Cotação da divisa americana também depende de fatores externos, segundo especialistas

No dia seguinte ao primeiro corte na taxa básica de juros, a Selic, em três anos, o dólar subiu quase 2% na quinta-feira, levando o real ao pior desempenho entre 33 moedas.

A moeda americana terminou ontem cotada a R$ 4,8981, após valorização de 1,96%. Segundo especialistas, o dólar pode manter o viés de alta em relação ao real até o fim do ano por dois motivos principais. E boa parte do contexto tem a ver com os juros.

O primeiro motivo é o tamanho da aversão ao risco no exterior. A decisão da agência Fitch da rebaixar o rating soberano dos EUA nesta semana, indicando preocupação com o déficit fiscal do país, impulsionou investidores a buscarem ativos mais seguros.

Os juros longos dos Treasuries (títulos americanos semelhantes aos do Tesouro Direto no Brasil) subiram para os níveis mais altos desde novembro do ano passado com o aumento na demanda. Na visão de Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, esses fatores contribuíram bastante para a apreciação do dólar em nível global.

No cenário interno, a redução de 0,5 ponto percentual na Selic e a perspectiva de novos cortes da mesma magnitude favorecem a alta do dólar. Daniel Pontes, sócio da SWAP Câmbio & Capitais Internacionais, explica que a redução na taxa de juros do país implica em um juro real mais baixo.

Na comparação com países desenvolvidos, que estão em um momento de aperto monetário para conter a inflação, o diferencial de juros do Brasil fica menor e menos atraente. Se o volume de dólares para o país cai, a tendência é o dólar se valorizar aqui frente ao real.

Enquanto o Brasil tem conseguido controlar a sua inflação e tende a fazer cortes consecutivos na taxa de juros, diminuindo o retorno oferecido em investimentos de renda fixa, países vistos como economias mais estáveis, como os Estados Unidos, ainda devem permanecer com juros elevados por mais tempo.

Sede do Fed, o banco central americano, em Washington AFP/22-10-2021 — Foto: AFP/AFP

Com isso, se tornam opções interessantes na comparação com investimentos de maior risco, como papéis de países emergentes como o Brasil.

— Querendo ou não a taxa de juros americana continua elevada para o padrão histórico. E um dos principais fatores do valor do real frente ao dólar é uma operação em que os investidores pegam emprestado em lugares com juros baixos e aplicam em países que estejam pagando bons juros — explica Pontes.

Dólar perto de R$ 5

Para o sócio da SWAP, o dólar deve terminar o ano entre R$ 4,90 e R$ 5 no final do ano, o que acredita ser um "ponto de equilíbrio".

Diego Costa, head de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio, também acredita que o dólar não deva ultrapassar R$ 5 enquanto a Selic estiver em dois dígitos — e os indicadores de inflação e atividade econômica derem suporte às decisões de política monetária do Banco Central.

Até a última segunda-feira, agentes do mercado projetavam que o dólar terminasse o ano de 2023 cotado a R$ 4,91, de acordo com Boletim Focus.


Fonte: O GLOBO