'Saber que perdi uma filha tão nova, tão boa, com requintes de crueldade tão grandes... por que fizeram isso?', desabafa a mãe, Josefa Nascimento, em entrevista ao GLOBO
"Eu não tenho como lidar com isso", lamenta Josefa da Silva Nascimento, de 48 anos. Pouco mais de uma semana após a morte da filha, Carolayne Nascimento Barcelos, de 25 anos, assassinada a tiros dentro do próprio carro no bairro de Divinópolis, na Serra, Região da Grande Vitória (ES), a mãe conta que continua passando noites em claro tentando assimilar o que aconteceu.
As primeiras informações eram de que a jovem havia sido alvejada por assaltantes ligados ao tráfico de drogas da região, que teriam se irritado quando ela não abaixou os vidros do veículo, que estavam emperrados. Esta versão já foi descartada, e uma hipótese que surgiu para a Polícia Civil é de que ela tenha sido vítima de uma execução.
Muito emocionada, Josefa revela, em breve contato, a última conversa que teve com a filha. Ela disse que estava no estacionamento de um mercado com uma amiga — "ela queria comprar uma carne para fazer no airfryer lá de casa" —, no último dia 25 de outubro, portanto três dias antes do crime, quando sentiu um desconforto no peito e um sentimento de que algo ruim poderia acontecer com Carolayne.
— Foi me dando uma tristeza e eu resolvi mandar uma mensagem para a Carol, perguntando se ela estava bem. Eu estava sentindo um vazio muito grande no peito, como se eu sentisse que poderia perdê-la. Ela disse que estava bem e que me avisaria quando estivesse voltando para casa. A rotina dela era sempre muito corrida. Essa foi a última vez em que eu falei com a minha filha.
Muito emocionada, Josefa revela, em breve contato, a última conversa que teve com a filha. Ela disse que estava no estacionamento de um mercado com uma amiga — "ela queria comprar uma carne para fazer no airfryer lá de casa" —, no último dia 25 de outubro, portanto três dias antes do crime, quando sentiu um desconforto no peito e um sentimento de que algo ruim poderia acontecer com Carolayne.
— Foi me dando uma tristeza e eu resolvi mandar uma mensagem para a Carol, perguntando se ela estava bem. Eu estava sentindo um vazio muito grande no peito, como se eu sentisse que poderia perdê-la. Ela disse que estava bem e que me avisaria quando estivesse voltando para casa. A rotina dela era sempre muito corrida. Essa foi a última vez em que eu falei com a minha filha.
Carro de Carolayne foi atingido por vários disparos: hipótese de assalto foi descartada pela polícia — Foto: Reprodução
"Oi, Carol, está tudo bem com você?", pergunta a mãe. "Ei, está, por quê?", responde Carolayne. "Não sei. Cuidado. Estou com mal pressentimento. Horrível. Está queimado e repreendido em nome de Jesus. Quando for embora, vai devagar e vigia, está bom? qualquer coisa me liga". A jovem então diz que está tudo bem, apenas a rotina que "está corrida".
Último diálogo entre mãe e filha, segundo Josefa, aconteceu três dias antes da morte de Carolayne. Mãe mostrava preocupação — Foto: Arquivo pessoal
A mãe, que não acredita que a jovem tenha sido vítima de uma emboscada de assaltantes, reforça o pedido por respostas para o crime.
— É difícil aceitar a perda de um filho. A minha filha era tudo para mim. Eu não estou trabalhando, não tenho forças para fazer nada. Durmo e acordo pensando nela. Não como, só choro. Eu só sei chorar. Vou no cemitério e choro. Só Deus sabe o que eu estou sentindo. Saber que perdi uma filha tão nova, tão boa, com requintes de crueldade tão grandes.
E uma pergunta que não tem resposta: por que fizeram isso com a minha filha? Mas, infelizmente, minha filha se foi... acabou — e acrescentou. — Hoje eu temo pela minha vida e pela vida do meu filho (irmão mais novo de Carolayne).
Carolayne e a mãe, Josefa: mãe lembra com carinho dos momentos com a filha — Foto: Arquivo pessoal
Suposto histórico de brigas com irmã e madrasta por negócios do pai
No enterro da jovem Carolayne, no último dia 29 de outubro, foi levantada pela família, em declarações dadas à imprensa, uma suspeita surpreendente em relação à irmã da jovem por parte de pai. Nos últimos dias de vida, a vítima teria se queixado por diversas vezes de ameaças e intimidações feitas pela irmã e teria declarado que estava com medo de morrer. Até agora, não há informação de que a delegacia tenha chamado essas pessoas para depor.
A reportagem apurou com pessoas próximas à jovem, e que preferem não se identificar, que havia uma espécie de racha em família envolvendo a madrasta e a irmã contra Carolayne. Isso porque o pai teria delegado à jovem a responsabilidade por administrar suas lojas de marcenaria e de placas de publicidade, o que não teria agradado as mulheres.
Boletins de ocorrência aos quais O GLOBO teve acesso, datados de 2020 e 2022, mostram que a garota já vinha recebendo investidas das duas. Os nomes não serão revelados porque a reportagem não conseguiu contato com a defesa delas.
Boletim de ocorrência feito no ano passado mostra que Carolayne denunciou irmã e madrasta por ameaças e xingamentos racistas — Foto: Imagem cedida
A reportagem questionou a Polícia Civil sobre as suspeitas levantadas pelas pessoas próximas a Carolayne e, também, sobre o porquê de a mãe da jovem ainda não ter sido chamada para depor sobre o caso. Em nota, a instituição afirmou que o caso segue sob investigação da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM) e acrescentou:
"É importante esclarecer que a Divisão de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM) é a unidade da Polícia Civil responsável por investigar todos os homicídios e tentativas de homicídios contra mulheres cometidos na Grande Vitória. Ou seja, investiga feminicídios e também homicídios com outras motivações".
A nota prossegue dizendo que o crime ocorreu na madrugada daquele sábado e, "imediatamente, a equipe do plantão do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP) iniciou as diligências, que prosseguem em andamento". Segundo a delegacia, "os detalhes não são divulgados nesta fase do procedimento pois é necessário preservar a investigação".
Na semana passada, o secretário de Estado de Segurança Pública do Espírito Santo, coronel Alexandre Ramalho, disse que nenhuma linha de investigação estava descartada.
— Nós não descartamos nenhuma linha de investigação, nesse sentido estamos trabalhando com a Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção a Mulher (DHPM), na pessoa da delegada Raffaella, com a DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à pessoa (DHPP) de Serra, na pessoa do delegado Sandi Mori, e também os efetivos das polícias Civil e Militar de outros locais que estarão atuando massivamente ali em Divinópolis — disse.
Fonte: O GLOBO
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