Nos encontros que teve na semana passada com autoridades do Supremo e do Congresso para falar sobre suas escolhas para o Judiciário, Luiz Inácio Lula da Silva ouviu bastante, mas também passou alguns recados.

O primeiro deles era quanto ao cronograma que Lula tem em mente para as nomeações. De acordo com o plano que ele expôs aos interlocutores, primeiro virão as escolhas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), de preferência já nesta semana.

A seguir, o novo Procurador-Geral da República (PGR), em substituição a Augusto Aras. Já o escolhido para o lugar de Rosa Weber no Supremo só será conhecido depois que Lula voltar de Nova York, para onde viaja no próximo dia 16 para a Assembleia Geral da ONU.

Para o STJ, já há uma lista de quatro nomes eleitos pelo tribunal, a partir da qual Lula escolherá os dois novos ministros. No encontro com Lula, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aproveitaram para pedir pelo desembargador mineiro Afrânio Vilela para o STJ e por Paulo Gonet para a PGR.

Conforme mostrou a coluna, os dois fecharam um acordo antes da conversa com Lula pelo qual Moraes apoiaria Vilela para o STJ, e em troca Pacheco endossaria o subprocurador Paulo Gonet para a PGR – deixando para trás o próprio Aras, que tenta a recondução.

Para Moraes, que tem enfrentado a oposição da PGR nos inquéritos contra Jair Bolsonaro, é importante conseguir que o novo procurador-geral seja um aliado. Nesse quesito, Gonet, que é o vice-procurador eleitoral, é a melhor oposição para o ministro do Supremo.

Gonet, aliás, é o candidato do coração de Gilmar Mendes, que vem fazendo lobby por seu favorito sempre que tem chance de se encontrar com o presidente.

De acordo com os relatos que fizeram a interlocutores, Pacheco, Moraes e Gilmar saíram da conversa com Lula com a impressão de que o presidente está entre Gonet e o subprocurador Antonio Carlos Bigonha, apoiado pelo PT, para a PGR.

Mas embora Lula não tenha dado nenhum sinal mais enfático de sua preferência, uma coisa pareceu bem definida a quem o ouviu falar: diferentemente do que fez na escolha de Cristiano Zanin para o Supremo, o presidente não vai esperar Augusto Aras se aposentar para indicar seu substituto.

Tudo porque, caso Lula não decida, assume como interina a subprocuradora da República Elizeta Ramos – respeitada pelos pares, mas uma desconhecida para o presidente.

De acordo com o que os ministros vem dizendo sobre a conversa com Lula, o objetivo é que o nome do próximo PGR seja conhecido antes de Aras deixar o cargo, mesmo que ainda leve um tempo para o escolhido ser sabatinado pelo Senado, de forma a não abrir espaço para que Elizeta se torne ela mesma uma candidata assim que assumir o posto.

"Uma vez no cargo, o temor é de que ela já comece a agir para ficar. E com o novo PGR escolhido, mesmo sem sabatina, o eixo de poder já se desloca", diz um aliado de Gonet.

Já um último recado de Lula, sobre a nomeação do Supremo, provocou entendimento diferente conforme o interlocutor.

Nas duas conversas, ao falar sobre a escolha para o Supremo, o presidente preferiu lançar o nome do ministro da Justiça, Flávio Dino, como possibilidade, ao invés de dar uma pista mais concreta sobre os dois candidatos que se acreditava estarem na frente na preferência do presidente: o presidente do TCU, Bruno Dantas e o advogado-geral da União, Jorge Messias.

De acordo com uma interpretação, Lula quer colocar Dino no cargo e jogou o balão de ensaio para ver a reação e dos ministros – já sabendo, claro, que o conteúdo do papo iria vazar para a imprensa.

Outra avaliação que emergiu das conversas é diametralmente oposta: Lula já teria decidido por um dos dois, Bruno ou Messias, e jogou no ar o nome de Dino por saber que ninguém falaria contra o ministro da Justiça.

Assim, colocou para teste o sangue frio dos concorrentes e ergueu uma barreira contra eventuais tentativas de pressioná-lo e obrigá-lo a abrir, agora, mais informações do que gostaria.

Qualquer que fosse o objetivo, Lula conseguiu o que queria. Depois das conversas, o nome de Dino surgiu na imprensa como favorito. Já os outros candidatos saíram em busca de reassegurar seus apoios – Dantas, nos bastidores, e Messias, de forma um pouco mais exposta. E Lula ganhou algum sossego para decidir.


Fonte: O GLOBO