O volume de recursos ainda será avaliado, mas uma estimativa inicial fala em aportes de US$ 25 bilhões
Uma inédita coalizão de instituições financeiras foi lançada nesta segunda-feira na Cúpula da Amazônia, em Belém, com a intenção de apoiar o desenvolvimento sustentável da Amazônia. São 19 bancos, capitaneados pelo BNDES e pelo BID, buscando articular instrumentos de financiamento sustentáveis no bioma.
O volume de recursos ainda será avaliado, mas uma estimativa inicial fala em aportes de US$ 25 bilhões. A aliança internacional foi lançada durante um seminário sobre mobilização de recursos para o desenvolvimento sustentável da região amazônica onde vivem 50 milhões de pessoas, sendo 28 bilhões na Amazônia brasileira.
O financiamento climático é um dos grandes temas da Cúpula que reúne em Belém chefes de Estado e de governo dos países da Organização do Tratado de Cooperação Econômica, a OTCA, até quarta. A coalizão verde será citada na declaração política que resultará do evento.
— Os bancos públicos respondem por 15% do crédito na economia e têm papel fundamental no enfrentamento às mudanças climáticas. Se o sistema financeiro não mudar, a economia mundial não irá mudar — disse Aloizio Mercadante, presidente do BNDES.
— São 19 bancos de desenvolvimento da região. Com essa coalizão, vamos apoiar a Amazônia de forma sustentável. A ideia não é só acesso a crédito, mas também alavancar o desenvolvimento do sistema privado por meio de uma mudança de patamar do financiamento — disse o presidente do BID, Ilan Goldfajn.
Do Brasil assinam, além do BNDES, o Banco do Brasil, Caixa, BNB, Basa e BanPará. Nos multilaterais, além do BID, a CAF (Corporation Andina de Fomento) e o Banco Mundial. Há ainda bancos do Peru, da Colômbia e de outros países.
Natália Dias, diretora do BNDES para mercado de capitais e finanças sustentáveis lembra que o volume de recursos de financiamento climático no mundo, em média, entre 2011 e 2020, foi de aproximadamente US$ 500 bilhões ao ano. Em 2021 deve alcançar US$ 800 bilhões. Ali entram green bonds, investimentos em bioeconomia e energias renováveis, por exemplo.
— A estimativa global é que precisaríamos de um volume de US$ 4,3 trilhões, para se ter a dimensão do esforço. Mas o paradoxo é que não é falta de recursos, mas canalizar a liquidez existente hoje com os projetos certos — continua ela.
Vários estudos indicam que, no melhor cenário, para evitar maiores impactos na Amazônia seria preciso investir cerca de R$ 2,5 trilhões até 2050 em bioeconomia, restauração florestal, agricultura e pecuária de baixo carbono, energia renovável e infraestrutura resiliente.
— Os benefícios poderiam ser de um acréscimo de R$ 40 bilhões no PIB da Amazônia Legal e adicionar mais de 310 mil empregos na região — diz Natália Dias. Precisamos salvar as árvores e as almas da floresta. Manter a floresta em pé e financiar projetos para a população local que reduza a pressão nas florestas. Vamos olhar para as cidades também, aumentar a capilaridade de internet, a geração de energias renováveis.
A ideia é misturar recursos públicos, finitos, e alavancar assim investimentos privados. Os recursos públicos tirariam, por exemplo, os riscos de projetos inovadores.
— São finanças híbridas — explica.
A coalizão irá desenvolver mecanismos neste caminho. O esforço é de encontrar uma solução regional para a Amazônia e não individualizada em cada país. Oferecer, ainda, menos burocracia e mais acesso a fundos climáticos e pensar na viabilidade econômica da população local.
A região amazônica vive desafios variados. A ministra de Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, lembrou que o país “disputa o território com economias ilícitas, que são capazes de crescer”. Ela deixou claro que “há falta de capacidade de endividamento dos Estados nesse momento”.
— A Amazônia brasileira, se fosse um país, seria o quarto mais violento do mundo, pela taxa de homicídios por 100 mil habitantes. Isso deteriora profundamente o ambiente de negócios — lembrou Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon.
