Presidente da Câmara segurou a pauta ao perceber que petista costurava reforma ministerial sem ouvi-lo como avalista
O freio que Arthur Lira (PP-AL) impôs à votação do novo marco fiscal, bem como a incerteza quanto ao andamento dos demais projetos de interesse do governo, foi uma resposta do presidente da Câmara à tentativa deliberada de Lula de escanteá-lo na negociação para a entrada do PP e do Republicanos no primeiro escalão.
Lira percebeu o movimento e, na volta do recesso branco, segurou o jogo para voltar a ser chamado para avalizar a operação. Depois de entregar a votação do arcabouço e da reforma ministerial, além de destravar a votação de outro projeto primordial para o Executivo, o que restabelece o voto de desempate no Carf, Lira conseguiu emplacar Celso Sabino no Turismo e esperava chancelar ainda o ingresso de seu próprio partido e do Republicanos na Esplanada.
Mas Lula aproveitou sua ausência para breves férias a bordo do cruzeiro do cantor Wesley Safadão para tocar as negociações da reforma sem Lira. Chamou os postulantes a ministro e tentou se encontrar com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira. Não queria colocar todos os ovos na cesta apenas de Lira (que ainda teria de ser ouvido para negociar as posições do PP, uma vez que o presidente da legenda, Ciro Nogueira, é um oposicionista contumaz).
Lira voltou e ficou esperando ser chamado para a reunião com o presidente, o que não ocorreu. Fez uma postagem longa nas redes sociais mandando um "telegrama" para Lula deixando claro que esperava o convite para uma reunião, e, ainda assim, nada.
Não é o primeiro desencontro desse tipo numa relação entre presidente e comandante da Câmara que está sendo construída apenas depois da eleição, e sem confiança irrestrita. Quando da votação do marco fiscal, Lula chegou a marcar uma reunião de líderes para agradecer, mas Lira desarticulou o encontro por não ter sido chamado em primeiro lugar nem ter sido chamado para convocar os demais deputados.
O recado é claro: para o alagoano, nada em seu território pode transcorrer sem sua anuência e sem seu protagonismo. Vem dessa mesma disposição de mostrar poder a afirmação, feita por Lira no "Roda Viva", de que o posto de articulador político de qualquer governo tem "validade", num recado de que Alexandre Padilha, se não quiser sofrer fritura, terá de recorrer a ele.
Fonte: O GLOBO
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