Caio, que é treinado pela mãe, disputa na madrugada de sábado a prova dos 20km da marcha atlética; Alison e Darlan, outros destaques, voltaram de contusão
O Brasil estreia no Campeonato Mundial de Atletismo, a competição mais importante do ano, às 3h50 deste sábado (horário de Brasília, com Sportv) na prova dos 20km da marcha atlética, com Caio Bonfim, um dos favoritos, além de Max Gonçalves.
O torneio será disputado até o dia 27 de agosto, em Budapeste. Às 2h15 deste domingo, Erica Sena fará a mesma prova. Caio Bonfim e Erica Sena, os melhores do país na marcha atlética, e disputarão ainda os 35 km. Ambos têm vaga para os Jogos de Paris, em 2024.
O brasiliense, que se preparou para Mundial na altitude de Sierra Nevada, na Espanha, chega a Budapeste confiante, uma vez que teve desempenho espetacular no GP Internacional Cantones de La Coruña, em julho, considerado o Roland Garros da marcha atlética. Aos 32 anos, venceu a prova e melhorou o seu próprio recorde brasileiro dos 20 km com 1h18min29.
Caio Bonfim e os filhos, ajudantes no treino da marcha atlética — Foto: Arquivo pessoal
Pai de Miguel, 4 anos, e de Theo, 2, Caio "incorporou" os meninos à equipe também. Eles vão aos treinos e viagens nacionais. O mais velho diz que é treinador porque é "o responsável" por entregar os copos com água para o pai durante os treinos. A esposa Juliana é nutricionista e para completar a equipe, o irmão Evam, jornalista, o ajuda na divulgação do trabalho.
Agora vai
Caio vive a expectativa de chegar logo em Paris-2024 para realizar um sonho que escapou na Rio-2016. Ele viu a medalha de bronze ficar com o australiano Dane Bird-Smith por apenas cinco segundos. A lembrança do quarto lugar não é amarga, ele garante. Afirma que o ótimo resultado, mesmo fora do pódio, mudou sua vida. Ele passou a ter mais parcerias, incentivo e apoio financeiro. Inclusive do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
E mais: observa que sua maior bronca, o fato de que marchar no Brasil era hostil, também mudou. Ele respirava fundo quando ia treinar na rua porque sabia que ia ouvir piada e xingamento.
— Era chato todo dia aquilo ali. E quando eu encontrava uma turma escolar? Era linchamento moral. Eu suava frio quando via que ia passar por um grupo — comenta, hoje com mais humor e tranquilidade: — Depois da Rio-2016 isso muda.
O brasiliense, que se preparou para Mundial na altitude de Sierra Nevada, na Espanha, chega a Budapeste confiante, uma vez que teve desempenho espetacular no GP Internacional Cantones de La Coruña, em julho, considerado o Roland Garros da marcha atlética. Aos 32 anos, venceu a prova e melhorou o seu próprio recorde brasileiro dos 20 km com 1h18min29.
A marchadora Érica Sena, que fez sua preparação final em Cuenca, no Equador, onde mora com o marido e treinador Andrés Chocho e o filho Kylian, de pouco mais de um ano, também fez boas competições na Europa, após o nascimento do filho. Na mesma competição, a pernambucana terminou em sétimo lugar, com 1h28min53.
O Brasil disputa o Mundial com equipe de 55 atletas sendo a maioria mulheres (30 mulheres e 25 homens). Para a convocação, a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) levou em consideração os critérios adotados pela World Athletics (Federação Internacional de Atletismo): atletas com índices, qualificados pelo Ranking de Pontos (cota) e os campeões sul-americanos, desde que não tenha nenhum resultado melhor no Ranking Continental.
Mãe ou treinadora?
Caio Bonfim, bronze no Mundial de 2017 e sexto no ano passado, disse que, após ter garantido vaga para a Olimpíada de Paris, entrará no Mundial em Budapeste mais tranquilo e para repetir o pódio.
— Meu foco é somente um novo pódio. Posso, inclusive, me arriscar mais — disse Caio, que é treinado pelo pai João Sena e pela mãe Gianetti Sena Bonfim, oito vezes campeã brasileira da marcha atlética — Gianetti treinadora é a Gianetti mãe. É a mesma coisa. No treino ou em casa. Tudo igual. Eu brinco que ela não sabe separar as coisas. E eu sempre achei que isso era ser mãe. Acho que para ser técnico é preciso ser mãezona mesmo.
Caio conta que a mãe é muito próxima dele, rígida e ao mesmo tempo carinhosa. Dos 6 aos 16 anos, ele jogava futebol e era Gianetti quem o levava para os treinos. Exigia disciplina e boas notas na escola. Assim, ele encarou com naturalidade as cobranças quando escolheu seguir o mesmo caminho da marcha atlética.
Caio assegura que agora, já mais velho, é fácil tê-la como treinadora. Mas nem sempre foi assim. Lembra que adolescente, quando treinava fraco, era porque "eu não queria nada com nada". Não era cogitada a hipótese dele estar cansado.