Ele diz que na Amazônia brasileira há uma área de 145 milhões de hectares de terras sem definição de direitos de propriedade.
— No caldo dessa indefinição e violência prosperam desmatamento e ilegalidade — seguiu.
Veríssimo disse que 84 milhões de hectares foram desmatados na Amazônia em 40 anos e 2/3 dessa área estão abandonados.
— Não há nenhuma justificativa para novos desmatamentos na Amazônia. Há 35 milhões de hectares que poderiam ser restaurados ou entrar em sistemas agroflorestais — calcula.
— Vemos esse programa como um elemento-chave em nossos esforços para ajudar a preservar a Amazônia, que incluem incentivos para a adoção de atividades econômicas alternativas e sustentáveis — seguiu Goldfajn.
A ministra do Meio Ambiente Marina Silva disse que o combate ao desmatamento demanda ações para além do comando e controle:
— São necessárias iniciativas de desenvolvimento sustentável da região. A Amazônia tem lugar para todas as atividades. Tem lugar para o agronegócio de base sustentável, o turismo, os povos indígenas e a bioeconomia.
Entre as áreas de trabalho da coalizão busca-se melhorar a renda, o emprego, a segurança, o saneamento, a saúde e a educação, ampliar a conectividade, infraestrutura verde e transição energética e promover a conservação e restauração do bioma.
Outra iniciativa foi selada em Belém entre o BID e o BNDES, o Pro-Amazônia. É um programa de acesso a crédito para micro, pequenas e médias empresas e pequenos empreendedores na Amazônia Legal brasileira. O compromisso é de US$ 900 milhões (ou R$ 4,5 bilhões), sendo US$ 750 milhões do BID e US$ 150 milhões do BNDES.
A intenção é financiar a modernização, expansão, aquisição de bens e equipamentos e inovação e buscar promover práticas sustentáveis. O PRO-Amazônia deve começar em 2024. Deve priorizar energias renováveis, bioeconomia e a adaptação das cidades à economia de baixo carbono.
Pequenas e médias representam 99% do número de empresas no Brasil, por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e 46% dos empregos, principalmente no setor de serviços. Na Amazônia, onde o acesso à logística, saneamento, educação, saúde e segurança é mais difícil do que em outras regiões, os desafios são maiores. (Colaborou Rafael Garcia.)
*A repórter viajou a Belém a convite do Instituto Clima e Sociedade.
Fonte: O GLOBO
O financiamento climático é um dos grandes temas da Cúpula que reúne em Belém chefes de Estado e de governo dos países da Organização do Tratado de Cooperação Econômica, a OTCA, até quarta. A coalizão verde será citada na declaração política que resultará do evento.
— Os bancos públicos respondem por 15% do crédito na economia e têm papel fundamental no enfrentamento às mudanças climáticas. Se o sistema financeiro não mudar, a economia mundial não irá mudar — disse Aloizio Mercadante, presidente do BNDES.
— São 19 bancos de desenvolvimento da região. Com essa coalizão, vamos apoiar a Amazônia de forma sustentável. A ideia não é só acesso a crédito, mas também alavancar o desenvolvimento do sistema privado por meio de uma mudança de patamar do financiamento — disse o presidente do BID, Ilan Goldfajn.
Do Brasil assinam, além do BNDES, o Banco do Brasil, Caixa, BNB, Basa e BanPará. Nos multilaterais, além do BID, a CAF (Corporation Andina de Fomento) e o Banco Mundial. Há ainda bancos do Peru, da Colômbia e de outros países.
Natália Dias, diretora do BNDES para mercado de capitais e finanças sustentáveis lembra que o volume de recursos de financiamento climático no mundo, em média, entre 2011 e 2020, foi de aproximadamente US$ 500 bilhões ao ano. Em 2021 deve alcançar US$ 800 bilhões. Ali entram green bonds, investimentos em bioeconomia e energias renováveis, por exemplo.
— A estimativa global é que precisaríamos de um volume de US$ 4,3 trilhões, para se ter a dimensão do esforço. Mas o paradoxo é que não é falta de recursos, mas canalizar a liquidez existente hoje com os projetos certos — continua ela.
