Investigação procura apurar invasão em sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserção de informações falsas em bancos de dados

A Polícia Federal cumpriu, nesta quarta-feira, mandados de busca e apreensão contra a deputada federal Carla Zambelli e de prisão contra o hacker Walter Delgatti. 

A parlamentar, uma das principais integrantes da tropa de choque bolsonarista no Congresso, é investigada por supostamente contratar Delgatti para fraudar as urnas eletrônicas e tentar inserir no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o relato do hacker. Em coletiva, ela negou os crimes.

Na manhã desta quinta-feira, foram revistados o apartamento funcional e o gabinete de Zambelli na Câmara dos Deputados. Em coletiva de imprensa convocada após a operação, a deputada afirmou que encontrou Delgatti em apenas três ocasiões, em que teriam conversado sobre "tecnologia" e que o hacker teria se oferecido para participar de "uma espécie de auditoria no primeiro e segundo turno das eleições". Investigadores da PF marcaram a oitiva da parlamentar para esta quinta-feira, mas advogados de Zambelli conseguiram adiar o depoimento.

Veja quem é quem na operação contra Zambelli.

Carla Zambelli

Deputada federal no segundo mandato, Carla Zambelli conquistou uma cadeira na Câmara como apoiadora ferrenha de Jair Bolsonaro. Desde que tomou posse pela primeira vez, em 2019, ela se envolveu em uma série de polêmicas e chegou a romper com aliados próximos. A parlamentar também é investigada em inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), como o das milícias digitais.

Na operação deflagrada nesta quarta-feira, ela é investigada por ter supostamente contratado Delgatti para entrar no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), incluindo documentos fraudulentos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).

Zambelli chegou a intermediar encontros entre o hacker e Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, conforme depoimento de Delgatti à PF. Na ocasião, a deputada teria pedido a ele que invadisse as contas de e-mail e o telefone do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ainda segundo ele, a deputada também teria promovido uma reunião sua com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. À época, Zambelli chegou a afirmar a interlocutores que sua intenção era discutir a possibilidade de Delgatti integrar uma equipe de consultores contratados para fiscalizar as urnas eletrônicas.

Walter Delgatti

O hacker Walter Delgatti Neto ficou conhecido por vazar conversas de procuradores e juízes da Lava-Jato que apontavam uma suposta articulação entre acusação e julgadores no curso de ações dentro da operação. Ele chegou a se encontrar com Zambelli em pelo menos três ocasiões. Em depoimento à PF, Delgatti informou que, em um desses momentos, na Rodovia dos Bandeirantes, ela o teria pedido para invadir as contas de e-mail e o telefone do ministro Alexandre de Moraes.

À PF, ele disse que só conseguiu acessar o e-mail de Moraes, mas não encontrou nada de comprometedor, e que não obteve êxito ao tentar acessar o celular do magistrado. O hacker também alegou ter tentado invadir o sistema de segurança das urnas eletrônicas, mais uma vez sem sucesso.

Ele teria encontrado Zambelli em outras duas ocasiões. Uma delas foi no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, quando a deputada mediou o encontro do hacker com o então presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista à GloboNews nesta quarta, o advogado do blogueiro, Ariovaldo Moreira, informou que, nessa situação, foi citada a possibilidade de "ruptura institucional".

Renan Goulart

O servidor Renan Cesar Silva Goulart é lotado no gabinete do irmão da deputada, Bruno Zambelli, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e teria relação próxima com a parlamentar. Segundo a investigação da Polícia Federal, partiram dele parte dos pagamentos efetuados a Delgatti pelos serviços prestados à deputada bolsonarista. Nos autos, Moraes aponta que Goulart teria feito trasferências via Pix em nome de Zambelli.

Jean Hernani Guimarães

Jean Hernani Guimarães é funcionário lotado no gabinete da própria Carla Zambelli na Câmara dos Deputados e é apontado como um dos envolvidos nas transações com Walter Delgatti. De acordo com o ministro Alexandre de Moraes, também teriam partido de Jean transferências via Pix ao hacker pelos serviços prestados, em nome de Zambelli.


Fonte: O GLOBO