Levantamento mostra analistas divididos nas previsões. Tom do comunicado do primeiro Copom com diretores apontados por Lula vai sinalizar até quando irá a diminuição da Selic

A desaceleração inflacionária, o avanço das pautas econômicas e a queda do dólar são fortes indicativos para o mercado financeiro de que — finalmente — o Banco Central vai reduzir a taxa básica de juros do país, que está em 13,75% desde agosto do ano passado. Se confirmado, será o primeiro corte de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom), em três anos.

Mas qual será a magnitude dessa redução de juros? Analistas se dividem nas previsões: segundo levantamento feito pela Bloomberg com 37 economistas, 29 esperam um corte de apenas 0,25 ponto percentual.

Apesar de haver divergências sobre o tamanho da queda, analistas concordam que a orientação dos votos dos membros do Copom e o tom do comunicado são importantes para prever a trajetória dos juros daqui em diante.

A reunião de agosto será a primeira com a participação dos novos diretores do Banco Central, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, diz que está na expectativa para saber se ambos irão votar de forma mais pragmática, em concordância com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ou de forma divergente.

— A gente espera que o BC seja parcimonioso, com um corte de 0,25 ponto percentual (p.p.). Apesar de termos tido melhora da perspectiva da nota de crédito para o Brasil, ir aos poucos costuma ser a coisa mais recomendável — afirma Meirelles. — Mas se o Galípolo votar separado do Campos Neto, aumentam as incertezas para as próximas reuniões.

Inflação desacelera

Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos, também acredita em uma redução de 0,25 p.p. da Selic. Com a inflação mais baixa — em junho, o IPCA ficou em 3,16% no acumulado em 12 meses —, ele ressalta que a taxa de juros real do país (diferença entre a Selic e a inflação) está em quase dez pontos percentuais.

Mesmo acreditando que poderia ser feito um corte maior, Correa avalia que o BC deverá tomar uma atitude conservadora.

O sócio-fundador da GT Capital, Rodrigo Azevedo, espera um primeiro corte de 0,25 p.p. por ver divergências dentro do Copom. Depois, diz, poderão vir dois cortes de maior magnitude ainda este ano, ambos de 0,5 p.p.

— Mesmo que estejamos entrando agora em um ciclo de queda, imagino que esse ciclo deva durar pelo menos dois anos — afirma Azevedo.

Expectativa de nova deflação em julho

Já a sócia e economista da Blue3 Investimentos, Bruna Centeno, aposta em uma redução de 0,5 p.p. nesta quarta-feira.

— O principal componente para a decisão é a deflação. Depois de junho, já temos expectativa para deflação de novo em julho — explica a economista, lembrando que em junho o IPCA teve queda de 0,08%.

A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) entende que há condições para o início da flexibilização monetária com uma queda de 0,5 p.p. na Selic. "A decisão estaria alinhada ao balanço de riscos favorável, ao consistente processo de desinflação e à queda das expectativas, e ajudaria a reduzir o grau de aperto monetário", afirma a entidade.

De acordo com Boletim Focus, os agentes financeiros têm expectativa que a Selic encerre 2023 em 12%. Enquanto isso, a previsão para a inflação no fim do ano caiu de 4,90% para 4,84% nesta semana.

O ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, assumiiu a diretoria de Política Monetária do BC — Foto: Fernando Donasci/Agência O Globo

‘Efeito emocional’

Na vida real, as consequências da redução da Selic vão desde preços mais baixos nos supermercados e taxas menores para financiar carros e imóveis, até juros menores no cartão de crédito. Esses efeitos, no entanto, não serão sentidos no curto prazo. Bruna ressalta que o efeito da queda do juros leva até 12 meses para chegar à rotina dos brasileiros.

Correa concorda. Segundo ele, para quem depende de crédito enquanto consumidor, nada muda no curto prazo porque “o mercado bancário demora a reagir”. Na outra ponta, os investidores também não devem sentir diferenças, mas o motivo é o oposto — o mercado financeiro se antecipou e já “precificou” a mudança, ou seja, já fez as alterações que deveria fazer para o cenário de juros mais baixos. Efeito disso é a alta de 3,27% do Ibovespa em julho.

— É muito mais emocional do que prático. Os preços reagem a expectativas futuras e já se ajustaram a essa expectativa de corte da Selic — explica Correa.

Opções para investir no novo cenário

Em um contexto de cortes consecutivos de juros, o especialista da Nomos aponta que fundos imobiliários podem ser uma opção interessante de investimento. A depender do perfil do investidor, ações também podem ser uma alternativa para quem tem maior tolerância a riscos.

Na renda fixa, Meirelles, da InvestSmart XP, diz que os títulos prefixados podem ser mais arriscados do que se pensa. Por isso, diante do contexto, avalia que investimentos com rendimento atrelado à inflação, como as NTN-Bs, podem ser uma opção mais adequada a quem não tem perfil arrojado.

— Há prefixados pagando 8,50% para um prazo muito longo, e a gente não sabe o que pode acontecer — explica. — Quando a taxa de juros era 2%, muita gente investiu com taxa fixa de 8%. Mas a Selic chegou a 13,75%. É muito risco.


Fonte: O GLOBO