Levantamento obtido pelo GLOBO faz raio-x do baixo número de magistradas em postos de poder na Justiça
Dos 22 estados com informações disponíveis sobre os tribunais, em 14 ou nunca houve mulher no comando ou só aconteceu uma vez, o equivalente a 63%. Em seis, a chefia jamais ocorreu, enquanto em oito foi episódio isolado.
Em relação à OAB, os dados permitiram a análise de 20 estados, dos quais em 19 houve no máximo uma gestão feminina. Nove nunca elegeram uma mulher, e dez, só uma vez.
Levando-se em conta todas as unidades da Federação, só quatro tribunais de Justiça e cinco seções estaduais da OAB estão sob comando feminino.
— Os dados ilustram o último degrau de uma longa e tortuosa escada cheia de barreiras que as mulheres precisam percorrer. Há no Brasil uma destacada ausência de mulheres nas instâncias decisórias das instituições de justiça—afirma Luciana Zaffalon, diretora-executiva do Justa.
— É preciso que superemos as barreiras sistemáticas e paradigmas discriminatórios que impedem mulheres de prosperar na promoção e na ascensão aos cargos de liderança no Poder Judiciário.
A chegada às Cortes superiores, em que as indicações já não mais obedecem a concursos públicos ou critérios objetivos, mas a cálculos políticos, também mostra gargalos visíveis para mulheres. Até hoje, só três chegaram ao topo da magistratura no Brasil: Rosa Weber e Cármen Lúcia, que seguem ministras do Supremo Tribunal Federal (STF), e Ellen Gracie, que deixou a Corte em 2011.
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), hoje presidido por uma mulher, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, a desproporcionalidade também é flagrante. Dos 33 ministros da composição, seis são mulheres — foram oito em toda a história.
Embora a Justiça trabalhista seja historicamente mais aberta às mulheres, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) também demonstra uma disparidade. Dos 27 componentes, a representação feminina alcança seis cadeiras. No Superior Tribunal Militar (STM), só uma mulher figura entre seus quinze ministros: Maria Elizabeth Rocha.
Doutora em direito penal, a advogada Carla Silene foi a primeira mulher a concorrer a uma vaga para a presidência da seccional mineira da OAB, em 2021, quando a organização local elegeu o advogado Sérgio Leonardo. Para ela, a estrutura do sistema Judiciário dificulta a progressão das mulheres na carreira.
— A ruptura desse cenário é urgente. Nós temos na advocacia um número de mulheres inscritas que supera o de homens. No entanto, além de termos uma maior dificuldade para que elas progridam na carreira, a estrutura do sistema de Justiça ainda é muito voltada para o homem — disse Silene ao GLOBO.
Na semana passada, Rosa Weber, que preside o STF, criticou a falta de representatividade de mulheres nos espaços de poder. A declaração da ministra ocorre em meio a pressões para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolha uma mulher para ocupar a vaga que será aberta com a sua aposentadoria, no final de setembro.
— O déficit de representatividade feminina nos espaços de poder significa um déficit para a própria democracia brasileira — afirmou a ministra, durante Jornada Maria da Penha, evento promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com o Tribunal de Justiça do estado do Ceará (TJ-CE), presidido pelo desembargador Antônio Abelardo Benevides Moraes.
Sem favorita à corrida
A chegada às Cortes superiores, em que as indicações já não mais obedecem a concursos públicos ou critérios objetivos, mas a cálculos políticos, também mostra gargalos visíveis para mulheres. Até hoje, só três chegaram ao topo da magistratura no Brasil: Rosa Weber e Cármen Lúcia, que seguem ministras do Supremo Tribunal Federal (STF), e Ellen Gracie, que deixou a Corte em 2011.
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), hoje presidido por uma mulher, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, a desproporcionalidade também é flagrante. Dos 33 ministros da composição, seis são mulheres — foram oito em toda a história.
Embora a Justiça trabalhista seja historicamente mais aberta às mulheres, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) também demonstra uma disparidade. Dos 27 componentes, a representação feminina alcança seis cadeiras. No Superior Tribunal Militar (STM), só uma mulher figura entre seus quinze ministros: Maria Elizabeth Rocha.
Doutora em direito penal, a advogada Carla Silene foi a primeira mulher a concorrer a uma vaga para a presidência da seccional mineira da OAB, em 2021, quando a organização local elegeu o advogado Sérgio Leonardo. Para ela, a estrutura do sistema Judiciário dificulta a progressão das mulheres na carreira.
— A ruptura desse cenário é urgente. Nós temos na advocacia um número de mulheres inscritas que supera o de homens. No entanto, além de termos uma maior dificuldade para que elas progridam na carreira, a estrutura do sistema de Justiça ainda é muito voltada para o homem — disse Silene ao GLOBO.
Na semana passada, Rosa Weber, que preside o STF, criticou a falta de representatividade de mulheres nos espaços de poder. A declaração da ministra ocorre em meio a pressões para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolha uma mulher para ocupar a vaga que será aberta com a sua aposentadoria, no final de setembro.
— O déficit de representatividade feminina nos espaços de poder significa um déficit para a própria democracia brasileira — afirmou a ministra, durante Jornada Maria da Penha, evento promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com o Tribunal de Justiça do estado do Ceará (TJ-CE), presidido pelo desembargador Antônio Abelardo Benevides Moraes.
Sem favorita à corrida
Como mostrou o GLOBO, Lula passou a se mostrar-se menos resistente à ideia de escolher uma mulher para o STF. Com isso, ele indica que deve manter ao menos duas magistradas entre os 11 integrantes do tribunal. Até agora, contudo, o petista não encontrou uma jurista que possa ser considerada favorita à corrida.
Auxiliares do presidente que defendem a escolha de uma mulher veem o tempo como um aspecto que joga a favor da causa. Até o fim de setembro, quando Rosa deixará a Corte, Lula poderia criar uma relação de maior proximidade com algumas das cotadas pelo entorno do petista.
Em resposta ao GLOBO, a OAB afirmou que a promoção da equidade de gênero é uma das principais bandeiras da atual gestão, mas que a instituição reconhece que a barreira histórica apresentada às mulheres, de alçarem postos de liderança e comando, ainda carece de políticas permanentes para ser totalmente removida no âmbito da advocacia.
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) disse que defende as eleições diretas para a escolha dos cargos diretivos dos tribunais — medida que contribuiria para uma maior igualdade de gênero nesses espaços de poder.
Fonte: O GLOBO
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