É preciso gerar ações de proteção e inclusão social, empregabilidade e, sobretudo, real reciprocidade de compreensão entre gerações
Os dados do último censo brasileiro ratificaram o que já vínhamos acompanhando em nosso país, em diferentes pontos de observação e indicadores demográficos, ou seja, a óbvia redução de nossa taxa de fecundidade, mesmo entre as camadas menos favorecidas, e o envelhecimento da nossa população, e ainda, por razões ligadas à maior mortalidade entre homens, a predominância de mulheres no quadro atual.
Somos pouco mais de 203 milhões de brasileiros, com marcadas diferenças regionais de distribuição etária, natalidade e sobretudo de inclusão social. Somos 22,169.101 pessoas com mais de 65 anos, representando 11% da população, e uma alta de 57,4% a mais do que no censo de 2010, quando esse contingente era de 7.4% da população. As mulheres somos 51,5%, sendo 6 milhões a mais do que homens.
Como vamos reagir ao fato que em 2050 seremos um país de idosos, frente às necessidades que se impõem, sendo a nossa sociedade tão diferente por exemplo, da asiática, melhor exemplificando, da japonesa, onde existe cuidado e genuíno respeito pelos mais velhos e não uma mera comiseração porque seriam coitados e carentes?
Termos que se tornaram familiares à nossa linguagem cotidiana, como longevidade, pessoa idosa (por que não velho, simplesmente?), etarismo, acessibilidade, mais que mera retórica coloquial, se tornaram categorias de definição de costumes, preconceito muitas vezes, mesmo travestidos de “necessidades especiais” e pretensiosos enquadramentos que não contemplam a real exigência de uma linha de cuidados integral, que nasça do reconhecimento dessa nova realidade e se paute pela prevenção e assistência de doenças relacionadas à idade, e adaptação de locais, transportes, moradias, para todas as pessoas de mais idade.
Numa sociedade excludente como a nossa, e frente às flagrantes desigualdades sociais, mesmo diante de uma demografia tão clara, e sabedores de que a biotecnologia, além de ser tão rentável, como sabermos que o é, quer na produção de fármacos, métodos diagnósticos, próteses e órtese, cada um desses ramos tem seu valor agregado assegurado, quando o consumo é certo, sobretudo quando é inovador.
Entretanto toda essa indústria do envelhecimento só se justificaria, de par com o que gera de recursos e lucro, se se pautasse por claras noções de amparo e inclusão, porque afinal de contas, sabemos que o cérebro humano permanece arguto e produtivo intelectualmente aos 70-75 anos, mesmo que com limitações físicas, eventualmente.
Cabe muita criatividade além de ações concretas nas políticas de saúde e na seguridade social, a serem direcionadas a essas pessoas todas, mais do que meramente a “essa faixa etária”, como uma quase abstração.
Cabe muita criatividade além de ações concretas nas políticas de saúde e na seguridade social, a serem direcionadas a essas pessoas todas, mais do que meramente a “essa faixa etária”, como uma quase abstração.
A oportunidade de ações tão simpáticas e eficientes, como vimos recentemente, feitas em praças públicas, por grupos de médicos, em alerta quanto ao AVC (acidente vascular cerebral), reuniu centenas de pessoas.
Explicando em linguagem acessível o que são os fatores predisponentes, uso de medicamentos propiciadores, e inclusive, o que quer dizer TVP que sendo trombose venosa profunda, condição clínica de risco, pode até ser confundido com “terapia de vidas passadas”, na inocente ignorância leiga, seguramente ajudou muita gente. Ações como essas merecem respaldo das políticas públicas sem dúvida
Simone de Beauvoir (1908-86) quando escreveu A velhice, em 1970, o fez determinada a quebrar a conspiração do silêncio que à época ainda não aceitava transgredir sua tranquilidade do viver a vida, numa sociedade de consumo (aliás muito menos do que a atual movida pelo suntuário e pelo efêmero), que “abrigada por mitos de expansão e de abundância trata os velhos como párias”, num país como a França, que então tinha a população acima de 65 anos, mais elevada do mundo.
Simone de Beauvoir (1908-86) quando escreveu A velhice, em 1970, o fez determinada a quebrar a conspiração do silêncio que à época ainda não aceitava transgredir sua tranquilidade do viver a vida, numa sociedade de consumo (aliás muito menos do que a atual movida pelo suntuário e pelo efêmero), que “abrigada por mitos de expansão e de abundância trata os velhos como párias”, num país como a França, que então tinha a população acima de 65 anos, mais elevada do mundo.
A obra chama a atenção de modo contundente e sobretudo pioneiro, para a necessidade de quebrar a inércia fática sobre o número de velhos, romper com a cômoda moral humanista que professam os bem-intencionados e gerar ações de proteção e inclusão social, empregabilidade e sobretudo uma real reciprocidade de compreensão entre gerações.
Fonte: O GLOBO
Fonte: O GLOBO
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