico, que para os gregos, é mais relevante que a data de nascimento. Até a Segunda Guerra, aliás, grande parte dos nascidos na Grécia não sabia a data de seus aniversários, mas comemorava o onomástico, ou dia de seu nome.

No dia das Marias, 15 de agosto, são elas que fazem ou encomendam seus bolos e doces e pagam pelos festejos. Sem a generosidade de Olga Vlahou e Yannis Korialos esse texto não seria possível.


Fonte: O GLOBO