Não é raro, após a cirurgia, que os pacientes substituam a compulsão pela comida por compras, remédios, álcool ou jogos. Daí a importância do acompanhamento psicológico no pré e pós-operatório
No início de agosto, a cantora Jojo Toddynho se submeteu a uma cirurgia bariátrica, apesar de negar que faria qualquer procedimento invasivo para emagrecer. A artista compartilhou em suas redes sociais sua rotina de exercícios físicos diários, alimentação balanceada e uso de medicação. Perdeu cerca de 25 kg e, então, fez a redução de estômago com o propósito de melhorar a saúde e ser mãe, segundo ela, um dos seus maiores sonhos.
Também conhecida como cirurgia metabólica, é indicada para pacientes com obesidade grave e/ ou com comorbidades como hipertensão, diabetes, colesterol alto. Consiste na redução do tamanho do estômago realizada por meio de videolaparoscopia. O estômago de pessoa não operada tem entre 1,5 a 2 litros de capacidade; com a técnica, a capacidade é reduzida para 20 a 200 ml. O emagrecimento ocorre porque o paciente não consegue se alimentar com a mesma quantidade que antes, além de inibir a secreção da grelina, hormônio da fome.
Acompanho muitos pacientes bariátricos no consultório e afirmo que a mudança não é fácil. O primeiro desafio é saber se o paciente é um bom candidato à bariátrica e, para isso, o médico faz a avaliação baseado em quatro critérios: índice de massa corporal, idade, doenças associadas e tempo de doença. Também é feita a avaliação psicológica a fim de verificar se não há algum transtorno mental além de poder identificar gatilhos, crenças e padrões de comportamento que podem prejudicar o paciente na busca de seu objetivo.
A cirurgia, como qualquer outra, apresenta riscos, o que muitas vezes requer o emagrecimento prévio para minimizá-los, como ocorreu com a Jojo. Uma vez operado, o paciente lidará com as privações. As duas primeiras semanas consistem em uma dieta líquida, em porções equivalentes a um copinho de café, várias vezes ao dia. A alimentação evolui em consistência e diversidade alimentar durante 2 a 3 meses até chegar a uma alimentação habitual, porém com quantidades muito reduzidas.
Percebe-se, portanto, que a relação com a comida é atingida diretamente. Disse, em outra coluna, sobre os tipos de fome e a fome emocional, aquela em que o ato de comer envolve uma situação emocional específica, boa ou ruim, em que o “alimentar-se” representa uma “compensação” ou um “merecimento”, não é diminuída pela cirurgia. O transtorno da compulsão alimentar, caracterizado pela ingestão descontrolada de grande quantidade de alimentos, sem apetite e quase sem mastigar, também não é controlado pela cirurgia. Esses são dois exemplos de comportamentos que podem levar o paciente a complicações no pós-operatório além de dificultar o sucesso do tratamento.
Não é raro, após a cirurgia, que os pacientes substituam a compulsão pela comida por compras, remédios, álcool ou jogos. É importante salientar que a cirurgia não causa compulsão e sim redireciona por já apresentar tal comportamento. Daí a importância do acompanhamento psicológico no pré e pós-operatório da intervenção.
A mudança nos hábitos alimentares é fundamental em todas as etapas do tratamento. No pré-operatório, tem o objetivo de reduzir risco de infecção, complicações e tempo de internação. No pós-operatório, além de orientação em relação à consistência da dieta e tipos de alimentos, é importante o uso de suplementos alimentares. Pode ocorrer o enfraquecimento dos fios de cabelo, pele e unhas, perda importante da massa muscular, anemia, fraqueza e cansaço, isso porque é comum a deficiência de proteína, ferro, zinco, cálcio, vitamina D e vitaminas do complexo B.
A cirurgia bariátrica é uma das técnicas mais usadas para o emagrecimento e que apresenta bons resultados quando indicada pelo médico, mas não é mágica em que você dorme gordo e acorda magro. Para isso, é necessário modificar estilo de vida que inclui alimentação, atividade física e acompanhamento
Fonte: O GLOBO
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