— Então, pegava fogo (risos). Os pais acham que é preciso exigir para a coisa funcionar e o adolescente, tudo o que ele não quer, é ser exigido — comenta Caio, que admite: — No mundo de hoje, vamos ser sinceros, ter duas pessoas que me amam e cuidam da minha carreira fora das pistas para que eu possa trabalhar tranquilo é um privilégio.
Caio conta que a modalidade juntou seu pai e sua mãe e que continuou a ditar a marcha da família. Ele era treinador e se apaixonou pela aluna, "eles se casaram e eu nasci", resume. Assim, ele cresceu "nesse ambiente vendo meu pai treinar a minha mãe e ela viajando o mundo". Após um diagnóstico alarmante e que não se confirmou, Caio resolveu seguir os passos da mãe.
Quando pequeno, Caio tinha pernas arqueadas que complicavam o equilíbrio do garoto. À época, os médicos disseram que ele enfrentaria limitações de mobilidade e que, possivelmente, passaria por várias cirurgias. Depois da primeira intervenção, o médico lhe falou que "me fez para ser no máximo um jogador de dominó, nunca um atleta, principalmente um que dependesse totalmente das pernas"
As pernas não entortaram novamente. E, fascinado pela modalidade, ele aproveitava para aprender a técnica toda vez que Gianetti ia marchar.
— E quando descobri que era bom na modalidade também, foi um prazer ser treinado pelo meu pai — explica Caio, que só passou a ser treinado pela mãe quando ela encerrou a carreira nas pistas. — Eu precisava deste olhar mais de atleta para desenvolver melhor a técnica de marchar.
O Brasil disputa o Mundial com equipe de 55 atletas sendo a maioria mulheres (30 mulheres e 25 homens). Para a convocação, a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) levou em consideração os critérios adotados pela World Athletics (Federação Internacional de Atletismo): atletas com índices, qualificados pelo Ranking de Pontos (cota) e os campeões sul-americanos, desde que não tenha nenhum resultado melhor no Ranking Continental.
Mãe ou treinadora?
Caio Bonfim, bronze no Mundial de 2017 e sexto no ano passado, disse que, após ter garantido vaga para a Olimpíada de Paris, entrará no Mundial em Budapeste mais tranquilo e para repetir o pódio.
— Meu foco é somente um novo pódio. Posso, inclusive, me arriscar mais — disse Caio, que é treinado pelo pai João Sena e pela mãe Gianetti Sena Bonfim, oito vezes campeã brasileira da marcha atlética — Gianetti treinadora é a Gianetti mãe. É a mesma coisa. No treino ou em casa. Tudo igual. Eu brinco que ela não sabe separar as coisas. E eu sempre achei que isso era ser mãe. Acho que para ser técnico é preciso ser mãezona mesmo.
Caio conta que a mãe é muito próxima dele, rígida e ao mesmo tempo carinhosa. Dos 6 aos 16 anos, ele jogava futebol e era Gianetti quem o levava para os treinos. Exigia disciplina e boas notas na escola. Assim, ele encarou com naturalidade as cobranças quando escolheu seguir o mesmo caminho da marcha atlética.
Caio assegura que agora, já mais velho, é fácil tê-la como treinadora. Mas nem sempre foi assim. Lembra que adolescente, quando treinava fraco, era porque "eu não queria nada com nada". Não era cogitada a hipótese dele estar cansado.
— Então, pegava fogo (risos). Os pais acham que é preciso exigir para a coisa funcionar e o adolescente, tudo o que ele não quer, é ser exigido — comenta Caio, que admite: — No mundo de hoje, vamos ser sinceros, ter duas pessoas que me amam e cuidam da minha carreira fora das pistas para que eu possa trabalhar tranquilo é um privilégio.
Caio conta que a modalidade juntou seu pai e sua mãe e que continuou a ditar a marcha da família. Ele era treinador e se apaixonou pela aluna, "eles se casaram e eu nasci", resume. Assim, ele cresceu "nesse ambiente vendo meu pai treinar a minha mãe e ela viajando o mundo". Após um diagnóstico alarmante e que não se confirmou, Caio resolveu seguir os passos da mãe.
Quando pequeno, Caio tinha pernas arqueadas que complicavam o equilíbrio do garoto. À época, os médicos disseram que ele enfrentaria limitações de mobilidade e que, possivelmente, passaria por várias cirurgias. Depois da primeira intervenção, o médico lhe falou que "me fez para ser no máximo um jogador de dominó, nunca um atleta, principalmente um que dependesse totalmente das pernas"
As pernas não entortaram novamente. E, fascinado pela modalidade, ele aproveitava para aprender a técnica toda vez que Gianetti ia marchar.
— E quando descobri que era bom na modalidade também, foi um prazer ser treinado pelo meu pai — explica Caio, que só passou a ser treinado pela mãe quando ela encerrou a carreira nas pistas. — Eu precisava deste olhar mais de atleta para desenvolver melhor a técnica de marchar.
