'Não tenho parceiros socialistas', afirma líder na corrida presidencial argentina. Pequim socorreu país com US$ 18 bi para pagar FMI
- O líder na corrida presidencial na Argentina, Javier Milei, quer congelar as relações com a China e retirar a segunda maior economia da América do Sul do Mercosul, propostas de política externa que são tão radicais quanto as econômicas.
Em entrevista após sua inesperada vitória nas primárias no último domingo, o candidato da direita radical revelou detalhes sobre como pretende conduzir os assuntos da Argentina no cenário mundial, caso seja eleito.
- As pessoas não são livres na China, não podem fazer o que querem e, quando o fazem, são mortas - disse ele à Bloomberg News na quarta-feira, referindo-se ao governo de Pequim. - Você faria comércio com um assassino?”
Milei abalou o establishment político da Argentina no fim de semana passado ao receber mais votos do que o bloco de oposição pró-negócios e a coalizão peronista que hoje governa o país, colocando-o na liderança para ser o próximo presidente do país.
Sua eleição em outubro geraria ondas de choque em uma região amplamente governada por líderes de esquerda.
Em sua recusa de fazer qualquer tipo de negócio com “socialistas”, ele colocou a China comunista na mesma categoria do maior parceiro comercial da Argentina, o Brasil. A China é o segundo maior comprador das exportações argentinas e fornece uma linha de swap crucial de US$ 18 bilhões com o banco central que está sendo usada para pagar o Fundo Monetário Internacional.
Milei descreveu suas propostas de política externa como uma “luta global contra socialistas e estatistas” e revelou que nomearia Diana Mondino, uma conselheira econômica de confiança, para ser a principal diplomata.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil não comentou imediatamente as declarações de Milei e as ligações feitas à embaixada da China em Buenos Aires não foram atendidas.
Sem envolvimento
Mais tarde, ele esclareceu que cabe ao setor privado decidir se mantém relações comerciais com a China e outros países cujos líderes ele tem um forte desgosto.
- Não tenho que me envolver, mas não vou promover laços com quem não respeita a liberdade - disse, acrescentando que respeitaria os acordos já assinados na Argentina por empresas chinesas, que incluem um contrato para construir represas na Patagônia e um acordo para instalar uma usina nuclear.
O maior beneficiário geopolítico da ideologia de Milei seria claramente os Estados Unido. Ele afirmou que trabalharia com qualquer presidente eleito em 2024, independentemente de suas tendências políticas, embora tenha preferência por um conservador.
No momento, Donald Trump está à frente nas pesquisas para garantir a indicação republicana, mas Milei não está especialmente interessado em ser comparado com o ex-presidente dos EUA. Questionado se gostaria que Trump voltasse à Casa Branca, ele disse cautelosamente: “Isso cabe aos americanos decidir”.
- Posso gostar mais do perfil dos republicanos do que dos democratas, mas isso não significa que não considere os EUA como nosso grande parceiro estratégico - acrescentou.
Enquanto isso, ele colocou Luiz Inácio Lula da Silva; Andrés Manuel López Obrador, do México; Gabriel Boric, do Chile; e Gustavo Petro, da Colômbia, os líderes de esquerda das principais economias da América Latina, em guarda. Questionado sobre como seria sua relação com eles, disse:
- Não tenho parceiros socialistas.
Em contrapartida, sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro é “excelente.”
Críticas ao Mercosul
Milei deprecia a aliança comercial que a Argentina criou com Brasil, Paraguai e Uruguai há mais de três décadas. O grupo, cercado por divisões internas, tem lutado para implementar um acordo de livre comércio com a União Europeia fechado há quatro anos.
- O Mercosul é uma união aduaneira de má qualidade que cria distorções comerciais e prejudica seus membros - afirmou.
Sem surpresas, Milei foi igualmente crítico ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a quem chamou de “ditador”, assim como os governos da Nicarágua, Cuba, Coreia do Norte e Rússia. Milei disse ainda que, se for eleito presidente, a Argentina condenaria novamente a Venezuela por sua violação dos direitos humanos voltando à política linha-dura que o país manteve até 2019 com o presidente Mauricio Macri.
Fonte: O GLOBO
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