Considerado favorito para uma das vagas em aberto no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o desembargador Carlos von Adamek passou a ser alvo de fritura nos bastidores por conta de suas conexões familiares. No caso, pelo fato do seu irmão, o advogado Marcelo von Adamek, já ter sido advogado do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), em uma ação contra uma corretora de valores.

Adamek é um dos quatro desembargadores a figurar numa lista quádrupla que será analisada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para preencher duas vagas do STJ reservadas à Justiça Estadual.

Candidato de Dias Toffoli na disputa, ele “derrotou” o desembargador Airton Vieira, apadrinhado de Alexandre de Moraes, na disputa particular para saber quem seria o nome de São Paulo a figurar na lista – tanto Adamek quanto Vieira atuam no TJ paulista. Adamek conta ainda com o apoio do influente grupo de advogados Prerrogativas, próximo do PT e de Lula.

O irmão do desembargador, Marcelo von Adamek, advogou para Carlos Bolsonaro em 2010, quando o pai, Jair Bolsonaro, ainda era um deputado federal do baixo clero em Brasília.

Conforme informou o site UOL, Carlos Bolsonaro acusou a corretora, que pertence ao Citigroup, de realizar investimentos contra suas próprias orientações, o que teria resultado em uma perda de R$ 130 mil em meio à crise que abalou o mercado financeiro em 2008.

Carlos perdeu a ação com pedido de indenização contra a corretora em primeira instância. Na época, a juíza da 35ª Vara Cível apontou que cabia ao filho de Jair Bolsonaro “controlar a movimentação de seus investimentos por meio dos agentes indicados pela corretora de sua confiança”.

Também foi condenado a custear as despesas processuais e os honorários advocatícios, o que na prática representava um ônus equivalente a R$ 59,8 mil que deveriam ser pagos à corretora.

Marcelo von Adamek, irmão do desembargador Carlos von Adamek, que hoje disputa uma vaga para ser ministro do STJ, entrou com recurso no Tribunal de Justiça de São Paulo, alegando que os extratos recebidos por Carlos Bolsonaro eram “incompreensíveis para aqueles que não são do mercado financeiro”. Mas não conseguiu reverter a derrota para o seu cliente.

Carlos mudou de advogado, e seu pai foi eleito presidente da República em 2018. O hoje vereador e os advogados do Citigroup acabaram chegando a um acordo, “sem a realização de pagamento de qualquer montante, de parte a parte”, e o processo acabou encerrado. O acordo foi homologado em julho de 2021, sem a participação de Marcelo von Adamek.

Procurado pela equipe da coluna, o desembargador disse que não participa nem tem ingerência “sobre a vida profissional de meu irmão ou de qualquer outro familiar”.

“Sou juiz de carreira há 34 anos, sempre atuei com base nos princípios da imparcialidade e dos direitos e garantias individuais, em cumprimento às leis e à Constituição”, afirmou.

O advogado Marcelo von Adamek, por sua vez, disse que “repudia” a “a tentativa de confundir advogado com seus ex-clientes”.

“Assumi a ação citada em 2010, quando Bolsonaro era desconhecido em São Paulo e não influenciava a política nacional. Os filhos dele, com quem só mantive contatos telefônicos e profissionais, discutiam um tema do direito empresarial relativo ao mercado financeiro. Deixei o caso quando precisei manifestar críticas em relação ao governo Bolsonaro, contrariando os clientes.”

O advogado destaca que, em 2020, assinou um manifesto contra o governo Bolsonaro ao lado de outros ex-presidentes da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP). Dois anos depois, ao lado de outros professores da USP, assinou a Carta em Defesa do Estado Democrático de Direito.


Fonte: O GLOBO