Menos preso ao lado direito, o camisa 7 reassumiu protagonismo na criação e na condução de bola. Apontado como futuro treinador rubro-negro, Tite utilizava o meia de maneira similar na seleção

Durante a vitória contra o Bahia, por 1 a 0, no último sábado, Everton Ribeiro foi um dos destaques do jogo no Maracanã. Na primeira partida após a demissão de Jorge Sampaoli, o treinador foi o interino Mário Jorge, que não fez alterações bruscas na formação, mas foi responsável por algumas mudanças de comportamento da equipe.

Com atuações de inspirações diferentes nos dois tempos, o rubro-negro saiu com os três pontos, graças ao gol de Pedro, de pênalti. Um dos jogadores que teve maior salto de qualidade na comparação com as última partidas foi justamente o camisa 7. Em meio a negociações para uma possível renovação de contrato, foi aplaudido pela torcida ao deixar o campo.

Em uma formação com quatro meias, que teve Gerson como jogador mais avançado em relação a Erick Pulgar e Thiago Maia, também caindo pela esquerda, Everton assumiu o comando das ações pela direita.

O atleta apresentou seus melhores momentos na partida acionando Wesley em ultrapassagens por aquele corredor, ou puxando a bola para o meio e vendo as jogadas de frente. Pulgar foi outro que conversou bem com Everton em suas infiltrações na área. Além disso, ele finalizou uma vez no gol, e até aplicou um chapéu — para trás, mas que lembrou suas melhores jogadas de efeito.

Destaque do primeiro tempo, o desempenho do meia teve uma queda no segundo, quando o esquema sofreu alterações feitas pelo técnico, e ele passou a atuar mais preso no meio. Aliado a isso, o cansaço é um fator natural para um atleta de 34 anos.

Mesmo assim, só foi substituído aos 44 minutos da etapa final, para entrada de Victor Hugo. O reconhecimento das arquibancadas veio por causa de um jogo que lembrou seus melhores momentos, algo que sequer estava próximo de acontecer em tempos recentes.

Números de Everton Ribeiro contra o Bahia
  • Minutos jogados 88
  • Finalizações (Certas) 1 (1)
  • Aproveitamento de passes 84%
  • Passes decisivos 3
  • Dribles totais 1 (1)
  • Faltas sofridas 2
Fonte: Sofascore

Ainda é cedo para dizer, com toda certeza, que Everton Ribeiro se reencontrará automaticamente por causa da saída de Sampaoli. Contudo, alguns indícios positivos foram vistos após a partida do sábado. Não é a primeira vez que esse roteiro se desenrola.

Em 2022, quando Paulo Sousa era o treinador do Flamengo, o meia passou por um de seus períodos de maior questionamento dentro do clube. Houve até uma ocasião em que ele foi testado para atuar como ala esquerda, fugindo totalmente da sua natureza.

Umas das semelhanças entre as eras do argentino e do português no Ninho do Urubu estavam na forma como enxergavam a função de Everton. Quando muito preso à lateral, como eles insistiam em fazer, sua melhor característica de conduzir a bola e flutuar por dentro é desperdiçada.

No final do ano passado, Dorival Júnior soube ler isso e recolocar o camisa 7 em seu lugar de maior rendimento. Tendo mais responsabilidades na criação, levando sempre da direita para o meio, foi um dos principais nomes do time que ganhou a Libertadores e a Copa do Brasil. Não à toa, foi convocado para o grupo da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo no fim do ano.

Como Tite utilizaria Everton Ribeiro?

Durante o ciclo de Tite na seleção, Everton atuou em 16 jogos, marcando três gols e contribuindo com uma assistência. Apesar de não ter tido uma grande frequência de minutos, sua função era clara e alinhada com suas características, quando estava em campo.

O treinador trabalhava com um trio ofensivo e uma dupla de meias na armação, conduzindo a bola que chegava dos laterais e dos volantes. Everton fazia o papel justamente do armador pela direita, onde tem mais liberdade para criar e pouca necessidade de ficar preso ao lado.

Caso Tite realmente venha a assumir o Flamengo, deve pedir que o atleta permaneça. Não apenas teria um papel de liderança importante para ele se relacionar melhor com o grupo, mas também poderia oferecer uma função cerebral primordial, baseado no que eles já apresentaram jogando juntos.

Ribeiro é um jogador de características difíceis de serem encontradas no mercado atual e, apesar da idade, dá sinais de que pode se manter com um jogo de qualidade. Independentemente do treinador que chegar ao Flamengo, este precisar enxergar isso, para ter o melhor Everton e um time que cria com mais naturalidade. Em apenas uma partida, e quase sem fazer grandes alterações, Mário Jorge mostrou que sabe esse caminho.


Fonte: O GLOBO