Aquele pouco a mais, que parece inofensivo, pode sim trazer resultados, mesmo para pessoas altamente treinadas

A pessoa decide que vai ser saudável, ficar com peso dentro dos padrões considerados normais, deixar o sedentarismo de lado, mudar de vida. Maravilha! Só de querer (um pouco que seja) já é bom demais. Mas... 10 em cada 10 pessoas acreditam que isso só pode ser alcançado se estiver numa academia, se comprar os suplementos caríssimos, se fizer isso, aquilo, o que o vizinho faz, e esquecem que coisas simples do dia a dia podem ser até mais eficientes que todo esse aparato, essa “produção”.

Então, gostaria de sugerir alguns “incrementos” que colocariam mais movimento em nossos dias para ajudar no desafio lançado semana passada. Vale lembrar que o corpo reconhece movimento, sendo ele feito dentro da academia, de casa, no trabalho, na rua, seja correndo de um cachorro ou correndo na esteira.

Quando fiz o quadro “Medida Certa – Condomínio”, uma das participantes se levantava cada hora trabalhada e caminhava por cerca de 3 a 5 minutos dentro do ambiente de trabalho. Voltava à sua mesa e seguia trabalhando. Ao final de 3 meses, ela havia perdido 7 centímetros de circunferência abdominal e 8 quilos.

Um grande amigo — que gostava muito de me zoar e dizer que o estilo de vida bem-estar era balela, era chato, que o melhor era o bem-gozar, regado a bebidas, jantares, festas, cigarro — um dia me desafiou. Disse que duvidava que apenas subir as escadas do trabalho poderia resultar em alguma mudança. E fez para testar. 

Talvez até para me provar o contrário. Com os resultados que teve após o primeiro mês, se empolgou e continuou por mais 2 meses, incluindo ainda caminhadas no fim de semana. Hoje, 3 anos depois, não só aboliu elevadores e escadas rolantes, como também passou a correr, abandonou os remédios de pressão e deixou pelo caminho 17 quilos. Pegou gosto pela atividade física de forma natural e mudou o estilo de vida totalmente, sem deixar de ter seus momentos de lazer, seus jantares, seus vinhos. Felizmente, conseguiu largar também o cigarro.

Muitas pessoas que não tem o aparato, não estão em academias, por exemplo, conseguem colocar mais movimento na rotina, melhoram a forma física e a disposição. Vou dar um exemplo de um estudo feito com ciclistas profissionais. Esses caras pedalam cerca de 300 quilômetros por dia, durante cerca de 300 dias no ano. Passam cerca de 4 a 5 horas em cima de uma bike durante as provas de grand tour (que duram 21 dias). 

Passam mais tempo na bike que em qualquer outro lugar. Você pensa que não há mais nada que eles possam fazer, porque já são muitíssimo ativos, aliás, já até passaram do ponto (porque atletas de alto rendimento levam realmente o corpo ao limite). 

Mas, eles decidem testar fazer 3 series de burpee (exercício conjugado de salto com flexão de braço), por dia. E, só com mais esse detalhe, eles descobrem que ainda assim conseguem ter uma melhora de performance significativa. O que eu quero dizer é que aquele pouco a mais, que parece inofensivo, pode sim trazer resultados, mesmo para pessoas altamente treinadas.

Minha ideia não é que você faça polichinelo no meio do ônibus. Se você trabalha em casa, sim, isso seria possível. Ou apenas dançar algumas músicas. Mas, se você passa duas horas no ônibus, por exemplo, então fique de pé. Pronto. Já é uma atitude que mudaria bastante seu gasto calórico, além de melhorar respostas das ações orgânicas que acontecem durante todo o tempo dentro de nosso corpo. Sentado você gasta, em média, cerca de 1 caloria por minuto, de pé gasta 2. 

O dobro. Mas são apenas duas calorias? Sim. Mas isso significa que ao longo de 3 meses você terá gastado 10.800 calorias a mais, apenas ficando de pé. Ao longo de 12 meses, terão sido deixadas para trás 43.800. E, junto a isso, a contração muscular das pernas, só por estar de pé, estimula uma série de ações como regulação da insulina, melhora do sistema cardiorrespiratório, força muscular, manutenção da massa óssea e, até mesmo, funções cerebrais. Pesquisas comprovaram que pensamos melhor de pé do que sentados. Quem não ficar mais inteligente?


Fonte: O GLOBO