Porto Velho, RO - Aos 35 anos, o empresário e ex-deputado de centro-direita Daniel Noboa realizou o sonho de seu pai e se tornou o presidente mais jovem da história do Equador. Após uma das campanhas mais conturbadas do país, com eleições antecipadas e um presidenciável assassinado, o liberal venceu o segundo turno neste domingo (15).

Com quase 90% das urnas apuradas, ele contabilizou 52% dos votos válidos, contra 48% de Luisa González, candidata de esquerda ligada ao ex-presidente Rafael Correa, que comandou a nação por uma década entre 2007 e 2017 e hoje está asilado na Bélgica após ser condenado por corrupção e se dizer perseguido.

O ex-deputado e empresário Daniel Noboa vestindo colete à prova de balas durante ato de campanha em 11 de outubro em Quito, no Equador - Rodrigo Buendia - 11.out.2023/AFP

Noboa é filho do "magnata das bananas" Álvaro Noboa, empresário e político que já tentou concorrer ao cargo cinco vezes, três delas contra Correa. A Folha mostrou nesta quinta (12) que ele herdou do pai ao menos duas empresas em paraíso fiscal, o que é proibido pela lei equatoriana, mas isso não o impediu de competir.

Este será o terceiro governo seguido de direita ou centro-direita no Equador, depois dos dez anos de correísmo. Antes vieram Lenín Moreno (2017-2021) —que foi vice de Correa porém rompeu os laços logo após chegar à Presidência— e o atual presidente e ex-banqueiro Guillermo Lasso.

Lasso não conseguiu governar sem o apoio da força de esquerda na Assembleia Legislativa e foi alvo de dois processos de impeachment. Para evitar o último deles, em maio, decretou a chamada "morte cruzada", dissolveu a Casa e convocou estas eleições antecipadas, organizadas às pressas.


Noboa, portanto, só governará por cerca de um ano e meio, até 2025. Ele deve assumir na primeira semana de dezembro, mas ainda não há uma data confirmada. É um tempo considerado curto para lidar com a séria crise de segurança enfrentada nas ruas e prisões do país, que culminou no assassinato do presidenciável Fernando Villavicencio 11 dias antes do primeiro turno, em agosto.

Sete colombianos acusados pelo crime foram enforcados em duas prisões no último dia 7, gerando uma nova crise institucional e levando Lasso a trocar toda a cúpula policial do país. Ainda não se sabe quem são os mandantes da morte, pelos quais os EUA estão oferecendo uma recompensa de US$ 5 milhões (R$ 25 milhões).


A candidata de esquerda Luisa González vota usando colete à prova de balas e sob escolta de militares em Guayaquil, no Equador Alejandro Baque/Thenews2/Folhapress

Antes considerado um país seguro, o Equador viu a guerra entre narcotraficantes explodir nos últimos dois anos, triplicando sua taxa de homicídios. Isso ocorreu num contexto de aumento da produção global de cocaína, que tornou os estratégicos portos do país mais relevantes na rota aos Estados Unidos, à Europa e à Ásia.

Nessa área, principal preocupação dos equatorianos, Noboa já disse que pretende criar "prisões-barco" para isolar os detentos mais perigosos. Ele também fala em endurecer a repressão a organizações criminosas e equipar as polícias, mas não deu muitos detalhes de como pretende colocar os planos em prática.

Ele focou boa parte de sua campanha em promessas de criação de empregos e oportunidades para os jovens.

Até o primeiro turno, o empresário era uma figura relativamente desconhecida. Seu bom desempenho no debate presidencial prévio, porém, o fez ultrapassar os adversários de direita e centro-direita e conquistar o segundo lugar atrás de Luisa González. Agora, ele angariou grande parte dos votos dos candidatos que ficaram pelo caminho e também do anticorreísmo, segundo analistas.

Noboa nasceu em Guayaquil, cidade mais populosa do país, e construiu boa parte de sua carreira no setor privado. Se formou em administração de empresas na Universidade de Nova York e cursou três mestrados nos Estados Unidos, incluindo em Harvard.

Fundou sua própria empresa de eventos aos 18 anos e, mais tarde, foi trabalhar no conglomerado do pai, que atua no atacado de importações e exportações em diversos setores, até chegar ao posto de diretor comercial. Em 2021 foi eleito deputado federal, tendo uma atuação discreta.

Com um governo atual de direita que angaria uma das piores avaliações entre presidentes latino-americanos, Noboa evita se colocar nesse lado do espectro político. Prefere a palavra progressista e já chegou a dizer que é de centro-esquerda. "Os analistas querem me colocar numa direita que nesse momento tem sido bastante ineficiente e que não creio que vá ganhar essas eleições", disse.

Além da crise na segurança, ele terá que lidar uma alta taxa de empregos informais, que atinge os 52% dos postos de trabalho ocupados no país —cifra que gira em torno de 40% no Brasil. Já a pobreza atingiu em dezembro 27% da população, nível mais alto que no pré-pandemia, período em que o Equador sofreu bastante economicamente.

Esses fatores, somados à piora da violência, levaram a um aumento das tentativas de migração legal e ilegal a outros países, principalmente aos EUA. Recentemente, os equatorianos se tornaram, atrás dos venezuelanos, a segunda nacionalidade que mais se arrisca a atravessar a perigosa selva de Darién, no Panamá.