Apelido vem do desenho Pernalonga; mas passado da atacante é marcado por perdas e pela superação

Seja pelo nome ou pelo apelido, Khadija Shaw (ou Bunny Shaw) é certamente a jogadora mais comentada na pauta da seleção brasileira nos últimos dias. Se quiserem seguir em frente na Copa do Mundo Feminina 2023, as atletas e a comissão técnica de Pia Sundhage sabem que precisam anular a jamaicana de 26 anos, principal arma da adversária desta quarta-feira, pela terceira e última rodada da fase de grupos.

Shaw é o pilar da seleção jamaicana. Com 56 gols, ela é a maior goleadora entre homens e mulheres da história do time nacional. Foi desde sua ascensão que as Reggae Girlz mudaram de patamar: conseguiram uma classificação inédita para a Copa de 2019, na França; e repetiram a dose na edição deste ano (sempre com um terceiro lugar no Campeonato Feminino da Concacaf).

A atacante vive o auge de sua carreira. No ano passado, foi eleita a jogadora do ano pela Concacaf. Nesta temporada, soma 31 gols em 31 jogos pela seleção e por seu clube, o Manchester City, que defende desde 2021.

Na última Women's Super League, foi eleita a melhor jogadora do mês duas vezes. Com um total de 20 gols, terminou em segundo lugar na artilharia do campeonato. Já na Copa da Liga ela foi a maior goleadora, com sete marcados.

Sua estreia na Copa da Austrália e da Nova Zelândia não foi como esperava. Recebeu um cartão vermelho no 0 a 0 contra a França e precisou cumprir suspensão contra Panamá. As jamaicanas sentiram sua falta. O time venceu pelo placar mínimo a adversária, considerada o saco de pancadas do grupo.

Sua volta contra o Brasil é a grande aposta da Jamaica. E pará-la não será das tarefas mais fáceis para Pia. Isso porque nem mesmo as adversidades da vida conseguiram segurar a atacante.

Num país em que o atletismo reina como esporte mais popular, o futebol masculino não tem muito apelo. Muito menos o feminino. Além da falta de estrutura, havia ainda a dureza da realidade extracampo. Shaw perdeu quatro irmãos, sendo três para a violência urbana da Jamaica e um por acidente de carro.

Para ter o apoio dos pais para seguir jogando mesmo sem perspectiva de futuro, ela concordou que nunca deixaria suas notas na escola baixarem. Cumpriu o prometido e seguiu nos campos.

- Eu me lembro que um dia fiquei enfurecida e disse: "Mãe, você nunca vai saber: Posso ser aquela que irá mudar o futebol na Jamaica" - recordou-se em entrevista ao site oficial do Manchester City.

O tempo tratou de mostrar que ela estava certa. Logo começou a ser chamada para as seleções de base. E, entre um gol e outro, chamou a atenção das universidades americanas. Nos EUA, formou-se em Comunicação e se tornou um fenômeno do futebol universitário. Até que, em 2019, quando já brilhava pela seleção principal, o Bordeaux abriu as portas do profissionalismo para a atacante.

Foram 34 gols e oito assistências em 36 partidas nas duas temporadas pelo clube francês. De lá, mudou para o City, onde seus números cresceram. Já são 50 gols e 15 assistências em 59 jogos desde sua chegada à equipe inglesa.

A pontaria não é seu único talento. Shaw também tem velocidade e sabe jogar pelas pontas, fazendo a função de ala se preciso. E ainda ajuda na marcação.

O Bunny vem de "Bugs Bunny", o nome em inglês do coelho Pernalonga, da série de desenhos Looney Tunes. Mas não é pela velocidade. É que, quando criança, Shaw era sempre vista comendo cenouras. Herdou as vitaminas do legume e um apelido para ninguém nunca se esquecer dela.


Fonte: O GLOBO