O que começou como queda de braço partidária virou caso de família
Divergências familiares e uma sucessão de viradas de mesa — que culminaram em uma acalorada discussão durante evento no Rio, com direito a gritos e dedo no rosto — são pano de fundo de um processo de derretimento do PDT naquele que, hoje, é seu principal reduto. Com raízes históricas no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, ambos os estados governados por Leonel Brizola, a sigla montou quartel-general no Ceará desde a filiação dos irmãos Ciro e Cid Gomes, em 2015.
Na eleição seguinte, Cid chegou ao Senado e Ciro teve seu melhor desempenho numa disputa presidencial. A reboque dos irmãos, o PDT elegeu o maior número de prefeitos do Ceará em 2016, com 52, e cresceu em 2020, com 68.
Desde então, uma discórdia sobre renovar a aliança com o PT no estado, posição defendida por Cid, ou fazer oposição irrestrita à sigla de Lula, o que é advogado por Ciro, rachou o PDT em dois grupos, hoje entrincheirados na briga por influência interna. E o que começou como queda de braço partidária virou caso de família em 2022.
Ciro se irritou com a falta de apoio de Cid ao candidato que escolheu para disputar o governo do Ceará, Roberto Cláudio. Embora Cid pedisse votos para o irmão, sua ausência em atos de campanha de Ciro no Ceará, nos quais Cláudio estava presente, fez o presidenciável acusá-lo de “traição”, rótulo que o senador não aceita.
O cenário conflagrado levantou o temor de uma debandada de prefeitos pedetistas antes das eleições de 2024, ligando o sinal de alerta do ministro da Previdência — e presidente nacional licenciado do PDT — Carlos Lupi. No início do ano, Lupi se propôs a articular uma adesão do partido ao governo petista no Ceará, o que agradaria a Cid e aos prefeitos do interior, mantendo a oposição ao PT em Fortaleza, principal capital governada pelo PDT, o que agradaria a Ciro.
Por desconfianças mútuas, a proposta não agradou a nenhum dos lados. Ao assumir interinamente o diretório estadual, em julho, Cid deu fôlego à ala majoritária do partido no Ceará, que se aproxima do PT. O grupo de Ciro buscou um freio de arrumação, abrindo uma série de ações judiciais que só tornaram o ambiente interno mais nebuloso.
O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, já puxou a fila de desfiliações. Ele busca se cacifar para concorrer à prefeitura de Fortaleza, agora contra o PDT. Até 2024, a dúvida é quantos pedetistas seguirão o mesmo caminho.
Fonte: O GLOBO
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