Executiva nacional articula para destituir Luciano Bivar da presidência nacional da sigla

Dois dos principais dirigentes do União Brasil, o deputado federal Luciano Bivar (PE) e o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (BA), secretário-geral da sigla, acumulam uma série de desavenças desde a criação da legenda, que uniu o PSL de Bivar com o DEM de ACM Neto. 

No episódio mais recente, uma mudança no diretório estadual do Amazonas com convocação unilateral de convenção para eleger lideranças afinadas com o presidente nacional do partido reacende o clima de animosidade entre os mandatários.

Relembre as rusgas internas do União Brasil.

Segundo turno

Derrotado no primeiro turno das eleições presidenciais, quando teve a senadora Soraya Thronicke (União-MS) como candidata própria, o União Brasil viveu um de seus primeiros grandes impasses da Executiva nacional para definir o posicionamento da legenda no segundo turno. 

Houve atritos entre Bivar e o secretário-geral ACM Neto, que pregava a neutralidade na disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), enquanto o dirigente nacional pendia para um apoio ao petista.

A legenda acabou optando pela neutralidade, posição favorável a ACM Neto, que disputou o segundo turno pelo governo da Bahia contra Jerônimo Rodrigues, do PT — e perdeu.

Federação com o PP

Outro ponto de tensão envolveu a articulação em favor de uma federação entre o União Brasil e o PP, iniciada ainda em 2022. Inicialmente, o acordo costurado colocou o presidente do PP, Ciro Nogueira, e o vice-presidente do União Brasil, Antonio Rueda, como copresidentes da aliança, com o apoio de ACM Neto.

Bivar, porém, era contra o movimento porque perderia influência sobre o partido e já havia declarado publicamente que o mais provável é que a federação não saísse do papel porque "vários diretórios se posicionaram contrários". O acordo, de fato, não saiu.

Diretório do Rio

O diretório estadual fluminense esteve no centro dos embates envolvendo o União Brasil ao colocar o presidente Luciano Bivar e o vice-presidente Antonio Rueda em lados opostos. O principal impasse entre os dois, em abril, girava em torno da liberação de mais espaço para a sigla na gestão estadual, sob o comando de Cláudio Castro (PL).

O desentendimento começou com o movimento de Rueda para retirar o prefeito de Belford Roxo, Waguinho — hoje filiado ao Republicanos —, do diretório estadual do partido, enquanto trabalhava pela filiação do presidente da Assembleia Legislativa do estado Rodrigo Bacellar (PL) para a presidência no Rio. 

O vice ainda estaria cacifando o deputado estadual Márcio Canella para disputar a prefeitura da cidade da Baixada Fluminense, em palanque oposto ao de Waguinho, ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo aliados, a relação entre os dois chegou ao limite com a negociação sobre as nomeações para o Detran e para o Rioprevidência, em que os parlamentares da sigla informaram que sequer foram consultados sobre as escolhas.

Crise em Pernambuco

Em Pernambuco, Bivar gerou uma crise com um rival dentro da sigla, o deputado federal Mendonça Filho. Ex-ministro da Educação e um dos principais nomes do antigo DEM, o parlamentar foi eleito, no começo deste ano, para comandar o diretório pernambucano da legenda. A convenção, no entanto, foi invalidada pelo presidente nacional da sigla, que defendia Marcos Amaral para o cargo.

A eleição interna acabou anulada pela Justiça diante de provocações feitas pelo grupo de Mendonça — entre elas, uma acusação de fraude com a inscrição de diretórios municipais irregulares na disputa.

Debandada

A ex-ministra Daniela Carneiro e outros cinco parlamentares do União na Câmara — Chiquinho Brazão, Juninho do Pneu, Marcos Soares, Ricardo Abrão e Dani Cunha — entraram com um pedido na Justiça Eleitoral pedindo para se desfiliarem sem correr risco da perda do mandato. Os deputados buscavam "justa causa" para a desfiliação, sob o argumento de "assédio" por parte da direção nacional.

Ameaças e acesso bloqueado

A temperatura subiu ao ponto de aliados do vice-presidente fluminense Antonio Rueda relatarem ameaças de agressão por parte de pessoas próximas aos parlamentares. Waguinho chegou a levar as reclamações a Bivar, que reagiu cortando o acesso do presidente estadual da legenda ao sistema que permite movimentar o fundo partidário. O movimento teria sido a gota d'água para a debandada da legenda no Rio.

Capitais sem diretórios

Em abril, no meio da crise interna envolvendo o partido, o União Brasil não tinha diretório em metade das 26 capitais do país. No Rio, por exemplo, a irmã do deputado Chiquinho Brazão, Lúcia Brazão, foi eleita, em dezembro, para comandar o diretório municipal da sigla.

No entanto, Bivar interveio pelo nome do deputado estadual Márcio Canella, mas, como sua escolha não se deu por convenção e a comissão provisória perdeu validade, o União ficou sem liderança na capital fluminense. Em São Paulo, os grupos do vereador Milton Leite e de Rueda também disputam o controle do diretório.

Bivar e ACM Neto

O presidente Luciano Bivar (PE) e o secretário-geral da legenda ACM Neto (BA) colecionam uma lista de desentendimentos que datam desde antes da fundação da legenda, no começo de 2022. No primeiro semestre deste ano, parlamentares do União Brasil reclamaram que Bivar estaria intervindo nas escolhas de diretórios locais sem a anuência de ACM Neto, a quem compete o relacionamento da direção nacional com os demais órgãos partidários.

Dentro do partido, parlamentares egressos do DEM costumam ficar ao lado de ACM Neto, que foi presidente nacional do Democratas. Esse grupo se coloca na oposição a Bivar em assuntos internos do União Brasil.

Carta aberta no Amazonas

A disputa envolvendo o diretório do União Brasil no Amazonas foi um dos últimos alvos de insatisfação explícita de ala da sigla aliada ao secretário-nacional ACM Neto. Em carta divulgada internamente e divulgada pela revista Veja, integrantes do partido questionaram o posicionamento do presidente Luciano Bivar sobre o processo de convocação da convenção partidária no estado, afirmando que ele estaria tentando impor "uma decisão individual que pode abrir um precedente inaceitável de desrespeito" ao estatuto do partido.

O documento, asinado por nomes como ACM Neto, José Agripino Maia e Ronaldo Caiado, traz taxativamente: "Um presidente nacional só pode deliberar a respeito de qualquer ação, em qualquer estado da Federação, depois de obter autorização da Executiva".


Fonte: O GLOBO