Caio Bonfim e os filhos, ajudantes no treino da marcha atlética — Foto: Arquivo pessoal
Pai de Miguel, 4 anos, e de Theo, 2, Caio "incorporou" os meninos à equipe também. Eles vão aos treinos e viagens nacionais. O mais velho diz que é treinador porque é "o responsável" por entregar os copos com água para o pai durante os treinos. A esposa Juliana é nutricionista e para completar a equipe, o irmão Evam, jornalista, o ajuda na divulgação do trabalho.
Agora vai
Caio vive a expectativa de chegar logo em Paris-2024 para realizar um sonho que escapou na Rio-2016. Ele viu a medalha de bronze ficar com o australiano Dane Bird-Smith por apenas cinco segundos. A lembrança do quarto lugar não é amarga, ele garante. Afirma que o ótimo resultado, mesmo fora do pódio, mudou sua vida. Ele passou a ter mais parcerias, incentivo e apoio financeiro. Inclusive do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
E mais: observa que sua maior bronca, o fato de que marchar no Brasil era hostil, também mudou. Ele respirava fundo quando ia treinar na rua porque sabia que ia ouvir piada e xingamento.
— Era chato todo dia aquilo ali. E quando eu encontrava uma turma escolar? Era linchamento moral. Eu suava frio quando via que ia passar por um grupo — comenta, hoje com mais humor e tranquilidade: — Depois da Rio-2016 isso muda.
O som da buzina era "péééééééééé", bem alto para dar um susto. E depois vinha um xingamento no final. Agora é "panpan", seguido de "Vamos campeão!" Hoje vejo muita gente marchando na rua, leve e brincando. Essa medalha não está na minha prateleira, mas eu ganhei. Minha grande medalha da Rio.
Destaques do Mundial
Além de Caio, outros destaques do Brasil no Mundial são revezamento 4x100m masculino (com Erik Cardoso no time; ele correu os 100m em 9s97) e Alison dos Santos, medalha de ouro no Campeonato Mundial do Oregon-2022 e de bronze na Olimpíada de Tóquio-2021, na prova dos 400 m com barreiras.
Ele passou por uma artroscopia no joelho direito em fevereiro e se preparou para retornar às pistas isolado no Centro Olímpico dos Estados Unidos, em Chula Vista, na Califórnia. Piu disputou apenas duas provas recentemente e provou estar completamente recuperado. Na Silésia, Polônia, ficou em terceiro lugar nos 400 m rasos (44s73).
Destaques do Mundial
Além de Caio, outros destaques do Brasil no Mundial são revezamento 4x100m masculino (com Erik Cardoso no time; ele correu os 100m em 9s97) e Alison dos Santos, medalha de ouro no Campeonato Mundial do Oregon-2022 e de bronze na Olimpíada de Tóquio-2021, na prova dos 400 m com barreiras.
Ele passou por uma artroscopia no joelho direito em fevereiro e se preparou para retornar às pistas isolado no Centro Olímpico dos Estados Unidos, em Chula Vista, na Califórnia. Piu disputou apenas duas provas recentemente e provou estar completamente recuperado. Na Silésia, Polônia, ficou em terceiro lugar nos 400 m rasos (44s73).
Em Mônaco, foi vice-campeão dos 400 m com barreiras (47s66), confirmando índices para o Mundial e Paris-2024 nas duas provas, em competições válidas pela Liga Diamante.
Em Budapeste, Alison, que teve última fase de preparação na Turquia, só disputará os 400 m com barreiras, abrindo mão dos 400 m rasos. Segundo o treinador Felipe Siqueira, "é preciso ter prioridade”.
Outro favorito é Darlan Romani, campeão mundial indoor do arremesso do peso em 2022. Ele disputou apenas o Troféu Brasil em Cuiabá, Mato Grosso, em julho. Obteve a marca de 21m58 e o ouro, assegurando os índices para o Mundial e Paris-2024.
Assim como Alison, ele volta de contusão: Darlan sofreu com uma lesão no ombro direito e não pôde disputar etapas importantes da Liga Diamante. Darlan é campeão pan-americano em Lima-2019 e recordista sul-americano do peso, com 22m6.
Fonte: O GLOBO
Em Budapeste, Alison, que teve última fase de preparação na Turquia, só disputará os 400 m com barreiras, abrindo mão dos 400 m rasos. Segundo o treinador Felipe Siqueira, "é preciso ter prioridade”.
Outro favorito é Darlan Romani, campeão mundial indoor do arremesso do peso em 2022. Ele disputou apenas o Troféu Brasil em Cuiabá, Mato Grosso, em julho. Obteve a marca de 21m58 e o ouro, assegurando os índices para o Mundial e Paris-2024.
Assim como Alison, ele volta de contusão: Darlan sofreu com uma lesão no ombro direito e não pôde disputar etapas importantes da Liga Diamante. Darlan é campeão pan-americano em Lima-2019 e recordista sul-americano do peso, com 22m6.
Fonte: O GLOBO
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