Vários estudos indicam que, no melhor cenário, para evitar maiores impactos na Amazônia seria preciso investir cerca de R$ 2,5 trilhões até 2050 em bioeconomia, restauração florestal, agricultura e pecuária de baixo carbono, energia renovável e infraestrutura resiliente.
— Os benefícios poderiam ser de um acréscimo de R$ 40 bilhões no PIB da Amazônia Legal e adicionar mais de 310 mil empregos na região — diz Natália Dias. Precisamos salvar as árvores e as almas da floresta. Manter a floresta em pé e financiar projetos para a população local que reduza a pressão nas florestas. Vamos olhar para as cidades também, aumentar a capilaridade de internet, a geração de energias renováveis.
A ideia é misturar recursos públicos, finitos, e alavancar assim investimentos privados. Os recursos públicos tirariam, por exemplo, os riscos de projetos inovadores.
— São finanças híbridas — explica.
A coalizão irá desenvolver mecanismos neste caminho. O esforço é de encontrar uma solução regional para a Amazônia e não individualizada em cada país. Oferecer, ainda, menos burocracia e mais acesso a fundos climáticos e pensar na viabilidade econômica da população local.
A região amazônica vive desafios variados. A ministra de Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, lembrou que o país “disputa o território com economias ilícitas, que são capazes de crescer”. Ela deixou claro que “há falta de capacidade de endividamento dos Estados nesse momento”.
— A Amazônia brasileira, se fosse um país, seria o quarto mais violento do mundo, pela taxa de homicídios por 100 mil habitantes. Isso deteriora profundamente o ambiente de negócios — lembrou Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon.
Ele diz que na Amazônia brasileira há uma área de 145 milhões de hectares de terras sem definição de direitos de propriedade.
— No caldo dessa indefinição e violência prosperam desmatamento e ilegalidade — seguiu.
Veríssimo disse que 84 milhões de hectares foram desmatados na Amazônia em 40 anos e 2/3 dessa área estão abandonados.
— Não há nenhuma justificativa para novos desmatamentos na Amazônia. Há 35 milhões de hectares que poderiam ser restaurados ou entrar em sistemas agroflorestais — calcula.
— Vemos esse programa como um elemento-chave em nossos esforços para ajudar a preservar a Amazônia, que incluem incentivos para a adoção de atividades econômicas alternativas e sustentáveis — seguiu Goldfajn.
A ministra do Meio Ambiente Marina Silva disse que o combate ao desmatamento demanda ações para além do comando e controle:
— São necessárias iniciativas de desenvolvimento sustentável da região. A Amazônia tem lugar para todas as atividades. Tem lugar para o agronegócio de base sustentável, o turismo, os povos indígenas e a bioeconomia.
Entre as áreas de trabalho da coalizão busca-se melhorar a renda, o emprego, a segurança, o saneamento, a saúde e a educação, ampliar a conectividade, infraestrutura verde e transição energética e promover a conservação e restauração do bioma.
Outra iniciativa foi selada em Belém entre o BID e o BNDES, o Pro-Amazônia. É um programa de acesso a crédito para micro, pequenas e médias empresas e pequenos empreendedores na Amazônia Legal brasileira. O compromisso é de US$ 900 milhões (ou R$ 4,5 bilhões), sendo US$ 750 milhões do BID e US$ 150 milhões do BNDES.
A intenção é financiar a modernização, expansão, aquisição de bens e equipamentos e inovação e buscar promover práticas sustentáveis. O PRO-Amazônia deve começar em 2024. Deve priorizar energias renováveis, bioeconomia e a adaptação das cidades à economia de baixo carbono.
Pequenas e médias representam 99% do número de empresas no Brasil, por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e 46% dos empregos, principalmente no setor de serviços. Na Amazônia, onde o acesso à logística, saneamento, educação, saúde e segurança é mais difícil do que em outras regiões, os desafios são maiores. (Colaborou Rafael Garcia.)
*A repórter viajou a Belém a convite do Instituto Clima e Sociedade.
Fonte: O GLOBO
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